O espaço das mulheres na literatura foi conquistado com muita luta. Apesar da atualidade apresentar-se como a melhor época para conhecer o trabalho de escritoras – ou ser uma – ainda há uma enorme jornada para o alcance da visibilidade e representatividade.
É, assim, essencial divulgar o trabalho feminino do meio literário.
O post apresenta 10 indicações de livros em prosa de escritoras contemporâneas, de diferentes locais do mundo, contendo diversos temas e estilos!
1. Canção de Ninar – Leïla Slimani
Vencedor do Prêmio Gouncourt, o mais importante da literatura francófona, Canção de Ninar é a segunda publicação da escritora franco-marroquina, descrita pelo presidente Emmanuel Macron como a maior divulgadora da língua francesa.
A narrativa consiste em um envolvente thriller psicológico sobre o assassinato de duas crianças por sua babá. Não é spoiler – a obra já começa com a marcante anunciação “o bebê está morto”.
A delicadeza da obra está no desenvolvimento dos pensamentos e das falas das personagens, revelando questões socioculturais como xenofobia, preconceito e divisão sexual do trabalho, sendo assim, uma envolvente reflexão sobre as diversas relações de poder entre indivíduos.
2. A Vegetariana – Han Kang
O sucesso da autora sul-coreana, pela primeira vez editado no Brasil, foi vencedor do Man International Booker Prize em 2016.
A obra é dividida em três partes, cada uma narrada à uma óptica: uma sob o ponto de vista do marido da protagonista, outra do seu cunhado e a terceira da sua irmã.
A história tem início com a decisão repentina da protagonista de deixar de consumir carne. Os desdobramentos dessa posição, cuja motivação permanece obscura, tomam proporções gigantescas em sua vida e na das pessoas que convivem com ela.
Assim, as consequências na vida personagem, cuja voz é ativa somente na descrição de seus perturbadores sonhos, revelam-se ilustrações sobre a dificuldade em romper padrões normativos, a solidão das escolhas incompreendidas e as relações de poder, interdição e machismo que circundam a sociedade.
3. Relatos de um Gato Viajante – Hiro Arikawa
É a primeira obra da aclamada autora japonesa publicada no Brasil.
O romance acontece sob dois pontos de vista: o do gato Nana e o do narrador em terceira pessoa, abordando o passado que ele desconhece.
Seu desenvolvimento orbita a viagem pelo país do animal com seu dono, Satoru, a procura de um novo lar para ele, uma vez que, por um motivo misterioso precisarão se separar, enquanto toca em episódios do passado de ambos que compõem suas histórias.
O desenrolar da tocante aventura é constituído por descrições das paisagens, dos costumes e das vicissitudes dos sentimentos dos personagens. Assim, o livro é mais que uma tocante pincelada em uma realidade nipônica, e sim um mergulho na dimensão sentimental com a qual os envolvidos interagem com o real – por vezes cortante, por outras sereno, mas sempre rico em afetos.
4. Fique comigo – Ayòbámi Adébáyò
O livro da escritora nigeriana, convidada para a Flip 2019, foi finalista do prêmio Baileys Women’s Prize.
Tendo como pano de fundo a turbulência política da Nigéria nos anos 1980, é narrada a história de Yejide, mulher que incessantemente deseja engravidar. Ela e seu marido Akin, inseridos em uma sociedade poligâmica, persistem em manter a exclusividade sexual e afetiva, apesar das inúmeras pressões que os acometem.
A trama – ora devastadora, ora feliz, ora desesperadora – é uma lição de persistência, dor, luto e uma impactante ilustração do potencial transformador do conhecimento e do amor.
5. A Casa dos Espíritos – Isabel Allende
É o romance de estrondosa estreia da escritora chilena, que possui outros 22 publicados.
A obra é considerada um clássico da literatura latino-americana, sendo uma das mais importantes representantes da escola Realismo-Fantástico.
Nela, é narrada a trajetória de três gerações da família Trueba, protagonizada pelo autoritário patriarca Esteban e pelas clarividentes Clara, Blanca e Alba.
Além dos personagens serem profundos, são bem desenvolvidas as passagens que contextualizam as questões referentes à conjuntura política e econômica da época. Assim, o livro é uma viagem na História e nos sentimentos humanos, com um toque especial de sobrenaturalidade.
Após a leitura, vale conferir sua adaptação cinematográfica, estrelada em 1993 por Meryl Streep.
6. Eu, Tituba: Bruxa negra de Salem – Maryse Condé
Condé é uma escritora caribenha mundialmente aclamada, feminista e ativista do movimento negro. Em 2018, ano em que o Nobel foi suspenso, foi vencedora do prêmio literário alternativo, o New Academy Prize.
Tendo como pano de fundo da obra é o horror do colonialismo e de suas consequências facínoras, este livro é uma impactante ficção histórica. Sua narrativa difere-se da já conhecida versão das Bruxas de Salem por apresentar o protagonismo de uma mulher, cuja vida, marcada por sofrimento e violência, levou-a à defesa da liberdade e denúncia das injustiças.
7. A vida Invisível de Eurídice Gusmão – Martha Batalha
É o primeiro romance da escritora recifense, indicado ao prêmio Jabuti de romance.
Sua história ocorre no Rio de Janeiro dos anos 1940 e 1950, cenário ao qual insere-se a vida limitada da potente Eurídice. A protagonista, dona de casa, filha, mãe e esposa, como a autora descreve, “tudo poderia ter sido”. Sua castração suscita uma poderosa reflexão sobre o contexto social ao qual as mulheres estavam presas, e o impacto das escolhas e suas angústias.
Uma vez lido, é interessante assistir sua adaptação cinematográfica A Vida Invisível, indicado a quatro prêmios internacionais.
8. O Ponto Cego – Lya Luft
A escritora gaúcha é um forte nome na literatura brasileira, tendo publicado 30 livros e realizado inúmeras traduções, inclusive, de obras da Virginia Woolf.
A narrativa retrata a história de uma família nuclear a partir do ponto de vista de uma criança, cuja identificação resume-se a Menino. Carregada de dor, luto e não-ditos, a história desenvolve-se apesar de um empecilho: a inevitabilidade do tempo incidindo sob um indivíduo que decidiu deixar de crescer.
Como adendo, fica o comentário de que a publicação é especialmente interessante aos entusiastas da psicanálise.
9. Becos da Memória – Conceição Evaristo
A gigante autora, mineira, participante ativa dos movimentos de valorização da cultura negra em nosso país, estreou na literatura há 20 ano, produzindo ensaios, ficções e poesias.
O livro é um dos mais importantes romances memorialistas da literatura contemporânea brasileira, retratando poética e autobiograficamente o drama de uma comunidade favelada em processo de remoção. O protagonismo da obra está em uma figura feminina, símbolo de resistência em contexto social e econômico marcado pelo racismo e sexismo.
10. Não está mais aqui quem falou – Noemi Jaffe
A paulista, escritora, professora e crítica literária possui 11 publicações, sendo esta sua mais recente.
O livro, que transita entre prosa, verso, crônica e epígrafes, revela raciocínios e desfechos inusitados a respeito de linguagens e fatos cotidianos, ressignificando-os de maneira divertida e inteligente.
** É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita. O Jornal 140 não se responsabiliza pela opinião dos autores deste coletivo.