Hoje é 5 de novembro. Para os fãs de histórias em quadrinhos, o dia é dedicado a lembrar e citar a obra icônica de Alan Moore e David Lloyd, “V de Vingança”. A máscara do personagem V se tornou popular em vários protestos pelo mundo nesta década, inclusive nos protestos de 2013 aqui no Brasil. Virou marca registro do grupo Anonymous, que é uma comunidade online anônima de hacktivismo.
V é complexo e ambíguo. Não é possível saber quem ele é, mesmo que a HQ e o filme expliquem um pouco sobre a origem dele. Só é possível saber que ataca o fascismo, promove anarquia e que representa uma ideia que é à prova de balas. Ele quer literalmente queimar tudo, assim como Guy Fawkes, soldado britânico que tentou incendiar o Parlamento na Conspiração da Pólvora, no século XVII. Ou ser símbolo de uma revolta generalizada promovida pela população cansada de abusos autoritários.
Vivemos em tempos em que os extremos políticos estão cada vez mais preocupantes. Pessoas que não se interessavam por política e nem exerciam a cidadania estão cada vez mais participativas, mesmo que o “conhecimento” político seja derivado de desinformação promovida por correntes de fake news no WhatsApp. E a participação de alguns inclui cometer crimes de ódio, linchamentos offline e virtuais e acusar quem não detém o poder. Todo mundo está revoltado, mesmo não sabendo muito bem o que está acontecendo. Os poderosos cada vez mais expostos ao ridículo. E as pessoas comuns cada vez mais sendo ridículas nas redes sociais. O conceito de racionalidade e se ater aos fatos foi deixado para escanteio. A maioria está perdido assim como o Evey está em boa parte do enredo: sem saber o passado, nem como lidar com o presente e com uma pressão psicológica gigantesca.
Caso “V de Vingança” tivesse sido escrito baseado no cenário político atual, V teria que pegar pesado nos boatos ou escândalos reais difundidos redes sociais. Não armaria uma emboscada real para um padre pedófilo sem antes vazar fotos ou vídeos na internet, por exemplo. A imprensa estaria ainda mais desacreditada. O combate ao fascismo assumiria outra forma, nem tanto fisicamente, como na HQ. Talvez Evey não tomasse consciência dos fatos de forma clara. V não precisaria ser exímio em combate. Só a manipulação dos fatos já faria bastante estrago. Parece comum ou real? Pois é. A realidade é mais pesada do que qualquer distopia feita.
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