Vinte anos atrás escutamos “A China vai dominar o mundo!” e, cinco anos depois, nós efetivamente vimos a China se tornar uma potência econômica com a ascensão – mais rápida – que mundo pós revolução industrial já viu.
Apesar do crescimento assustador, a baixa credibilidade do produto chinês consolidou sua posição de lowcost com baixa durabilidade durante os anos seguintes. Até que o setor de luxo viu a oportunidade de aumentar suas margens, utilizando a capacidade de adaptabilidade da indústria chinesa e seu baixo e – polêmico – custo de mão de obra.
Pensa que pararam por aí? Óbvio que não, era apenas o começo da era das oportunidades da 4ª Revolução Industrial.
O empresários locais, rapidamente, responderam à oportunidade e modernizaram seu pólo industrial e começaram a investir em tecnologia de ponta para otimizar seus processos e reduzir ainda mais o seu custo.
Investimento este que produziu os próprios campeões chineses como Lenovo, Xiaomi e Huawei, com know-how suficiente para ameaçar a hegemonia de gigantes da tecnologia, como a IBM, Apple e Samsung. As gigantes chinesas aparecem como “celeiros” de novos modelos de negócios, muitas vezes com modus operandi totalmente diferente do que ocorre no ocidente.
Atualmente, nem a inovação é mais o suficiente para os chineses. É necessário ser disruptivo.
Mas, o que é ser disruptivo?
Entenda disruptivo como modelos de negócios soberanos, que irão inverter a lógica das indústrias e inutilizar outras opções.
Segundo o estudo realizado pela MJV (aconselho a leitura completa!!), existem 3 novos modelos de negócios com potencial para transformar a lógica atual de consumo:
1) New Retail & O2O. O Alibaba Group controla 80% do e-commerce na China. Jack Ma, fundador do conglomerado escreveu uma carta para seus acionistas, em 2017, sobre a nova estratégia das empresas do grupo para os próximos anos, a chamando de “The Five New”.
New Retail | New Finance | New Manufacturing New Technologies | New Energy
O New Retail é um mix entre logística, cadeias de suprimento, sistemas de pagamento, automação e tecnologias – por exemplo, a Inteligência Artificial. Obrigatoriamente, deve-se olhar para todas essas frentes com a visão do cliente e objetivando a experiência de compra perfeita.
O pilar principal do new retail é o online-to-offline (O2O), que busca, gradualmente, derrubar todas as barreiras entre o mundo físico e o virtual. A estratégia unifica a experiência de compra e políticas comerciais da empresa, simplificando a tomada de decisão do cliente.
Podem me perguntar: “se os custos das lojas são muito maiores do que os do e-commerce, por que manter pontos de venda físicos?”
A resposta é mais simples do que você imagina! Porque o online ainda não é o campeão do varejo. Pesquisas indicam que, cerca de 80% das vendas, ainda acontecerão em lojas físicas até 2020.
Se você é daqueles que diz “QR nunca pegou, tecnologia que nasceu e morreu!”, aqui vai mais uma novidade para você.
Recentemente, a Amazon lançou o Amazon Go, o supermercado do futuro. Para entrar na loja, basta escanear um código no app. Feito isso, é só pegar na prateleira o que você quer levar e ir embora. O sistema irá debitar em seu cartão de crédito o valor da compra. Simples assim, sem filas e sem aborrecimento.
Provavelmente o exemplo campeão seja o Hema Supermarket, do grupo Alibaba, uma loja de conveniência modelo em O2O. Você pode até mesmo comprar os ingredientes e se dirigir ao restaurante do supermercado que um chef vai cozinhar para você os itens escolhidos!
No New Retail, vemos que o físico e o digital tendem a se tornar algo único, onde podemos aliar o que há de melhor em experiência e praticidade para entregar conforto para os clientes e melhores resultados para os negócios.
2) Super apps & Omnidata.
Os super apps são resultado da era da informação.
Costumo dizer: “Na internet, se o serviço é de graça, o produto é você!”
A premissa básica é a mesma das mídias sociais: manter o usuário conectado o maior tempo possível! Como, o instagram que aplica técnicas de shopping centers físicos – para o cliente entrar em inércia e não “perceber” há quanto tempo está consumindo dentro do sistema.
Ao contrário do ocidente, onde existe a hipersegmentação de serviços em sistema, os chineses vão na contramão, e buscam agregar a maior quantidade de produtos e serviços em um mesmo sistema!
Já ouviram falar do WeChat?
WeChat é um aplicativo de uma gigante chinesa do ramo digital, concorrente do WhatsApp – que em apenas 8 anos de vida – ultrapassou, recentemente, a marca de 1 bilhão de usuários ativos.
No decorrer do tempo, o app acumulou funcionalidades para entregar praticidade. Além das trocas instantâneas de mensagens, permite pedir comida, publicações em redes sociais, pagamentos e até mesmo, contratar serviços de car sharing. É o exemplo perfeito da conversão de multifunções em uma única plataforma
Sabem qual é o resultado dessa técnica? Maior informação coletada sobre cada um dos clientes, a fim de melhorar o poder de oferta just in time.
A nova descoberta é transformar o omnichannel em omnidata.
3) Platform Thinking
Platform thinking é um modelo de negócios digital que promove uma cultura de co-criação entre os diversos atores de um negócio, inclusive o público final do produto. Seu objetivo é descentralizar o conhecimento para desbloquear novos níveis de inovação nas empresas.
Em um mundo, em que todos são produtores de conhecimento, é ingenuidade pensar que teremos sempre as melhores soluções. O platform thinking expande os limites dos escritórios e constrói um ecossistema que conecta o conhecimento, dentro da organização, com insights externos.
O método tem origem nos chamados “knowns unknowns” — a ideia de que o conhecimento que detemos é sempre menor do que aquele que ainda não possuímos.
Tá! Isso não é novidade, até o Sócrates já falava isso! O que China tem a ver com isso?
Podemos dizer que eles recriaram o platform thinking! As startups chinesas estão superando os resultados dos tradicionais unicórnios, do Vale do Silício.
Dois exemplos podem nos mostrar bem a imagem da grande capacidade de adaptação e seus ecossistemas de inovação. O primeiro é o Uber, que foi encurralado e se viu obrigado a vender sua operação para a concorrente local, a DiDi Chuxing. Sim, a mesma DiDi que adquiriu a 99, nosso primeiro unicórnio brazuca!
Por último, a Tencent Holdings, dona do super app WeChat, já superou o valor de mercado do Facebook, dono do WhatsApp.
Incluir participação externa para otimizar processos das organizações é uma das melhores maneiras de desenvolver novas capacidades e escalar negócios em longo prazo.
Acredito que já perceberam: a China está alcançando o que não era nem imaginável! Como dito, no relatório: a balança, definitivamente, está se inclinando para o lado chinês.
As palavras em questão são: criatividade, adaptabilidade com inovação e oportunidade. Essa é a meta do meu negócio e que tento repassar para os meus clientes; a clareza de que uma boa observância do ambiente de negócios e seu público alvo, faz muita diferença.
Porém, não é só! A disrupção é necessária e benéfica a todos, tanto como sociedade, quanto como empresa.
Que tal aprendermos, mesmo que um pouco, com a China?
Foto: China Morning Post
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