Estudo realizado pela Freedom House em 65 paises (veja aqui) mostra que a Internet não é tão livre como foi originalmente concebida por seu autor, o britânico Tim Berners-Lee.
Criada por ele há 30 anos (12 de marco de 1989), a rede mundial no formato “www” enfrenta hoje uma combinação perversa de questões como desinformação, propaganda online, sistemas automáticos de vigilância dos governos e quebra da privacidade.
Como resultado, mais da metade do mundo tem uma Internet censurada ou parcialmente livre, segundo a Freedom House que criou uma metodologia baseada em perguntas para mais de 70 analistas que avaliaram desde o acesso à Internet a liberdade de expressões e questões de privacidade. Dos 65 países analisados, 26 tiveram queda na avaliação no ranking da liberdade na Internet enquanto 19 apresentaram melhorias. Os países que mais pioraram foram o Egito e o Sri Lanka, seguidos do Camboja, Quênia, Nigéria, Filipinas e Venezuela.
Quer um exemplo? O mesmo movimento #MeToo, que atraiu a atenção para a questão de assedio sexual às mulheres, acabou levando duas egípcias à prisão depois de elas terem exibido vídeos sobre suas (desagradáveis) experiências em relação a este assunto. Foram acusadas pelas autoridades deste pais de terem “espalhado informações falsas” e atentar contra a “segurança publica”.
Na Venezuela o governo de Nicolas Maduro sancionou lei com um texto vago sobre “ódio online” que levou dezenas de pessoas às prisões, todas por motivos políticos.
O estudo cita o Brasil algumas vezes. Menciona a iniciativa chamada Comprova, realizada em parceria com a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) e com 24 veiculos de imprensa para identificar a desinformação e seus efeitos nas eleições. Registra a importância da nova lei de proteção de dados, a LGPD (lei geral de proteção de dados) e questiona sobre como as medidas serão executadas.
Os problemas, segundo a Freedom House, só estão começando. O uso dos aparelhos como smartphones e assistentes pessoais para escutar e analisar o que dizem as pessoas sem autorização – o chamado “personal data” – ampliará para novos patamares a abrangência do Big Brother governamental.
Internet livre … esta, definitivamente, não é uma questão fácil. Os conservadores podem argumentar que a Freedom House é uma ONG com motivações esquerdistas – e estes, por sua vez, podem dizer que a liberdade, transparência e investigação são a base da democracia (veja a isenção da Freedom House em relação à Venezuela). Outros podem considerar a Internet livre um repositório de malucos que trafegam desde dados de como construir uma bomba atômica, formar grupos nazistas a informações de como arquitetar planos terroristas – nestes casos como não negar a importância de haver regulamentação e controle? Com a palavra os leitores do Jornal 140.
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