Eu demorei e relutei bastante para escrever esse conteúdo aqui.
Não por medo, como você deve estar pensando. Tampouco por preguiça, como você também deve ter cogitado. Procrastinação? Talvez. Mas eu demorei por puro perfeccionismo. Pois é, quem diria que o perfeccionismo me levaria a deixar de escrever.
Mas é real, o perfeccionismo é uma das maiores causas pelos quais things do not get done(As coisas não são feitas) – O inglês foi puro efeito que resolvi manter em profundo respeito ao meu novo estilo: ‘Não perfeccionista’, espero que entenda.
Não me leve a mal, o perfeccionismo foi um forte aliado durante muito tempo, graças a ‘ele’ tive notas boas na faculdade, fui campeã invicta como titular de um time de vôlei por 4 anos seguidos, aprendi inglês em 1 ano e aprendi a nadar depois dos 25 anos mesmo com medo de água. A ideia aqui não é ressaltar minhas conquistas, mas te dizer que o perfeccionismo me trouxe até aqui. E graças a ele tive meu primeiro breaking point – Sim, aqui é literal, eu quebrei, mas não se preocupe já estou remontando as peças novamente, ta tudo certo.
Eu quebrei mesmo
Em julho de 2019 eu entrei em burnout, dias vão e dias vem e fui diagnosticada com depressão e por isso tive de ser afastada do trabalho. Imagine você que desde o dia que fui admitida em uma multinacional, conheci a pressão de fazer carreira, de mostrar que sou boa, de conquistar a confiança de gerentes à diretores por meio do meu comprometimento com o trabalho e de repente, tudo aquilo desmorona porque é exatamente a ambição de crescer na carreira e provar meu valor que me adoeceu.
Ta começando a fugir do tema, vc deve estar se dizendo agora, mas não se preocupe, toda essa contextualização foi pra te dizer, que eu cheguei lá.
Tudo o que eu me comprometia a fazer, me dedicava 130% por cento e isso incluía dormir 40 minutos em 4 dias na organização de um evento. Nunca foi obrigação, era comprometimento e eu queria que tudo fosse PERFEITO.
O burnout chegou, exatamente quando eu me vi em estado de estagnação. Quando estava indo tudo bem, eu tinha uma chefe que é minha amiga(por quem aliás, eu agradeço todos os dias pois me mostrou o significado da palavra líder), colegas de trabalho por quem sentia admiração e a retórica era verdadeira. Diretores que me conheciam pelo meu trabalho e eu acabara de receber um aumento pelo qual lutei durante 2 anos. Estava tudo ok!
Mas não estava, PERFEITO.
Eu queria muito mais. Precisava de mais, por que embora estivesse bom, não estava perfeito. E foi nesse momento onde o perfeccionismo me traiu. E não sou só eu,
“Duas em cada cinco crianças e adolescentes são perfeccionistas”
diz Katie Rasmussen, que pesquisa o desenvolvimento infantil e o perfeccionismo na Universidade de West Virgínia, nos EUA. Estudos feito em Washington mostrou que a ascensão social antecipada de jovens entre 20 a 25 anos, se deve ao perfeccionismo exacerbado e que tem levado milhares de jovens a desenvolverem condições clínicas ligadas à ansiedade precoce, estresse e consequência de uma demora no diagnóstico, depressão.
Fez todo sentido pra mim, ler isso. Afinal, tinha tudo a ver com o que tinha acontecido comigo. De acordo matéria publicada no site BBC:
… o perfeccionismo é, em última análise, uma forma autodestrutiva de viver. E é construído sobre uma ironia cruel: cometer e admitir erros são partes fundamentais do desenvolvimento, da aprendizagem, de ser humano.
Me desculpe se soar exagerado, mas acredite, o perfeccionismo começou a me dar medo de arriscar e ser criativa e com isso, passeia a ter crises de ansiedade na entrega e apresentação de um projeto e até sair da cama em um dia onde eu tivesse que estar presente em uma reunião importante.
Mas então vem a reviravolta que você estava esperando
Por que depois de muita reflexão, parar com os anti-depressivos, terapias e iniciar uma jornada de auto-conhecimento muito louca, eu descobri que tudo o que aconteceu foi parte de entender o papel do perfeccionismo na minha jornada profissional.
A máxima do: “Melhor feito do que perfeito” passou a tomar conta de uma parte considerável da minha vida, e comecei a entender que nunca foi falta de coragem ou preguiça, mas a necessidade de fazer perfeito, por que eu precisava de duas coisas:
Aprovação e comparação. Eu precisava, que me dissessem que eu era boa e eu olhava sempre para a grama do vizinho que clichê ou não, era sempre mais verdinha.
Existem duas visões diferentes para o perfeccionismo
A visão de dar o melhor de si que puder a tudo que se propor e a de querer que saia tudo perfeito, custe o que custar. É, possível uma tática de vida que não torne antagônica estas duas formas de pensar? Sim, por que não são opostas.
Entender isso, não me transformou em uma nova mulher, não se engane. Mas me tornou mais alerta aos sinais de que eu estava deixando de criar, de começar algo novo ou de simplesmente fazer uma tarefa que precisava ser feita. E aprender com isso, que a grama do vizinho não é tão verde quanto parece e que é preciso admitir pra mim mesma primeiro, que eu sou boa antes de outra pessoa.
A propósito, se você achou algum erro ortográfico, gramatical e qualquer que fosse aqui nesse texto, vou culpar meu novo eu que deu mais valor à coragem de apertar o botão publicar do que revisar esse texto.
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