Quem já não assistiu a um super filme ainda que deprimente ou pra lá de esquisito?
Lembro de dois: “O Inquilino” e “A Comilança”, ambos pequenas obras-primas que causaram sensação quando foram lançados e que tiveram performance medíocre nas bilheterias.
“O Inquilino” (The Tenant ou Le Locataire) é um filme de 1976 de Roman Polanski, baseado no livro de Roland Topor, um ano antes de ter sido preso na mansão do ator Jack Nicholson por ter abusado sexualmente de uma adolescente de 13 anos. Polanski, que também é o ator principal, faz o papel de um polonês tímido, Trelkovsky, que resolve alugar um apartamento misterioso em um prédio soturno em Paris. O traveling inicial é sensacional, não devendo nada a Hitchcock de “Janela Indiscreta”: mostra a transformação psicológica do personagem, Trelkovsky, em um ser completamente transtornado mentalmente até a conclusão dramática e surpreendente.
Os atores, o roteiro, os diálogos, a edição, ambientação do filme, é tudo um primor; O Inquilino é um dos melhores filmes que já assisti e supera o Coringa na descrição meticulosa de como pessoas normais se transformam em monstros ou seres perturbados. Mas, rapaz, como é deprimente!
Outro que entra na lista eu assisti em uma das edições da Mostra Internacional do Cinema. É “A Comilança” (La Grand Bouffe), de 1973, dirigido pelo italiano Marco Ferreri, com grandes atores como Marcello Mastroiani, Michel Piccoli, Philipe Noiret e Ugo Tognazzi. Os quatro se reúnem em uma mansão para um banquete regado de conversas, pratos requintados e sobremesas espetaculares com uma única finalidade: comerem até a morte.
Com esta proposta, o filme começa como uma grande comédia, com diálogos sensacionais sobre os prazeres da vida, que passam pela mesa e taças de vinho e continuam com uma boa prosa com amigos e termina de maneira patética, com episódios escatológicos e trágicos. Sem dúvida, um dos filmes mais belos e deprimentes que já assisti e que também não fez sucesso comercial na época, até por abordar um tema tão inusitado.
Muito estranho mas nunca tive oportunidade de rever estes filmes na TV, nem em canais tão especiais como o Telecine Cult. Espero que depois desta lembrança os executivos de TV paga programem estas duas deprimentes e atuais pérolas.
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