O ano de 2020 vem sendo palco de acontecimentos marcantes que nos fazem questionar certos valores que pareciam consolidados na nossa vida social. Uma nova pneumonia viral; desastres ecológicos; descompassos políticos; além de manifestações com bandeiras raciais e antifascistas.
O avanço dessa última pauta teve seu estopim mediante o assassinato de George Floyd (14/10/1973 – 25/05/2020), um homem afro-americano estrangulado por um policial branco que se ajoelhou sobre seu pescoço durante uma abordagem policial, em Minneapolis (EUA). Sua morte gerou comoção e desencadeou uma onda de protestos.
Multidões de indivíduos, em diversos países, se articularam sob a bandeira Black Lives Matters, protestando em praças públicas contra a ordem social que permitiu essa violência. Passou-se a questionar elementos cotidianos que representavam essa ordem.
Em Bristol, no Reino Unido, os manifestantes chegaram a derrubar a estátua de Edwarld Colston, um traficante de escravos. A repercussão desse acontecimento levou o governo da Bélgica a retirar a estátua do polêmico rei Leopoldo, assim como levou diversos países a debaterem a simbologia transpassada nesse tipo de monumento.
Esse debate está situado no campo da história e da memória, tendo em vista que a construção desses monumentos representa uma tentativa de enquadramento da memória, geralmente articulado por grupos hegemônicos da sociedade, como uma tentativa de resistir ao esquecimento e fazer seu nome perdurar pelas diversas gerações.
A problematização desses símbolos é absolutamente desejável, pois a memória é essencialmente fluída e deve ser reconstruída diariamente. Enclausurar a memória é entregar-se ao conformismo e à tradição, subserviente às classes hegemônicas.
Por fim, resta a pergunta: a destruição desses símbolos é a atitude ideal? Essa é uma resposta que parece não encontrar consenso, todavia o apagamento da memória não fará o passado desaparecer. Por enquanto creio que devemos problematizar esse passado e buscar formas para edificar um futuro mais justo.
Parafraseando o judeu alemão Walter Benjamim:
** É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita. O Jornal 140 não se responsabiliza pela opinião dos autores deste coletivo.“O dom de despertar no passado as centelhas da esperança é privilégio exclusivo do historiador convencido de que também os mortos não estarão em segurança se o inimigo vencer. E esse inimigo não tem cessado de vencer”.