Uma brincadeira de criança, mas a coisa é séria e vou além, pode comprometer sua relação com você e o com o mundo.
Ficou curioso (a)? Que bom! Pois é justamente esse comportamento que perdemos conforme crescemos.
Demoramos tanto para aprender a falar, nos comunicar. Você já se atentou que na natureza nós, os humanos, somos os que mais demoram para conquistar sua autonomia?
Se não fosse pelo cuidado dos outros, não teríamos chegado tão longe. Pois bem, diante do que já expus aqui, vai me dizer que não consegue imaginar do que eu quero observar?
A ironia é uma das tantas figuras de linguagem, usada para garantir qualquer mal-entendido e para não dizer o que se quer dizer.
Temos um hábito que nos causa muito sofrimento, a dificuldade de identificar e comunicar nossas próprias necessidades, para nós mesmos e para o mundo. Ainda mantemos, de forma inconsciente, que o outro deve adivinhar o que queremos e precisamos. Do contrário, ficamos frustrados com essa falta de sensibilidade alheia.
A ausência de diálogo e esse ruído entre o que eu falo e o outro entende criam um abismo, um espaço para o conflito e a violência de forma explícita ou sutil. Muitos entendem o mundo a partir de um sistema binário: certo ou errado, justo ou injusto, castigo ou recompensa, vítima ou algoz.
Temos dificuldade de estabelecer uma conversa mais clara, assertiva e sem pressupostos. Muitas vezes, nos calamos violentamente com medo de sermos julgados e isso nos aliena dos nossos próprios desejos. Falamos palavras sem dar o verdadeiro sentido e o ouvinte, por sua vez, apenas reage diante do que foi apresentado com aceitação ou repulsa, a depender de qual ferida se toca.
Precisamos parar, observar e reconhecer que é responsabilidade de cada um cuidar, identificar suas emoções, de forma a reaprender a operar sua própria autonomia, como um recurso essencial para a convivência em sociedade e de forma mais harmônica.
Importante dar espaço e querer ouvir, perceber o outro, estar presente de corpo e mente, estabelecendo uma conexão empática, se sentindo convidado a contribuir para uma experiência de vida mais maravihosa e não um campo para batalhas ou enigmas.
Nas palavras de Marshall Rosenberg, psicólogo americano e sistematizou a Comunicação Não Violenta, em sua obra observa que:
“As pessoas querem ser capazes de fazer as coisas quando preferem, não quando estão sendo forçadas a isso. Assim que alguém ouve uma exigência, qualquer solução que satisfaça as necessidades de todos fica muito mais difícil.”
Nos acostumamos ao piloto automático, nos afastamos de nós mesmos, alienados ao que sentimos, construindo muros no lugar de pontes. Essa cultura condena o diferente, transforma quem discorda no pior inimigo, algo a ser combatido.
Segundo Rosenberg, nós fomos educados para nos encaixarmos em estruturas nas quais poucas pessoas dominam muitas. E nos ensinaram a prestar mais atenção no que os outros pensam de nós, se seremos recompensados ou punidos conforme os rótulos que nos dão.
Nesse momento, onde estamos tão polarizados, cada ideia é defendida com suor e lágrimas, quantas vidas se foram, quanta violência conseguiu sepultar corações sedentos por empatia e compaixão. O endereço mais difícil de estar é o lugar do outro.
Quantos conflitos poderiam ser evitados entre pessoas, comunidades e nações, se fôssemos alfabetizados na linguagem do amor, da compaixão e da colaboração, resgatando nossa humanidade, acolhendo nossa interdependência com boa vontade e, sobretudo, nossa vulnerabilidade sem preconceitos e julgamentos.
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