Recentemente o Rapper Emicida trouxe ao mundo uma música que causou demasiado alvoroço na internet. O video trata com agressão e certa delicadeza a história de pessoas periféricas em situação de depressão. Com isso, abre-se o video clipe com uma introdução bastante comovente em áudio gravado que dá inicio à canção:
“Às vezes eu me sinto muito mal, mano. Eu sinto medo de ter feito escolhas erradas a ponto de não poder mudar mais, tá ligado? (…) É foda, irmão, é tipo uma doença essa porra, mano. Parece que essas porra de remédio não adianta merda nenhuma. Mais de um ano, quase dois anos tomando essa porra. Sei lá, eu só precisava falar alguma coisa pra alguém mesmo, mano.”
Se você ainda não assistiu, tira um minutinho para conferir!
Quais são as histórias por trás do clipe
Foram abordados histórias de pessoas que superam a situação periférica e mesmo em situação de depressão eles recomeçam suas vidas. O clipe é uma lição de resistência.
Muitos comentários no Twitter, enfatizaram o quanto o clipe choca. Mas como dito pelo também rapper Projota em uma entrevista:
“[…] Na sociedade de hoje é oxigênio saber que a gente ainda se importa com a dor do outro”
Falar de depressão e suicídio nunca foi um assunto exclusivo do rap. Muitos gêneros da música já abordaram o tema de diferentes formas. A diferença é que no Rap as pessoas encontram as palavras certas para expressar a realidade de suas vidas periféricas. Conheça mais dessas e muitas outras histórias aqui.
A música como instrumento de conscientização
Não é de hoje que a música tem tido papel fundamental na vida das pessoas. Tanto pela beleza e arte quanto cientificamente pode trazer benefícios físicos. O rap, assim como o hip hop, são instrumentos de discursos sociais sobre a luta das minorias de classe e raça.
O discurso de AmarElo intensifica com força a frieza apresentada nas estatísticas da desigualdade no Brasil, onde a cada 23 minutos, um jovem negro é morto – de acordo com relatório do Mapa da Violência, de 2014 – e, não para por ai a cada 20 horas, um LGBTQIA+ tem morte extremamente violenta, vítima de assassinato em mais de 72% dos casos ou de suicídio (em 24%). Com a introdução de Majur e Pabllo Vittar, grandes ícones representantes desse movimento o trecho:
“Permita que eu fale, não as minhas cicatrizes
Elas são coadjuvantes, não, melhor, figurantes, que nem devia ‘tá aqui
Permita que eu fale, não as minhas cicatrizes
Tanta dor rouba nossa voz, sabe o que resta de nóiz?
Alvos passeando por aí
Permita que eu fale, não as minhas cicatrizes
Se isso é sobre vivência, me resumir a sobrevivência
É roubar o pouco de bom que vivi
Por fim, permita que eu fale, não as minhas cicatrizes
Achar que essas mazelas me definem, é o pior dos crimes
É dar o troféu pro nosso algoz e fazer nóiz sumir”
É sobre conscientizar aqueles que escutam que a dor do outro importa e que deve ser ouvida. Por que é importante. Pessoas são importantes, sejam elas pretas, brancas, gays, transsexuais, periféricas ou qualquer outro rótulo ou genero.
** É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita. O Jornal 140 não se responsabiliza pela opinião dos autores deste coletivo.