Não estou perguntando quanto você vale no mercado. Minha pergunta é sobre o que está por trás de seus pensamentos, comportamentos e ações. Pode ser que você seja uma de milhões de pessoas que se sentiram mal pelos acontecimentos políticos dos últimos dias, quando a decisão do STF derrubou o entendimento sobre a prisão após condenação em segunda instância. Pode ser que tenha comemorado. Qual a diferença?
Valores. Os seres humanos são os únicos que têm a capacidade de definir sua identidade, escolher seus valores e estabelecer suas crenças. Juntos, identidade, valores e crenças traduzem as nossas preferências, ajudam-nos a estabelecer prioridades e determinam a maneira como agimos. Trocando em miúdos, estão por trás de todas as nossas atitudes: agimos a partir do que é importante para nós. Difícil mesmo é apoiar ou validar valores e crenças de outros, contrários aos nossos.
Pense em suas ações e nas escolhas que faz na vida. O que é realmente importante para você? O que motiva suas escolhas? E o que elas lhe proporcionam? Que sentimento ou sensação lhe trazem? Quando pensa em algum objetivo, o que pretende alcançar com sua realização?
Responder a estas perguntas pode levar você a tomar consciência dos seus valores, pois são eles que determinam suas atitudes e comportamentos. Em outras palavras, fazemos determinadas coisas porque acreditamos que elas vão satisfazer alguma necessidade mais profunda que temos e que em última instância, como diz S.S. o Dalai Lama, sempre leva ao desejo de ser feliz.
Na ânsia de satisfazer desejos pessoais e conquistar a felicidade – um anseio justo – muitas pessoas se valem de meios, artifícios e valores negativos ou destrutivos. Vale perguntar: será que os fins justificam os meios? Todos nós temos sentimentos, desejos e emoções negativos ou destrutivos. Somos humanos e isso é natural. Mas o que fazemos com eles é definido pela qualidade dos valores pessoais que cultivamos.
Você pode, por exemplo, sentir uma inveja danada de alguém. Se movido por tal sentimento fizer tudo para prejudicar esse alguém (boicotar, inventar, mentir) os valores que expressa são negativos: maldade, injustiça, deslealdade, desonestidade. Se, pelo contrário, mesmo sentindo inveja limitar-se ao sentimento procurando superá-lo, e não tomar nenhuma atitude que interfira negativamente na vida do outro, será movido por valores extremamente positivos como justiça, respeito, verdade, lealdade. Faz sentido?
Uma vez perguntaram a S.S. o Dalai Lama se ele sentia raiva. Depois de alguns minutos comendo calmamente uma maçã ele respondeu que o importante não é se você sente raiva, mas sim o que faz com sua raiva. É exatamente isso! Os valores são expressos nas suas ações.
Se valores são os critérios que justificam e motivam nossas ações baseados em coisas que valorizamos ou desvalorizamos, como entender – e conviver – com o que temos visto no nosso cotidiano? Pois é, nem todos possuímos os mesmos valores. Sequer valorizamos as mesmas coisas. E muito menos atribuímos a mesma importância aos valores que temos. E, claro, ficamos chocados quando o que vemos nos agride de uma maneira tão profunda!
Para você, por exemplo, dizer a verdade e ser honesto é mais importante do que ganhar dinheiro a qualquer custo. Para outra pessoa pode ser o inverso. Mas ambos são governados por valores. Embora acreditemos que a palavra Valor se aplique apenas no sentido positivo, que denominamos Bem, a polaridade oposta negativa – o Mal – também é valor.
Há anos estudiosos pesquisam os valores humanos e listaram 2.270 (Enciclopédia dos problemas mundiais e do potencial humano) classificando-os de acordo com suas polaridades: eles chegaram ao incrível número de 960 valores construtivos (como compaixão, bondade, justiça) e 1040 valores destrutivos (abuso, maldade, injustiça). Para onde caminha a humanidade? Algumas diretrizes, ou critérios, têm sido usados para definir valores:
- Ser universal, aplicável a todos os seres humanos, independente de credo, nacionalidade, religião
- Ser racional, não baseado em crenças e dogmas, mas sim passível de raciocínio
- Ser verificável, ou seja, quando aceito e praticado, leva à felicidade
- Ser abrangente, cobrindo as dimensões do ser humano e os níveis em que vive
- Levar à harmonia individual, em sociedade e com a natureza
Acostumamo-nos a ver os valores da empresa pendurados em quadrinhos na parede. Mas quais são seus reais valores quando permite que pessoas com poder se comportem como psicopatas? Quando ignora que seus funcionários adoecem por causa de um ambiente nocivo? Ou quando só visa o lucro em detrimento de seus colaboradores?
E o que dizer da vida política nacional com mensalões, propinas, ataques à liberdade, mentiras, assassinatos, atos escusos, mau uso do bem público por aqueles que deviam defender-nos?
Pessoas se juntam porque possuem valores semelhantes, porque acreditam nas mesmas coisas e caminham na mesma direção. O que muda, na verdade, é a forma como exercem seus valores – os meios para a conquista dos objetivos que expressam seus valores podem ser absolutamente diferentes. Quer um exemplo? Algumas pessoas lutam pela justiça através das leis; outras, através de armas. E matar? Que valor está por trás de tirar a vida humana?
Quando aprendermos efetivamente a rejeitar todas as ações e atitudes que ferem nosso mais profundo senso de valor deixaremos de alimentar pessoas que corrompem a sociedade com seus valores destrutivos – não é preciso acabar com elas, apenas não aumentar sua força. Se o objetivo final de todo ser humano é a felicidade, que possamos alcançá-la sem roubar de nenhum outro ser humano a mesma possibilidade de ser feliz. Isso é ética. Caso contrário, o objetivo que buscamos pode ser ótimo, mas não valerá a pena se o caminho para alcançá-lo ameaçar, de qualquer forma que seja, o direito do outro ser feliz.