Devido a pandemia de COVID-19 opções alternativas relacionadas a saúde física e mental tem sido um ponto de interesse frente ao cenário de isolamento social. O aumento pela procura e acesso, principalmente no setor da saúde, à lives, aulas online, ensino à distância, atendimentos à distância, demonstra essa realidade, que busca diferentes meios de contato com o paciente/cliente.
Neste panorama é crescente o número de práticas que propõe um mergulho profundo sobre a mente e o corpo nas redes sociais. Aulas online de meditação, yoga, práticas corporais, artes marciais, fitness, atendimentos terapêuticos e psicológicos, serviços até então pouco explorados no mundo digital. Profissionais antes contrários a tais métodos se vêem frente a excelentes oportunidades de divulgação e ampliação de seu trabalho.
No Brasil em especial a procura por terapias e práticas que visam o bem-estar físico, emocional e espiritual são recebidas e adotadas com afinco. Esse campo engloba um enorme conjunto de atuação, desde naturopatia a métodos como bioenergética, reiki, musicoterapia, constelação familiar, entre outros. Não é a toda que muitas de tais práticas foram integradas ao sistema de saúde (SUS) através das PICS (Práticas integrativas e complementares).
Dentro dessa perspectiva entrevistamos a professora Janaína Araújo pioneira em Lu Jong, prática milenar utilizada pelos monges Tibetanos, também conhecida como Yoga Tibetano. Residente de Belo Horizonte é a única representante oficial apta a formar professores no Brasil, ela recebe ensinamentos frequentes de seu mestre Tulku Longsang Rinpoche e atualmente se dedica a divulgar a prática no país.
Janaína: Primeiramente eu gostaria de registrar, que é uma alegria enorme ter a oportunidade de abrir este conhecimento a todos as pessoas que leem o Jornal 140 pois é meu desejo sincero que o maior número de pessoas possível possa ser beneficiado por esta prática. Obrigada!
Pode nos falar um pouco sobre o que é o Yoga Tibetano Lu Jong?
Em tibetano Lu significa corpo e Jong significa transformação. O Lu Jong é uma prática, ligada à tradição de conhecimentos Tibetanos, transmitida de mestre a discípulo há mais de 8000 anos. Trata-se de um yoga do movimento ligada à via Tantrayana de ensinamentos budistas e também à tradição ancestral tibetana denominada Bön. Isso significa que esta prática já existia no Tibet mesmo antes do Budismo chegar ao país. A prática tem raízes em diferentes linhagens, e, portanto, diferentes formas de ser ensinada. Na via trantrayana o corpo é considerado o veículo para o desenvolvimento e transformação.
A prática que aprendemos atualmente, no ocidente, e que eu ensino, pertence à linhagem do mestre Tulku Lobsang Rinpoche, que foi quem adaptou os movimentos, das diferentes linhagens das quais recebeu ensinamentos, aos corpos e às necessidades dos ocidentais. Isso aconteceu porque na medida em que ensinava e atendia, como médico, Tulku Lobsang Rinpoche, percebeu que esta prática seria muito útil e benéfica em função dos principais problemas de saúde aos quais estamos submetidos, principalmente em função do nosso estilo de vida distante dos aspectos mais naturais de funcionamento do corpo e da mente.
De primeiro relance, até pelo nome, já associamos a prática de Lu jong ao Yoga de raiz Indiana. Quais as diferenças do Lu jong para outros métodos de práticas corporais?
Eu já pratiquei diferentes yogas indianos, mas nunca me especializei em nenhum deles, portanto, eu realmente não poderia comentar sobre estas práticas com segurança. No entanto pratico Lu Jong há 7 anos e me tornei professora e formadora de professores dessa prática. O Lu Jong é uma prática muito sutil, os movimentos são sutis, no entanto muito poderosos e de grande benefício para a saúde do corpo e da mente. Acredito que este seja o objetivo de todo yoga, mas eu realmente nunca encontrei tantos benefícios em uma prática quanto encontrei no Lu Jong e ainda a considero uma prática muito prazerosa de ser praticada. Nunca nos sentimos cansados, ou em estresse durante a prática e logo no início da prática já sentimos os benefícios.
Quais os benefícios físicos e mentais dessa prática?
Em relação ao corpo o Lu Jong traz benefícios diretos como fortalecimento dos músculos, mais força, maior flexibilidade, fortalece o sistema imunitário, aumenta a resistência a doenças, o metabolismo funciona melhor, os sentidos também ficam fortalecidos, vemos e ouvimos melhor.
Em relação à mente o benefício mais imediato é que os movimentos de Lu Jong equilibram e acalmam a mente. Ainda purificamos a mente de obscurecimentos como a raiva, ciúme e orgulho e a despertamos para condições favoráveis como a paciência, compaixão e a generosidade. Na medida que intensificamos a nossa prática nossa mente fica mais compassiva, calma e alegre, repousando em uma felicidade natural.
Tudo isso não só ajuda a prolongar a nossa vida como, principalmente, nossa qualidade de vida. O Lu Jong é uma meditação em movimento que nos ajuda a aumentar o nível de consciência que temos do corpo e da mente, com isso aprendemos a criar menos problemas, temos mais energia no corpo e mais equilíbrio, e paz em nossa vida. Por fim somos mais felizes.
Há alguma restrição ou requisito para praticar Lu Jong?
Nenhuma. Todos os movimentos e Lu Jong podem ser executados por qualquer pessoa, mesmo crianças, mulheres grávidas e pessoas de maior idade. Todos os movimentos são adaptados para serem feitos usando uma cadeira, quando necessário, e também existem adaptações para alguns movimentos que podem ajudar segundo a condição de cada aluno.
Quando teve seu primeiro contato com o Lu Jong?
Conheci o Lu Jong em 2014, em um ensinamento com o mestre Tulku Lobsang Rinpoche, quando ele esteve no Brasil e me apaixonei pela prática e pelos benefícios que senti imediatamente. Depois disso nunca mais parei de praticar e me dediquei aos ensinamentos transmitidos por ele indo regularmente duas ou três vezes à Europa por ano. Atualmente, também pratico outros yogas do movimento ensinados pelo mestre como Tog Chöd, Tsa Lung e Tummo.
O que te conquistou nessa prática a ponto de se tornar professora e posteriormente formadora e responsável pelo crescimento da prática no Brasil?
Principalmente a possibilidade que o Lu Jong me trouxe de aprofundar a minha prática de meditação. Eu nunca havia experimentado uma calma tão profunda na minha mente quanto experimentei após minha primeira prática de Lu Jong. Foi definitivamente um tibummm.
Eu Sempre estive dedicada a práticas e diferentes ensinamentos e nada me trouxe aquele nível de conforto e calma. Na medida em que fui me aprofundando nos ensinamentos do budismo tibetano e percebi que aquele era um caminho muito claro com métodos muitos consistentes e que poderiam me apoiar integralmente. Com o tempo comecei a compartilhar esses ensinamentos com outras pessoas e notei que isso me fazia muito bem, me trazia grande alegria ver as pessoas sentirem aquilo que um dia eu senti. Eu sempre tentei beneficiar as pessoas com o meu trabalho, com minhas ideias, trabalhei muito anos com inovação justamente por acreditar nesta possibilidade.
Mas nada que eu já havia feito havia realmente trazido tantos benefícios às pessoas. Então foi uma consequência natural, fui fazendo o que me trazia alegria e com o tempo estava ensinando e formando professores.
Quais os relatos daqueles que tem um primeiro contato com a prática?
De maneira geral as pessoas relatam sentir grande calma, alegria e mais facilidade para meditar, alguns dizem que nunca haviam conseguido meditar e que após a prática de Lu Jong foi muito fácil meditar. Também relatam uma grande abertura e conexão com sentimentos de amor e compaixão e em alguns casos especiais já recebi relatos de desbloqueios emocionais fortes com os quais a pessoa lidava há anos. Em relação a alunos com mais tempo de prática geralmente, recebo mais relatos de mudanças positivas no corpo, cura de algum tipo de problema físico ou doenças e aprofundamento no interesse espiritual.
Quais as dificuldades e desafios em implementar algo novo no Brasil?
Acredito que a principal dificuldade é realmente o processo de comunicação, de fazer com que as pessoas saibam que a possibilidade de aprender e praticar estes ensinamentos que até muito pouco tempo eram considerados secretos no Tibet chegou ao Brasil. Mas na medida em que vão existindo mais professores no país acredito que este desafio será superado e cada vez mais pessoas terão acesso a estes ensinamentos preciosos.
Quem pode se tornar um professor de Lu jong? Há algum requisito?
Sim existem alguns requisitos: Qualquer pessoa acima de 18 anos pode tornar-se professor(a) de Lu Jong, desde que conclua o processo de certificação de professores da Nangten Menlang International – NMI (Centro de Medicina Budista, conduzido por Tulku Lobsang Rinponche com sede na Áustria). Para isso, o aluno(a) candidato(a) a professor(a), deve participar do Curso de Formação de Professores, com um formador certificado, deve ser aprovado em todos os exames (práticos e escritos) e ainda participar de uma Master Class, de três dias, com Tulku Lobsang Rinponche para receber sua transmissão direta e as bênçãos para ensinar o Lu Jong em seu nome. Atualmente, os brasileiros têm a possibilidade de participar da Master Class no formato on-line e assim evitar de viajar para a Alemanha, onde acontece o evento mundial de certificação de professores.
Além disso os futuros professores de Lu Jong devem estar verdadeiramente motivados a receber e divulgar esta prática preciosa, com o cuidado e respeito que ela merece.
Atualmente você se encontra no processo de divulgação da prática no Brasil, no atual panorama devido a COVID-19 quais meios têm utilizado para tal?
Eu sempre trabalhei com grupos reduzidos de no máximo 6 alunos tanto para aulas quanto para formações. Quando tive notícias sobre esta questão do COVID-19, tomei iniciativas de controle no meu estúdio, e desde que iniciamos a quarentena no Brasil todas as aulas são on-line. Inclusive a própria formação de professores, com autorização da Nangten Menlang, foi adaptada para um modelo de ensinamentos misto onde a maior parte do conteúdo e dos exames será feito on-line. Teremos apenas um encontro presencial no próximo ano, e espero que até lá tenhamos uma condição mais segura e confortável para o encontro.
As redes sociais demonstraram ser não somente uma ferramenta de divulgação, mas uma forma de interação entre professor/aluno, como tem sido para você essa transição da prática presencial para aulas a distância?
Para mim esta transição foi muito fácil porque eu já tinha muita experiência com ensino, fui professora na Pós Graduação da PUC Minas por cerca de três anos, e também já tinha bastante experiência com reuniões on-line. O mais importante foi investir nos equipamentos e estratégias corretas que permitissem aos alunos ter uma boa experiência dos ensinamentos e também me permitissem fazer um bom trabalho.
Em relação aos alunos que tinham suas práticas de forma presencial, há relatos sobre essa transição para aulas à distância? Eles encontraram dificuldades?
No início alguns alunos encontraram dificuldades pois ainda não conheciam os aplicativos ou não tinham os equipamentos corretos para ver e ouvir bem durante as aulas. Mas aos poucos o interesse em manter a prática superou as dificuldades, todos se adaptaram bem. Praticamente todos os meus alunos mantiveram-se matriculados e alguns novos alunos chegaram. O que é uma enorme alegria.
Considera que o maior engajamento com conteúdo EAD e aulas online, tem ajudado na divulgação do Lu jong no Brasil? Uma vez que é possível a participação de alunos e interessados de diversos estados.
Esta possibilidade ainda é algo muito novo para que eu possa avaliar com mais assertividade, mas meu sentimento é que irá ajudar bastante. Por exemplo: em minha última formação de professores tive alunos da Bahia, Natal, São Paulo, Mogi das Cruzes, Goiânia e outras cidades. Todos estes alunos viajaram três vezes para finalizar a formação de professores. Neste momento os alunos precisarão viajar uma única vez porque parte dos ensinamentos serão on-line. Isso é de grande ajuda. Não sei se a NMI manterá esta possibilidade no futuro, mas independentemente, acredito que mais pessoas aproveitaram esta possibilidade agora e isso nos ajudará a formar mais professores pelo país. O mesmo vale para as aulas. Agora um professor de Lu Jong pode alcançar pessoas em todo o país e os alunos poderão escolher fazer aulas com diferentes professores se desejarem. Tudo isso tem o lado interessante de fazer com que cada vez mais pessoas conheçam a prática e que, com o tempo, o Yoga Tibetano Lu Jong torne-se mais e mais conhecido.
Janaína em nome do Jornal 140 agradecemos sua participação, desejamos que seu trabalho prospere por todo país levando bem-estar e autoconhecimento a todos.
Eu também agradeço pela oportunidade e fico à disposição para quaisquer dúvidas e informações necessárias aos leitores. Caso busquem por um professor certificado em sua cidade eu também posso ajudar.
Para os interessados segue abaixo as redes sociais e contato da professora:
Site: www.janaina-araujo.com
Instagram: @lujongjanaina
E-mail: contato: @janaina-araujo.com