João Cravinhos é naturopata especializado nas medicinas taoístas e criador de conteúdo digital no Instagram @jp_terapias. Desde os 14 anos estuda a filosofia dos povos antigos e as culturas tradicionais e xamânicas, interesses que culminaram em práticas e, posteriormente, se tornaram seu estilo de vida atual.
Sob essa óptica, o terapeuta explica alguns fatos do mundo como consequências de acúmulos de desvirtudes e imediatismos do ser humano:
“Filosofias tradicionais são muito pouco floridas. Para elas, a realidade é a realidade, o belo e o feio dependem do ponto de vista. Dentro dessa lógica, as coisas acontecem como reflexo do nosso agir. A filosofia taoísta diz que virtudes nada mais são que consequências de boas ações. Então, quando nos distanciamos do respeito e da harmonia com a natureza, estamos colhendo não-virtudes e conflitos. Não percebemos a curto prazo porque tendemos a ter uma visão reduzida, se atentando ao que está na nossa frente ou dentro de 30-50 anos. Tudo que fazemos tem manifestação visível e invisível. Se só agimos a partir do visível, não pensamos nas consequências invisíveis que se manifestarão no futuro.”
Ele exemplifica as retaliações citando tragédias climáticas e socioambientais, epidemias e escassez de recursos. Então, adentramos ao assunto da pandemia atual:
“Vivemos uma crise na saúde na qual muitos seres preferem pensar na economia do que salvar a humanidade. Nós, seres humanos, criamos a economia para facilitar nossa vida. Quando a nossa vida está em risco, porque essa preferência? A sociedade está fora de si, vivendo em ilusões das criações próprias.”
Ele expõe a posição do ambientalista indígena Ailton Kranak, dizendo que as situações já são irreversíveis. Quando questionado se considera haver alguma possibilidade de melhora, reflete quanto ao que seria necessário para tal e a complexidade que requer a interiorização de novas possibilidades:
“Precisamos perceber que o estilo de vida que levamos é um projeto suicida, voltar vários passos pra trás e fazer direito. Buscar harmonia. Escutar conhecimentos dos invisíveis, que a filosofia ocidental, criança, não atingiu. E, assim, começar a reparar os erros. Em muitos casos, não será possível, por exemplo, uma espécie extinta não pode voltar à vida. A nível interno, mudar a postura é um grande começo. Isso requer humildade para ouvir e reconhecer os erros, baixar as armas.”
Novamente citando Kranak, alega que “o ser humano precisa aprender a pisar mais leve”. Segundo ele, a proposição é sintônica à filosofia taoísta, que aponta a necessidade do ser posicionar-se receptivamente ao que a natureza lhe traz, e não impor suas vontades, conforme o faz todo o tempo.
Conversamos, então, sobre o conjunto de realidades individuais gerar a coletiva, alegando que a grande mudança é composta por um agregado de modificações pessoais. Assim, divagamos sobre o potencial transformador das medicinas. João discorreu sobre suas concepções:
“As medicinas tradicionais têm como foco fazer com que a pessoa restaure a harmonia dentro de si. Atua fortalecendo os muros da nossa cidade chamada corpo. É uma forma preventiva, faz com que o organismo fique firme para enfrentar o que possa vir. Isso não é promovido de maneira imediata, de forma imperativa ou agressiva. Tem que ser feito preferencialmente com várias pequenas atitudes do dia a dia, ao longo da vida da pessoa. Pouco adianta ver alguém e tratá-lo se ele não continua o tratamento internamente consigo. É confiar ao paciente certa responsabilidade sobre sua própria saúde.
A medicina ocidental trabalha de forma diferente. Ela traz o tanque de guerra para dentro do corpo frágil e ataca o inimigo. É um tratamento incisivo. Como pontos negativos, há os efeitos colaterais dos remédios e o alto preço dos equipamentos por vezes necessários.
Quando as situações atingem seus ápices, a medicina ocidental é muito mais eficaz. A tradicional possui como objetivo não chegar neste ponto.”
No mais, expôs que as perspectivas sobre saúde são distintas:
“Uma pessoa saudável, para um médico ocidental, é alguém que não apresenta sintomas. Para o médico tradicional, uma pessoa doente é aquela que não está em harmonia com os fluxos da vida.”
Questionado sobre as contribuições dessas áreas ao momento histórico que vivemos, apresentou uma reflexão:
“Um grande problema da pandemia é o fato de que não conseguimos atender todos os pacientes. É caro manter uma UTI, aparelhos como respiradores são caros… Penso no exemplo da China. O país conseguiu conter a disseminação do vírus com práticas aplicadas simultaneamente, por exemplo, além de administrar um lockdown (protocolo de isolamento), distribuiu chás de fortalecimento interno contra as energias agressivas.”
Para concluir seu pensamento, deixa um parecer urgente:
“A sociedade moderna (advinda da influência europeia) é bélica. A Europa espalhou um modo de visão através de guerra e dominação. A filosofia que move a sociedade moderna é a da ciência ocidental. Essa ciência nasceu com a mesma característica, impondo aos outros o que considera certo e errado. A ciência sempre existiu, o conhecimento cientifico é logico. As medicinas tradicionais nasceram de testes empíricos, os preceitos do que é mensurável que são diferentes. Conhecimento tradicional considera o invisível, o sutil A ciência nova quer desconsiderar tudo feito há milênios. Mal percebem que indígenas viviam em harmonia com a natureza há muito tempo, e por conta da sabedoria acumulada, sabiam não poder desrespeitar tudo isso.”
Seu pedido final? Respeito às culturas tradicionais que, mesmo no dia de hoje, resistem.
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