Começo de 2019, é hora das resoluções e estabelecimento de metas. Compartilho alguns desejos que gostaria que se tornassem realidade em algumas das plataformas digitais no Brasil:
- Respeito às leis brasileiras.
As grandes plataformas digitais como Facebook, Instagram, Google, YouTube, Twitter mantém apenas escritórios comerciais no Brasil e tem uma péssima central de atendimento aos usuários. Se você, em algum momento, tiver o seu nome envolvido e for prejudicado por textos ou posts ofensivos nas redes sociais, prepare-se para enfrentar uma via-crucis. A alegação destas plataformas é que não têm sede no Brasil e que só seguem a legislação de seus países de origem.
Aguardamos para que a justiça brasileira consiga se impor em relação a estas plataformas e esteja ao lado dos cidadãos que se sentirem civil, societária ou criminalmente prejudicados.
- Respeito à mídia brasileira: produção de conteúdo tem valor.
No início, os veículos de mídia profissionais vislumbraram nas redes sociais uma excelente oportunidade para estar ao lado de seus usuários e conquistar novos – em uma imensa banca digital. No entanto, a mudança nos algoritmos do Facebook há um ano passou a dar menos destaque aos conteúdos produzidos pela mídia profissional e teve como consequência a redução do trafego que era gerado da rede social para os veículos de mídia. Mark Zuckerberg e Sheryl Sandberg cometeram um erro grave ao equipararem os jornais e revistas às demais marcas empresariais. A mídia é fundamental para a democracia e para uma sociedade mais equilibrada. Negócios sustentáveis não podem depender de parceiros que mudam de regras constantemente.
Ainda que a mídia brasileira erre muito ao não entender os movimentos e transformações da sociedade, é um dos negócios mais sofisticados e importantes para a sociedade. É preciso buscar uma solução para que as plataformas digitais cooperem com este setor que produz um bem valioso – que é o conteúdo.
Recentemente foi lançada uma nova rede social, a Candowell, que promete este tipo de cooperação.
- Respeite aos dados dos cidadãos.
Foi preciso que os reguladores na Europa determinassem aquilo que todos intuíam: os dados que são gerados pelos usuários são dos usuários e não das plataformas. Conhecida como GDPR (Regulamento Geral de Proteção de Dados), o regulamento europeu serviu de base para a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), instituído pelo governo brasileiro no dia 14 de agosto de 2018. A nova lei estabelece responsabilidades, direitos e deveres sobre os dados dos usuários.
- Respeito à privacidade dos usuários
No filme “Minority Report”, o ator Tom Cruise é identificado pelo esquadrinhamento de sua íris ao entrar em um shopping center. No futuro, poderemos fazer compras e entrar em estabelecimentos sem que haja a necessidade de sacar o cartão ou passar pelo chech-out. Esta é a face amigável. No entanto, os usuários não aguentam mais receber dezenas de e-mails, telefonemas ou outras estratégias de marketing invasivas. Até pouco tempo atrás os visionários de marketing enterraram os anúncios de 30 segundos na TV dizendo que eram “interruptivos” e que os consumidores não querem mais isso. No entanto, o que eles propõem em contrapartida é ainda mais invasivo.
A paranoia do momento é sabe se as nossas conversas estão sendo monitoradas por algum robô mesmo com o celular desligado ou a câmera do computador desabilitada. Até onde os direitos de privacidade continuarão sendo usurpados?
- Trabalho decente para coibir as fake News
Primeiro comecei a receber vídeos-denúncias no Whatsapp. Depois eles começaram a chegar de todos os lados. Espero que em 2019 as plataformas digitais façam direito a sua lição de casa e identifiquem os autores e os robôs metralhadores de fake News.
- Pagamento de taxas condizentes com a exploração do mercado
Como pode uma empresa que tem receitas próximas a 1,5 bilhão de Reais, ser a segunda maior operação de assinatura de vídeo sob demanda com apenas 50 funcionários? Esta resolução vai direto para a Netflix que tem feito um ótimo trabalho ao exibir centenas de enlatados de qualidade mas que produziu meia dúzia de conteúdos nacionais e recolhe pouquíssimos impostos no Brasil.
- Uso inteligente do retargeting
Não quero mais procurar uma torradeira na Internet e nos próximos dias ser bombardeado por dezenas de ofertas de torradeiras, por favor!
- Respeito às manifestações artísticas
Foi preciso que a mídia profissional reclamasse para que as fotos de um dos seios da atriz Letícia Colin aparecesse novamente no Instagram. Espero que tanto o Facebook quanto o Instagram sejam mais sensatos em 2019 em relação a manifestações artísticas na rede (e continuem combatendo pornografia, que é a exploração comercial do sexo, em todas as suas extensões por favor!).
- Fim da caixa preta
Segundo estudo da Pew Research nos EUA os investimentos publicitários nos jornais americanos caíram dois terços entre 2006 e 2016 (a maioria do dinheiro foi para o Facebook e Google); 44% de todas as transações de e-commerce nos EUA foram realizadas pela Amazon. E no Brasil? Como não há números oficiais, calcula-se que Google e Facebook consigam hoje quase 20% dos investimentos publicitários e continuam avançando.
Espero que em 2019 estas empresas adotem aquilo que mais se preza em comunicação que é transparência.
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