Hoje, o dia está pesado. No Rio de Janeiro, houve um sequestro de ônibus com reféns. Como se isso já não fosse ruim o suficiente, quando a polícia matou o bandido, o governador Wilson Witzel comemorou como se estivesse acompanhando uma partida de Copa do Mundo. Ou vendo qualquer filme trash com muito sangue desnecessário. Além disso, a Amazônia está queimando ininterruptamente faz mais de duas semanas. Tudo isso somado ao fato de que o presidente, governadores e ministros parecem ter saído de um programa de comédia incrivelmente ruim e com roteiro non sense sem graça. A “piada” de fazer cocô dia sim e dia não não provoca risos, presidente Jair Bolsonaro. Gera vergonha alheia e descrença por ter ouvido tamanho absurdo ser dito por uma pessoa que governa um dos maiores países do mundo.
Como sobreviver diante de um caos orquestrado e onipresente? Nem as piores distopias, incluindo “1984”,”Laranja Mecânica” e “Admirável Mundo Novo”, nos prepararam para isso. E nem a realidade, que já era complicada e violenta, tampouco fez esse papel. Talvez de tanto ver tragédias, crimes, irresponsabilidades e coisas ruins, tenhamos ficado anestesiados e inertes.O gigante entrou em coma e não tem previsão de acordar. Afinal, quem não sabe que a polícia é violenta, principalmente em favelas? E que os alvos geralmente são jovens negros? De tanto saber (e desdenhar) disso, não estranhamos mais um governador com traços de sociopatia, nem um presidente que faz apologia à tortura ou qualquer coisa bizarra.
Não sei como fugir de tudo isso. Tento não ler tudo, as artes me acalentam, não acesso conteúdos sensacionalistas e falsos. Mas mesmo assim, é difícil não deixar se contaminar por emoções ruins ao se deparar com tudo isso.Sigamos existindo e resistindo, é o que nos resta. Espero de verdade que as palavras do poeta Mario Quintana se tornem verdade o mais rápido possível: “Todos esses que estão aí/ Atravancando meu caminho,/ Eles passarão…/ Eu passarinho!”
Foto: Gerson Pinheiro
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