O sinal amarelo foi dado na 6ª-feira. Reportagem dos jornalistas Julio Wiziack e Paula Soprana, publicada na Folha de S. Paulo (Mercado, página 5), traz alertas das operadoras de banda larga: se o pico de uso ultrapassar 150% haverá um apagão de Internet banda larga no Brasil.
Segundo a reportagem, com base em informações coletadas em empresas como Claro, TIM e Vivo, desde o início da crise causada pela pandemia do novo coronavírus Covid-19, houve um aumento de 40% no tráfego de banda larga fixa.
Também ontem, 6ª-feira, o ministro da Saúde do governo Bolsonaro, Luiz Henrique Mandetta, declarou que é esperado um colapso da rede de atendimento hospitalar no final de abril. Se projetarmos o mesmo cenário para as redes de telecomunicações, é plausível que ocorra o mesmo (colapso) na rede de banda larga fixa neste período?
Em “Independence Day”, filme dirigido por Roland Emmerich e exibido em 1996, o mundo é invadido por alienígenas cuja primeira providência foi eliminar toda a rede de comunicação e dados conferida pelos satélites geoestacionários (naquela época não havia as constelações de satélites LEO e MEO, de baixa e média órbita). Sem rede de telecomunicação para que as pessoas se comunicassem remotamente, a saída das forças governamentais, incluindo o exército, foi utilizar um sistema de comunicação criada em 1835 por Samuel Morse, a rede telegráfica.
Para quem, como eu, achava o filme “2001, Uma Odisséia no Espaço”, o máximo de futuro, é impressionante ver o Brasil em 2020 em uma situação em que nos encaminhamos, espero que não, para um apagão da comunicação. E o que restaria para o cidadão comum, que não sabe como operar um aparelho do tipo código Morse? O sistema broadcast.
O conceito deste sistema pode ser resumido em poucas palavras: é uma rede de transmissão de sinais ponto-multiponto. De uma única geradora de sinais de TV, localizada em um ponto (antena ou cabo de rede) é possível enviar sinais para milhões de pessoas em todo o país. Não há sistema que consiga “carregar” milhares de gigabites que caracterizam os conteúdos audiovisuais e distribuí-los tão rapidamente quanto a TV, e digo não só TV aberta quanto TV por assinatura.
Ontem mesmo, li na Sonia Racy a informação que o “telefone de Francisco Campera [diretor-geral da Fundação Roquette Pinto, responsável pela TV Escola], não para. Motivo? A TV Escola está abrindo toda sua estrutura para tentar atender estados e municípios cujas escolas estão fechadas. Ontem, ele enviou ofício ao ministro Abraham Weintraub, com quem pode ter uma conversa nos próximos dias …”. A coluna do jornal O Estado de S. Paulo informa ainda que parte dos conteúdos se encontram disponíveis nas Redes Sociais. E se houver apagão na Internet? Apenas o sinal da TV Escola, que está disponível em TV aberta, parabólica e nos pacotes “lifeline” (não pagos) das operadoras de TV paga é que será capaz de levar educação para crianças, além de capacitação para professores, neste momento de apagão das aulas.
Os canais de TV aberta e TV paga, principalmente os canais lineares de jornalismo, estão experimentando picos de audiência nos últimos dias. A GloboNews ficou em primeiro lugar no ranking de TV por assinatura esta semana no composto dos canais de TV paga, e em quarto lugar na lista geral, que inclui a TV Globo, SBT e Record, o melhor resultado do canal desde março de 2019.
O negócio de TV paga tem despencado: as operadoras perderam mais de dois milhões de assinantes nos últimos dois anos por causa da recessão, baixo crescimento do país e migração para o streaming por parte da classe média; agora muita gente está literalmente grudada nesta mídia “ultrapassada”. Os “especialistas” também decretaram a morte iminente de outro formato de mídia, o “canal linear”, por não acompanhar as transformações da sociedade, embora tenhamos visto, não sem certa estupefação, o lançamento de um novo canal de notícias 24 horas, a CNN Brasil.
Em um eventual apagão da Internet no Brasil, só sobrará a TV como fonte de comunicação de massa, além da rádio, que é regional. Me pergunto onde vamos chegar e qual será o impacto da pandemia do Covid-19. Haverá apagão de banda larga? O governo, em conjunto com as operadoras de telecom, proibirá o uso da Netflix e plataformas de streaming durante a crise para não sobrecarregar a rede? A Netflix se antecipou e informou que não transmitirá conteúdos em 4K enquanto estivermos enfrentando a Covid-19.
Em um cenário radical e de guerra (contra a pandemia), em que os cidadãos poderão contar apenas com as redes de energia elétrica, a única saída para sermos informados pelas autoridades e receber conteúdos checados (e não fake News) serão, veja que ironia, os “moribundos” canais lineares das TVs abertas e das TVs pagas.
Será? Espero que não cheguemos a este ponto e eu não tenha que escrever o chavão “quem viver, verá”.