O programa lunar da NASA terminou oficialmente em dezembro de 1972, quando os astronautas da Apollo 17, Eugene Cernan, Ronald Evans e Harrison Schmitt voltaram à Terra. Eles foram os últimos homens a pisar na superfície lunar. Mas o projeto Apollo deixou uma imensa herança científica e social, que está integrada ao cotidiano de todos nós, meio século depois do primeiro pouso na Lua.
O programa espacial americano que levou astronautas para a Lua foi um projeto político, uma resposta da superpotência ocidental ao pioneirismo soviético, que colocou o jovem cosmonauta Yuri Gagarin em órbita da Terra em 1961. No ano seguinte, o presidente americano John F. Kennedy prometeu em discurso que os americanos chegariam à Lua antes do final da década de 1960. Dito e feito.
O mundo da última missão tripulada à Lua era muito diferente daqueles primeiros voos dos anos 1960. Os assassinatos de John Kennedy, Martin Luther King e Bob Kennedy arrasaram com os sonhos da Era de Aquarius e da geração “paz e amor”. As turbulências sociais que varreram o mundo naquele final de década empalideceram o brilho da Lua.
Em 1972, o presidente dos EUA era o republicano Richard Nixon, e o país estava atolado na insana guerra do Vietnã, um conflito que custou a vida de dezenas de milhares de jovens americanos e milhões de vietnamitas. Os recursos destinados a essa guerra foram se tornando cada vez maiores e atenção do público americano estava muito mais concentrada nas notícias sobre seus filhos morrendo na selva de um distante país da Ásia do que em bravos astronautas no vácuo lunar.
Em 1973, a primeira crise do petróleo causou um terremoto no mapa político do mundo, e pode ter sido a pá de cal no programa espacial tripulado da NASA. O último foguete Apollo voou em 1975, para se acoplar em órbita com a nave soviética Soyuz, uma missão colaborativa criada para tentar amenizar a tensão da Guerra Fria. As estações espaciais criadas nos anos 1970, o Skylab americano e a Mir soviética, são crias do projeto Apollo, mas foram projetos relativamente modestos e com orçamentos muito menores do que deveriam ter.
Apesar desse final quase melancólico, o projeto Apollo deixou um legado riquíssimo, que faz parte essencial do mundo que vivemos hoje. As tecnologias desenvolvidas para as missões lunares foram aperfeiçoadas e produzidas em massa nas últimas décadas, e são parte integral de nossas vidas.
Circuitos integrados (chips) minúsculos, GPS, comida desidratada, trajes térmicos usados por bombeiros, velcro, ferramentas portáteis movidas por baterias, sistemas de imagem eletrônica, sistemas de transmissão via satélite, lentes de câmeras e capacetes a prova de riscos, e uma infinidade de outras tecnologias criadas para o projeto lunar estão presentes hoje, e continuam evoluindo.
Como o projeto de missões tripuladas na Lua foi encerrado há 47 anos, esse feito histórico parece ter perdido a relevância. O programa Apollo sempre teve muitas críticas, mesmo em seu apogeu. Foi tachado como propaganda política dos EUA (e era), e mesmo nos EUA o orçamento das missões era considerado um “escândalo” em comparação com outros problemas urgentes nos Estados Unidos na época.
Nos últimos anos, o número de “céticos” sobre a caminhada humana na Lua aumentou exponencialmente. Esses céticos poderiam ser classificados como meros ignorantes, e são. Mas o abandono da exploração lunar, não apenas pelos EUA mas por outros países ricos (incluindo a China) é visto como uma prova de que o ser humano jamais pisou no satélite. Mas mesmo os conspiradores mais radicais não duvidam das missões robotizadas até Marte, e das sondas enviadas aos confins do sistema solar.
Viagens tripuladas para a Lua são empreendimentos caríssimos. A NASA é uma agência pública, financiada com dinheiro dos contribuintes americanos. Só recentemente o setor privado mostrou algum interesse pela exploração do espaço. Bilionários como Elon Musk e Jeff Bezos têm planos para criar estações orbitais e voos tripulados para a Lua.
Americanos, chineses, indianos e russos podem promover uma nova corrida espacial, com objetivos comerciais – e políticos, como de costume. Mas nada que se aproxime ao cenário imaginado pelo escritor Arthur C. Clarke e o diretor Stanley Kubrick no filme “2001: Uma Odisseia no Espaço”.
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