Antes de começar o texto, quero informar que me inspirei no artigo da Raíssa Fernanda em que ela diz coisas que gostaria que os amigos brancos soubessem. Se você for uma pessoa branca, como eu, a leitura deste e outros textos é super importante. Por isso, resolvi fazer a versão bissexual, afinal eu sou.
Junho é o mês do Orgulho LGBTQIA+. Em 1969, houve a revolta de Stonewall, em Nova York, nos Estados Unidos, contra a repressão policial que acontecia frequentemente em bares e comércios frequentados por LGBTs. Por isso, este mês ficou marcado como histórico. E não podemos esquecer que a luta antirracista e contra LGBTfobia andam juntas, já que as pessoas negras da comunidade, principalmente trans, são as que mais sofrem violência e têm expectativa de vida reduzida.
Queria informar que este texto não é uma saída de armário. Eu falo sempre sobre minha orientação sexual. Porém, sinto como se tivesse que sair do armário em todo ambiente novo que frequento, principalmente os que são compostos majoritariamente por pessoas que não pertencem à sigla. E quando digo que sou bissexual ou conto sobre alguma experiência minha com mulheres, algumas reações são, infelizmente, frequentes. Por isso, darei alguns recadinhos.
Primeiro: não é por eu ser bissexual que darei em cima de qualquer pessoa. Eu não me interesso por todas as pessoas existentes no planeta. E nem sempre tenho vontade de sair com alguém. Noto que algumas mulheres héteros têm um pouco de dificuldade em ficar à vontade quando tem uma lésbica/bissexual no mesmo ambiente. Não se preocupe: minha sexualidade não gira ao seu redor, ok?
Segundo: bissexuais não são mais promíscuos do que o resto das pessoas. Não temos uma vida sexual frenética e louca o tempo todo, ainda mais em tempos de pandemia. E não temos mais chances de trair alguém em um relacionamento. Lembre-se: o ser humano é promíscuo. A família tradicional brasileira, composta por marido, esposa, amante e filhos não me deixa mentir. Às vezes não queremos sair, ficar ou namorar com ninguém como todo mundo.
Terceiro: perguntar se alguém faria um ménage ou daria um beijo triplo sem contexto nenhum é extremamente desrespeitoso e fetichista. Não deduza supostas fantasias sexuais a partir da orientação sexual alheia. Nem chame pessoas desconhecidas, com as quais nunca teve conversa sobre sexo e relacionamento, para transar. Tudo depende de diálogo. Não seja babaca.
Quarto: é comum pessoas héteros falaram a frase ”não concordo, mas respeito”. Nunca compreendi verdadeiramente esta frase. Caso você não pertença à sigla, não tem que concordar com nada. Pessoas LGBTQIA+ existem desde que a humanidade surgiu. É natural. Nossas vivências e experiências não são questões de opiniões ou pontos de vistas que podem ser mudados. É como se alguém falasse que não concorda com a minha altura ou com a cor dos meus olhos. Tudo isso faz parte de mim, é imutável.
Quinto: como a Raíssa Fernanda frisou no texto dela sobre não ser função de pessoas negras educarem brancos sobre racismo, também não é função dos LGBTQIA+ educar sobre LGBTfobia. Tenha a proatividade de procurar saber sobre artistas e profissionais e como ser um aliado da causa. Não espere que pessoas da sigla estejam sempre dispostas a contar sobre violências que sofreram.
Por enquanto, o recado está dado. Mas lembre-se que as lutas antirracista e contra LGBTfobia duram o ano todo, não só quando viram o principal assunto nas redes sociais ou ações de marketing.
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