Há poucos dias, conversando com os editores do Jornal 140, contei uma história, não apenas inspirada em fatos. Ela realmente aconteceu, não é daquelas que vemos em filmes, do tipo inspirada em fatos reais. Uma história que me persegue desde que me conheço por gente. E como acontece com todos nós, quando algo acaba residindo em nossa memória durante muito tempo, preste muita a atenção nessa mensagem que vem de dentro.
Precisei de uns dez minutos para contar eles, mas vou encurtar e, principalmente, revelar porque ela é tão poderosa, ainda mais para quem trabalha nas áreas das expressões humanas, artísticas, mercadológicas, de comunicação etc.
Aconteceu em Poços de Caldas (MG), há uns 90 anos. Eu ainda não estava por aqui, mas um dia me contaram.
A família de meu pai, João Batista, meus avós e tios, imigrantes italianos se instalara por lá no começo do século passado. E certamente, vocês que me leem sabem como foi o começo da vida dos imigrantes. Quase todos lutando por um espaço social e profissional, mas com uma mão na frente e outra atrás.
Un bel giorno, minha avó Maria José, vovó Cocota para os íntimos, chamou meu pai João Batista e meu tio José, garotinhos ainda, e disse: vocês vão à feira. E deu a eles uma cesta de vime cheia de pastéis para venderem e conseguirem alguns trocados para família. Por precaução, ela cobriu a cesta com um pano para proteger o rico conteúdo contra mosquitos e outros bichinhos e insetos. Posso garantir que os pastéis da vovó Cocota eram nota 10, porque, anos depois, morei junto com ela e volta e meia ela nos deixava muito felizes com seus pastéis.
Bem, mas e a surpresa quando os garotos voltaram da feira. Minha avó perguntou: venderam tudo? Os garotos se entreolharam desenxavidos, baixaram a cabeça e revelaram o trágico resultado: não haviam vendido nenhum! Mas porque, ela perguntou, vocês levantaram o pano? Não, foi a envergonhada resposta dos dois.
O que eu aprendi, às custas da desventura do meu pai e meu tio? Três lições. Aí vão elas.
A primeira lição: se você estiver convicto mesmo de que o pastel é bom, aceite o desafio, deixe a inibição em casa e levante o pano. Não perca essa chance e não espere que alguém faça isso por você. Ou pior: que algum concorrente levante o pano antes. Eu sou engenheiro e já convivi com outros tantos engenheiros que não fabricam pastéis mas criam maravilhosos produtos. E já ouvi muito uma conversa dizendo que quando o “pastel” é bom ele se vende sozinho. Doce ilusão. Ajude sua obra a ganhar vida, levante o pano com orgulho.
A segunda lição: no entanto, se você tiver alguma dúvida sobre a qualidade do pastel, o melhor a fazer não é deixa-lo coberto, o mais honesto é nem ir à feira! Vovó Cocota só chamou seus filhos para “operação comercial” quando ela havia conseguido criar a receita de sucesso. É o que me disseram depois. E hoje, você sabe, há tantas ofertas nas atuais “feiras” da vida, em que ninguém engana mais ninguém com pasteizinhos meia boca.
A terceira lição: nas empresas, há os que sabem fazer bem “pastéis” e há os que são bons para vendê-los. Nunca acreditei nos que dizem que jogam bem em qualquer posição. Pois bem, deixem que as vovós Cocotas tenham certeza da qualidade do que sai da frigideira. E os Josés e Batistas saibam como seduzir os que passam e se encantam com a tentação do que se esconde e se revela sob o pano esvoaçante.
Em Poços de Caldas, em São Paulo, em Inúbia Paulista, no Rio de Janeiro…onde quer que seja, as empresas e pessoas que melhor sabem gerenciar a relação entre pano e pastel sempre estarão no topo da “cadeia alimentar do mercado”.