Em maio deste ano, fui no show da Ms. Lauryn Hill, que fazia parte da turnê que celebra os 20 anos do álbum The Miseducation of Lauryn Hill, o único de inéditas da carreira solo da cantora. Mesmo sendo tudo incrível, tinha gente falando mal. E não foi por causa do atraso de uma hora. O motivo mais comum da indignação foi a “curta” duração do show: por volta de 1h e 15 min. Realmente não compreendi a reclamação de imediato, já que ela cantou praticamente o álbum todo, além de uns sucessos da época do The Fugees. Fora isso, a DJ Reborn fez uma abertura dançante e extremamente eclética.
Depois disso, fiquei pensando: será que quem vai para shows ou festivais conhece e pesquisa sobre o que vai assistir? Ou só vão para postar stories dançando, bebendo e fingindo que estão curtindo no Instagram? Afinal frequentar determinados shows não deixa de ser um tipo de status social. Os ingressos aumentam de preço cada vez mais, dificultando, e consequentemente, elitizando o acesso e segmentando o público. O Lollapalooza é um bom exemplo disso. Os preços da pré venda já foram divulgados. O Lolla Pass, ingresso que garante a entrada nos três dias de festival, custa 1. 500 reais neste ano. E claro, sem a taxa de conveniência que costuma elevar um pouco mais o preço final. E quanto mais famoso, bonito e influente o artista é, mais gente ficará com inveja, curtirá a foto e verá os posts. A encenação de vida perfeita e cultural não pode parar.
Dá um Google aí
Isso aconteceu quando o Roger Waters, polêmico ex integrante do Pink Floyd, veio pro Brasil. Muita gente ficou extremamente surpresa por ele ser de esquerda e criticar ferozmente a extrema direita mundial no show, colocando o nome do atual presidente Jair Bolsonaro no telão como forma de protesto e alerta. Uau, quem diria que o álbum The Wall não era sobre construção civil? Surpreendente? Infelizmente, creio que não.
Claro que, às vezes, pessoas que não conhecem o artista acabam indo nos shows para acompanhar namorado (a), mãe, pai, tia, avó… Isso é absolutamente normal e compreensível. E legal, já que acabam virando fãs a partir disso, caso o show seja uma boa experiência. Mas tirando essas situações, pesquise sobre quem é que você vai assistir: ideologia política, quantos álbuns fez, estilo musical. Não pague mico. Só pague o ingresso. E a maldita taxa de conveniência.
Foto: Austin Distel / Unsplash