Há muitas formas de se viver o tempo, na minha opinião é preciso um certo treino para manter sua atenção no presente. Muitas vezes me pego lá, num passado idealizado, como gosto de contar para os meus filhos e, que tantas vezes ouvi dos meus pais,…no meu tempo as coisas eram diferentes.
Minha década de 90 foi o máximo assistindo o TOP 10 da MTV com a Astrid, Thunderbird, Cazé, ou ainda nos canais abertos os clips mega repetidos do meu grupo favorito: New Kids on The Block. Os bailinhos de garagem embalados por Debbie Gibson.
Enfim bons tempos, digo agora, mas naquela época lembro de deixar de sair muitas vezes para não mostrar minhas espinhas, que pipocavam aos montes.
Falando em pipoca, recentemente o Guaraná Antártica fez o remake de seu grande sucesso, na voz de Manu Gavassi, aproveitando seu engajamento com o público após sua participação no BBB desse ano.
Eu amava essa propaganda e, ouvi-la novamente, me transportou para a minha adolescência, o quanto eu adorava esse match pipoca e guaraná.
Achei no mínimo curioso esse feito, tipo máquina do tempo, um convite ao passado, sob esse olhar idealizado. Ao projetarmos nossos medos no futuro acabamos por nos consolar com o que já foi.
Mas, se a grande maioria deixou de pensar o futuro, não o fez por opção, mas sim porque o que estamos vivendo hoje não nos permite visualizar um horizonte muito positivo. O pouco que se tem hoje, misturado com a incerteza do que teremos amanhã.
O sociólogo Zygmunt Bauman, em sua obra Retropia, lançada após sua morte em 2017, já nos alertava desse comportamento. A desconfiança no futuro nos faz idealizar o passado.
Sempre muito atento aos movimentos e à cultura da sociedade, Bauman nos advertiu sobre esse fenômeno, a nostalgia se veste como uma possível solução para tempos presentes, como um mecanismo de defesa. Planos de outrora, mantidos em hibernação, parecem encontrar espaço para ressuscitar. É preciso ter cautela.
Com o advento da pandemia, que de fato nos mostrou as duas faces da mesma moeda: de um lado muita solidariedade, por outro um descaso perigoso e absurdo. Encontramos, em número considerável, pessoas pedindo a volta de uma intervenção militar como possível solução para esse caos. Seria um retrocesso. Batalhamos tanto pela liberdade que temos, não me parece justo essa regressão, se alguns poucos ainda não sabem o que fazer com a sua.
Acredito que é difícil fazer esse exercício de como será o nosso futuro. Mudamos tanto em tão pouco tempo. A transformação digital em velocidade máxima. Podemos até parafrasear com Juscelino, ao inaugurar Brasília: “50 anos em 5”. No nosso presente pandêmico ouso dizer que avançamos 5 anos em 2 meses.
O passado pode até oferecer um lugar quentinho, assistindo tela quente com pipoca e guaraná, entretanto avançamos muito em nossos desafios e medos para nos deixar seduzir por um passado idealizado. Não somos mais os mesmos e não vivemos como os nossos pais.
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