No final do ano passado indiquei alguns livros para se ler em 1 dia. Dentre os livros indicados, estava um chamado “O Conto da Ilha Desconhecida” – do José Saramago -, trata-se de um conto bem sucinto e incrível. Nesse breve artigo, gostaria de discutir justamente esse conto.
Aviso: Tem spoilers do final do conto.
A busca constante pelo conhecimento
Logo no inicio do conto, nos é apresentado a demanda do personagem principal. Ele vai até o rei de uma província e solicita um barco para poder encontrar a “Ilha Desconhecida”. De inicio, o rei responde de forma irônica que “todas as ilhas são conhecidas” e decide não atender o pedido do nosso herói. É importante pontuar que já nessa parte, Saramago nos dá um panorama sobre a debilidade das pessoas (no caso o rei, representando um estado) de buscar sempre coisas novas e o aprimoramento. Na visão do rei, todas as ilhas eram conhecidas, ou seja, não tinha o porquê de gastar recursos para desbravar em busca de novos conhecimentos.
Bom, após muito insistir e perseverar, o nosso personagem finalmente consegue, a contragosto do rei, o dito barco para ir em busca dessa ilha desconhecida. O ponto interessante é que a empregada do rei decide voluntariamente ir com o aventureiro nessa jornada, pois ela está cansada das suas funções no castelo.
Cooperação
Então que essa dupla finalmente chega no barco oferecido pelo rei. Trata-se de um barco bastante simples e caindo aos pedaços. Não obstante, ninguém topa ser parte da tripulação do barco, tendo como argumento principal a mesma fala do rei – “Todas as ilhas são conhecidas”. Em resumo, com exceção da mulher que decidiu acompanha-lo, ele não tinha ninguém.
Contudo, mesmo assim ele não desiste do seu objetivo, muito disso deve-se ao fato de ter essa mulher ao seu lado. É necessário cooperação.
A busca por nós mesmos
Já se encaminhando para o final do conto, ambos os personagens tem um sonho de estarem navegando por mares e o próprio barco ter sido tomado por uma vegetação viva e uma fauna abundante, ou seja, o próprio barco seria essa ilha desconhecida. Confesso que quando li isso, caiu a ficha da mensagem principal que o Saramago se propõe a nos passar: Nós precisamos ir em busca de nos conhecermos. Para mim, representar a ilha desconhecida como o barco dos próprios personagens, na minha opinião, passa essa mensagem clara de autoconhecimento. Enquanto eles vão navegando pelos mais diversos mares, mais eles vão se conhecendo, mudando e aprendendo.
Confesso que não sigo a linha de que a vida necessariamente tenha que ter um propósito. Sempre que agarro no raciocínio de que estarmos aqui é um fato e não há nenhum propósito nisso. Contudo, o autoconhecimento é necessário para tomarmos caminhos inteligentes e viver em harmonia com a nossa existência.
Em resumo, ter em mente que é necessário esse autoconhecimento e perseverança, nos leva a tomar as melhores decisões.
Sejamos todos uma Ilha Desconhecida.
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