Nestes últimos meses, matérias focadas na diversidade e inclusão estamparam as capas e chamadas das principais mídias. O tema também ganhou holofotes dentro das organizações e ficou evidente que as empresas brasileiras ainda estão engatinhando nesses quesitos. Além disso, muitos questionamentos, que antes eram feitos apenas por grupos minorizados – termo utilizado pelo professor Ricardo Alexino para se referir aos grupos com pouca representatividade social, econômica e política -, ganharam força e aliados em peso. Um exemplo, o apoio de celebridades que, pela primeira vez, cedem seus perfis nas redes sociais para ativistas na luta contra o racismo. Inclusive, também pela primeira vez – no ramo editorial – 7 livros de pessoas negras estão entre os 20 mais vendidos no Brasil.
Toda a discussão despertou um olhar mais crítico para a sociedade, deixando escancarado os privilégios da branquitude e a falta de diversidade e inclusão no mercado – não só no segmento editorial, mas de tecnologia e inovação, imprensa, artístico, entretenimento, entre outros. Aliás, acho que nunca se falou tanto sobre os conceitos do racismo, privilégios e lugar de fala.
Por que esse boom agora?
No entanto, a luta pela diversidade, igualdade e equidade sempre existiu e muitas pessoas podem estar se perguntando: mas por que esse destaque para o tema só agora? Segundo Ricardo Sales, consultor e professor de diversidade, foram nos últimos 5 anos que o assunto ganhou maior notoriedade, se intensificando ainda mais a partir de junho deste ano com todas as movimentações. “As manifestações raciais que aconteceram nos EUA no mês passado apenas serviram como reforço adicional, como alerta, para a urgência dessa discussão sobre preconceito e discriminação na sociedade e nas empresas. O que percebemos de diferente foram que algumas organizações que não vinham falando sobre o tema escolheram o momento para se pronunciarem”. Para o consultor, é importante que elas digam no que acreditam e defendem, mas que o discurso venha acompanhado de práticas que sejam consistentes.
“Diversidade é uma jornada. Rumo é mais importante do que ritmo. É fundamental que a empresa tenha clareza do caminho que ela vai trilhar. A velocidade vai depender de fatores, como a cultura organizacional, o ambiente de negócio, entre outras questões”.
Ricardo Sales
Ou seja, para implementar a diversidade, é fundamental que a organização entenda como ponto de partida a motivação para trabalhar com o tema. A partir de então é ter objetivos de curto, médio e longo prazo muito bem definidos e construir uma estratégia alinhada ao negócio, à cultura organizacional e ao modelo de gestão. Além desses fatores listados pelo consultor, é necessário atribuições de responsabilidades e o apoio da alta liderança em todo o processo.
De qualquer forma, as organizações estão amadurecendo. Ricardo ainda comenta que se compararmos, esse era um assunto tratado quase que exclusivamente por empresas de grande porte, multinacionais de origem estrangeira. Nos últimos anos percebemos a discussão também nas grandes empresas nacionais. “Falta muito a ser feito, sem a menor sombra de dúvida, mas avançamos em relação a algumas dessas temáticas”, acrescenta. Entre alguns desafios elencados estão: aumentar a inclusão de pessoas trans e pessoas com deficiência, combater consistentemente o racismo estrutural, garantir que mulheres tenham acesso às posições de liderança, um ambiente respeitoso para pessoas LGBTI+ e também abordar a inclusão de 50+.
Educação sobre diversidade nas organizações
Apesar da diversidade ter ganhado protagonismo, outra questão é a carência de formações nessa área. E assim como Ricardo, acredito profundamente no poder transformador da educação e das discussões sobre o tema. Podemos perceber uma nova demanda que é a de gestor da diversidade nas organizações. Recentemente, no dia 13 de julho, a ABERJE (Associação Brasileira de Comunicação Empresarial) inaugurou a primeira turma do Programa Avançado em Diversidade nas Organizações – da qual tenho o privilégio de participar. De acordo com a associação, a turma já bateu o recorde de alunos inscritos entre os cursos oferecidos. A programação completa se estende até o mês de outubro. Entre os instrutores estão nomes como Ricardo Sales, que também é coordenador do curso, Ana Bavon, Paulo Pas, Reinaldo Bulgarelli, Suzane Jardim, Djalma Scartezini, Nina Silva, Maite Shneider, Adriana Ferreira, Carla Tieppo, Morris Litvak, Fabio Mariano e Amanda Aragão. Interessados podem acessar mais informações sobre o curso aqui.
Assim como em outros artigos, novamente reforço a importância de continuarmos estudando, nos questionando sobre nossos privilégios, levando o assunto para discussão dentro das empresas, entre rodas de amigos e familiares. A transformação tem que ser coletiva.