A ideia deste artigo começou com a publicação do livro do Jornal 140 “#OQuintoPoder: Disrupção e Comunicação digital em tempos de cólera” na plataforma Kindle da Amazon (veja mais informações aqui). Simples e inovadora, a Kindle é uma ferramenta poderosa de popularização da leitura. Ainda mais em um país como o Brasil, que produz poucos livros, lê pouco e movimenta menos de 2 bilhões de Reais no segmento editorial. Resolvemos entender um pouco mais como funciona a “experiência” e conversamos com Alexandre Munhoz, gerente da plataforma no Brasil.
Começo a conversa dizendo ao Alexandre que o Jornal 140 utilizou o KDP (Kindle Direct Publishing) e utilizou todos os recursos da plataforma (no Brasil o livro está disponível no formato digital, na loja da Amazon e nos EUA pode ser encontrado também na versão impressa, “paperback”). Pergunto a ele se podemos chamar o Kindle de um ecossistema e ele me diz que chamam-na internamente de “ferramenta que maximiza o valor do autor e do cliente que procura um livro”.
Alexandre fala que a categoria “livro” foi a primeira da Amazon. O desenvolvimento da ferramenta foi fundamental para a história da própria empresa e começou a partir de um desafio apresentado por Jeff Bezos em uma reunião.
– A Amazon tem uma cultura de obsessão em atender às demandas dos clientes: como melhorar a experiência de compra de livros, ser mais eficiente na distribuição ao diminuir o prazo de entrega do produto (que hoje é de menos de dois dias no modelo “Prime”) e facilitar a leitura. E como isso poderia ser “disruptivamente” melhor. O desafio no brainstorm da reunião de liderança era chegar a um modelo de entrega de um livro em 60 segundos, diz Alexandre. Com o desafio/objetivo apresentado, as equipes correram a campo para desenvolver as estratégias para alcançar esta meta ousada. O que nos obrigou a entender toda a cadeia de valor, e mesmo revendo-a da frente para trás e de trás para frente para atender isso. O resultado foi o lançamento não só o aparelho Kindle como também todo o ferramental para colocar todos os livros do mundo para o cliente em menos de 60 segundos. Alexandre.
Encontrado o modelo, o sistema começou a ganhar novas ferramentas como o KDP. O desafio foi “estendido” de maneira óbvia: “se queremos levar todos os livros do mundo para os leitores porque não levar também muitos bons livros que estão pelo mundo que nunca haviam sido publicados?”.
– O KDP foi lançado no Brasil no mesmo momento da loja porque já entendíamos que este acesso direto com os autores seria uma alavanca importante para democratização do livro. Este modelo apresentava um potencial interessante, mas nos surpreendemos com o sucesso que obteve em tão pouco tempo. Hoje de cada 10 livros mais vendidos cerca de três são auto-publicados”.
-A forma com que nos enxergamos neste cenário literário é que existem dois agentes desta cadeia que são os mais importantes: os autores e os leitores. Nos consideramos um intermediário como todos os outros players deste segmento. Tentamos maximizar o valor para ambas as partes. Para cada livro vendido pelo sistema KDP o autor consegue receber até 70% do valor pago pelo cliente. Depois ampliamos para novos modelos de consumo para continuar em nossa missão, como por exemplo Kindle Unlimited. O cliente que gosta de ler muito paga 19,90 por mês e terá acesso a mais de um milhão de livros em todo o mundo – em português são mais de 150 mil.
Segundo Alexandre, do lado dos autores é uma forma adicional de rendimentos, além de conseguir receber pelos direitos obtidos pela venda do livro também recebe uma parcela.
Pergunto sobre o papel de um outro player importante, as editoras, que também são intermediárias na cadeia de valor:
-As editoras têm um papel fundamental, trabalhamos de maneira muito próxima de todas elas. Não temos a pretensão com o KDP de substituir as editoras, queremos complementar. Cito vários exemplos: autores que eram desconhecidos e não-publicados, obtiveram reconhecimento e interesse pelas editoras depois de auto-publicarem os seus livros e acabaram ganhando edições impressas. Muitos autores têm contratos híbridos: publicação no digital via KDP e com as editoras no livro físico. Interessante que o KDP acabou gerando uma nova economia no segmento literário na medida em que muitas editoras menores passaram a publicar os livros pela facilidade que ele gera e pela remuneração. As editoras representam os autores e publicam por esta ferramenta. As editoras agregam valor em várias partes do processo como edição e gestão do conteúdo enquanto nós entramos com a distribuição.
Sobre a chegada do modelo de livro sob demanda na loja Kindle no Brasil, o paperback, Alexandre responde que eles estão “tentando fazer o melhor e esta, de fato, é uma possibilidade como outras que existem fora do Brasil mas ainda não chegaram “:
-Vamos fazer ainda muita coisa. Estamos aqui há sete anos e todos os dias chegamos com a sensação que é o nosso primeiro dia, o day one. Diz que esta decisão tem muitas variáveis e complexidade de investimentos. Posso dizer que estamos trabalhando em várias frentes para trazer coisas novas para o Brasil.
Provoco o Alexandre sobre a questão do formato papel, que para muitos, é exemplo de obsolescência e modelo ultrapassado, antigo, embora seja um objeto desejado por outros e tenha a ver com prestígio e é fundamental em sessões de autógrafos.
-A Amazon é agnóstica em relação à digital e papel e que não existe esta polêmica dentro da operação. Não concordo com esta visão. Os formatos convivem perfeitamente, são completamente complementares, existe momento para cada um tipo de livro e tipo de cliente. Um não substituiu o outro, ao contrário. Aqui dentro, medimos tudo o que fazemos para medir o sucesso (ou não) de nossas iniciativas. Uma delas, que reforça esta crença, é que clientes que consomem os dois formatos, consomem mais, leem mais. O digital oferece muita conveniência na experiência de compra (menos de 60 segundos), facilidade de obtenção mas alguns títulos de livros físicos apresenta uma diversidade de imagens e fotos que são insubstituíveis.
Os top de vendas no Brasil
A assessoria da plataforma Kindle enviou ao Jornal 140 uma lista de autores brasileiros “top de vendas”. Eles salientam que “não são exatamente os top 8 nem estão ordenados em um ranking de vendas, mas estão entre os autores autopublicados pela ferramenta que tiveram mais vendas recentemente”.
- Billy Imperial: livros como “40 Hábitos Financeiros Para Uma Vida Melhor: Lições poderosas para quem quer sair das dívidas,poupar com consistência e investir com qualidade (Eu e meu dinheiro Livro 1)”, “Como Investir na Bolsa de Valores: Um guia prático para investir em ações sem ser um especialista”, “Você, Um Autor Publicado: Como escrever e publicar um e-Book Kindle mesmo sem nunca ter escrito nada (Vida de escritor Livro 1”, “Como Investir na Previdência Privada: Aprenda a planejar a sua aposentadoria agora para não precisar mais trabalhar daqui a 30 anos” e “5 Dias Para Criar Seu Blog: Como Transformar Suas Ideias Em Conteúdos Memoráveis (Negócios Digitais, empreendedorismo)”.
- Cleo Luz: “O PRESIDENTE: Harry Stone – Parte 1 – Duologia”, “Família Stone”, “GAROTA VIP: MISSÃO WASHINGTON”, “MILIONÁRIOS DE CHICAGO” e “LOUCO POR ELA” e “LOUISE STONE: A DEUSA DO AMOR”.
- Juliana Dantas: “Desafiando a gravidade”, “Longe do paraíso”, “Segredos & mentiras”, “O que escolhemos perdoar” e “Qaundo você chegou”.
- Luiz Felipe Araujo: “Hacks Mentais: 70 Hacks para Produtividade, Hábitos e Relacionamentos”, “Excel ®: Módulo Avançado”, “Memória Ilimitada: Domine a sua mente, lembre-se de tudo e aprenda mais rápido” e “Aprenda Inglês com Séries”.
- Mario Sérgio Cortella: “O melhor do Cortella: Trilhas do Pensar – Ideias, Frases e Inspirações”.
- Mônica Cristina: “Vale dos Amores”, “Aliança”, “Sucessor”, “Oriegem”, “Dakota” e “Dominique”.
- Nana Pauvolih: “Além do olhar”, “Ódio”, “O dia em que você chegou”, “Aquele homem” e “Seduzida”.
- Tiago Reis: “101 Perguntas e Respostas para Investidores Iniciantes” (junto com Felipe Tadewald).
Princípios básicos para quem for se aventurar no KDP (fornecidos pelo Alexandre Munhoz)
1. Atenção para os meta-dados. O cadastro tem de ser muito bem feito, as informações do livro têm de ser claras, precisas e completas. Isto facilita a busca do livro na plataforma, a indexação do livro aumenta.
2. Revisão: é muito importante realizar uma boa revisão do livro a ser publicado antes e não hesite em procurar ajuda de um terceiro, que poder ser um colega ou um profissional treinado na área editorial.
3. Capa: a capa deve ser atrativa. A capa é a embalagem do produto e os clientes devem perceber o cuidado com este tipo de detalhe.
4. Divulgação: os casos de sucesso estão relacionados a autores que se preocupam com a promoção do livro. O autor muitas vezes tem uma comunidade que os seguem e isso acaba sendo importante para fazer a “roda girar” e aumento das vendas.