Acordei, peguei o celular e abri o Twitter. Vi vários tweets com links de notícia sobre a morte de João Pedro, um menino de 14 anos, que estava em casa e foi baleado pela polícia do Rio de Janeiro. Mais uma criança negra assassinada pelas mãos de uma instituição racista que deveria proteger. Fico com o coração apertado e desço a tela do aplicativo no meu celular. Vejo gente discutindo sobre usar a bandeira do Brasil depois do nome no usuário do Twitter para tirar a ideia de que só pessoas de extrema direita são patriotas. Desculpa para os que concordam com isso, mas não tenho a menor vontade de usar novamente verde e amarelo. A camiseta da CBF, que antes me trazia lembranças futebolísticas, agora me lembra o fascismo à brasileira: seguidores robóticos que votam para perder direito e quem defende o uso de cloroquina sem nenhuma base científica.
Acredito que a pandemia vá mudar por um tempo considerável – e talvez de forma permanente – a rotina. Mas também creio que algumas coisas (que não deveriam) vão continuar iguais. É difícil seguir a recomendação médica de ficar em casa para escapar do vírus se balas de fuzil te encontram. Mais complicado ainda é saber que essas balas só vão encontrar corpos negros e pobres. É desanimador ver que os bilionários vão continuar lucrando usando mão-de-obra explorada. E que não estão nem aí para caso você pegue COVID-19. Ou qualquer outra doença. Afinal, é só contratar outro no lugar. Outra engrenagem viva no grande maquinário capitalista. A ficção tem que ter coerência e coesão, fazer sentido para não ter furos no roteiro. A realidade, não. É paradoxal, revoltante e nojenta.
O que me conforta é saber que não é só eu que estou indignada, cansada e revoltada. Não estou sozinha. Infelizmente todos estamos no mesmo barco que não para de afundar. Conto com a união de certas pessoas. De outras, quero distância. E não é só por causa do isolamento social…
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