Após se eternizarem de forma magistral na música, muitos artistas tiveram suas vidas retratadas no cinema. Os que ainda não tiveram, muito provavelmente terão.
Já falecidos ou não, diversos ídolos da música tiveram suas vidas intensificadas e reapresentadas às pessoas com uma performance que, talvez, nem eles próprios seriam capazes de efetuar.
Em certas cinebiografias, há caracterizações de personagens, figurinos, ambientações temporais e atuações tão bem desenvolvidas nas telas que muitas vezes somos levados a crer que a dramatização a que estamos assistindo é de fato alguma gravação, em ótima qualidade, dos momentos dos artistas de que tanto gostamos.
Get on Up: A História de James Brown (2014)

Chadwick Boseman, ator americano eternizado pelo seu incrível papel de Pantera-Negra, protagonizou em 2014 a estrondosa cinebiografia de James Brown, cantor e dançarino reconhecido como um dos mais influentes músicos do século XX, e um notório ativista pelos direitos civis.
Nessa crônica, a ascensão e os momentos de declínio do jovem negro que saiu da pobreza e se tornou o “padrinho do soul” são apresentados em um ritmo crescente, frenético e atribulado, bem como foi a verdadeira vida de James Brown, nascido em 1933 e falecido em 2006.
Agindo nos emocionantes e dançantes blues, jazz, e na construção da popularidade da música funk nas décadas de 60 e 70, James Brown também apresentava uma inconstância e versatilidade para com seus companheiros de equipe, amigos, romances, causas sociais e estratégias para sua própria produção musical e suas finanças, atuando como um verdadeiro homem de negócios. Isso, é claro, quando não era um artista pomposo e convencido, o que tinha total razão para se ser.
Da mesma forma, o visual do filme é montado impecavelmente, como eram as apresentações do grande James Brown.
Na produção, também é apresentada outra importante figura para a história do rock’n roll, Little Richard, o “arquiteto do rock”, grande influência e companheiro de James Brown.
Bohemian Rhapsody (2018)

A cinebiografia de Freddie Mercury, reconhecido em 2008 pela revista Rolling Stone como o 18° maior cantor de todos os tempos, e da banda britânica de rock, sua majestade, Queen, foi um dos grandes sucessos cinematográficos e musicais dos últimos anos. No Oscar de 2019, recebeu as estatuetas de melhor edição de som, melhor mixagem de som, melhor edição e, é claro, melhor ator, prêmio entregue para a incrível interpretação de Rami Malek que protagonizou a obra.
Regado pelos ritmos dançantes e contagiantes da banda, o filme retrata o início, o crescimento estratosférico do grupo musical e as divergências criativas e pessoais dos integrantes da equipe. Com enfoque em seu vocalista, o drama biográfico aborda a delicada questão da saúde de Freddie Mercury, nascido em 1946 e falecido em 1991, acometido pelo vírus HIV, as rotulações de sua sexualidade e seu estilo de vida, um tabu para a época, e infelizmente, ainda para muitos dos conceitos atuais.
Com reconciliações amigáveis e amorosas, a obra aborda as turnês por diversos países até o momento da apresentação da banda, junto a outras, no evento beneficente, Live Aid, organizado em 1985 com o objetivo de arrecadar fundos para erradicar a fome na Etiópia. O concerto foi um sucesso assistido por cerca de 2 bilhões de pessoas em mais de 100 países ao redor do mundo.
Ainda que usando gravações reais da banda, sem utilizar o vocal do ator, Rami Malek, com todo o conjunto de caracterizações e ambientes, é impressionante a semelhança dos trejeitos e dos próprios shows realizados.
Ray (2004)

Seguindo a linha de filmes premiados, a cinebiografia do cantor e pianista norte-americano, Ray Charles, rendeu a Jamie Foxx os prêmios de melhor ator pelo Oscar, Globo de Ouro e BAFTA, fruto de sua imersão intrínseca durante as atuações no papel do músico.
Ray Charles nasceu em 1930 e faleceu em 2004, meses antes da estreia da produção. O músico perdeu seu irmão, sua mãe e a visão dos dois olhos ainda quando criança humilde em uma plantação no estado da Florida nos EUA.
Como apresentado na obra, com uma trajetória difícil, principalmente para um homem negro na época, o “irmão Ray”, como gostava de ser chamado, alcançou uma inigualável reputação como compositor, cantor e pianista combinando os gêneros musicais de jazz, gospel e rhythm and blues, motivo pelo qual foi agraciado com o Prêmio Grammy de Contribuição em Vida no ano de 1987 e diversos outros prêmios e conquistas.
O filme aborda as críticas da população conservadora contra seu estilo de música jovem e inovador para a época e, de maneira visceral, seus anos de reabilitação após o vício em drogas e estimulantes, vinculados ao frenético cotidiano de artistas do ramo da música e aos seus traumas do passado.
Tim Maia (2014)

O cantor e compositor brasileiro, Tim Maia, nascido em 1942 e falecido em 1998, teve sua polêmica vida de sucesso abordada na cinebiografia de 2014. A obra vai desde sua juventude até sua morte precoce.
Seus problemas com as autoridades, sua prisão nos EUA e embates com outros cantores da época fazem parte da crescente trajetória como “síndico do Brasil”, músico de enorme sucesso nos gêneros de soul, funk e na música popular brasileira.
Com atuação de Robson Nunes e Babu Santana no papel do cantor em diferentes fases da vida, Tim Maia é apresentado ao longo de suas diferentes crenças filosóficas e religiosas que tanto influenciavam em seu estilo musical. Seus conflitos e romances pessoais promovem uma imagem complexa, mas intensamente emotiva e carregada de contradições, muito bem expressadas por seus atores.
O jeito “brucutu” do músico se contrapõe ao carisma de sua própria pessoa e, principalmente, ao embalo romântico de muitas de suas canções e da própria cinebiografia.
Ganhando o título de maior cantor brasileiro pela revista Rolling Stone Brasil em 2012, o artista retratado na produção é um dos notáveis exemplos de ídolos que contradiziam a si mesmos, mas que, de fato, mereciam sua fama.
Elvis (1979) / Elvis – O início de uma lenda (2005)
Elvis Presley, um dos poucos artistas conhecidos apenas pelo primeiro nome, ator, ídolo e “rei” do rock’n’roll teve sua breve, porém eterna vida retratada em mais de uma produção cinematográfica.

Dois anos após ser dado como morto em 1977, o rei do rock, nascido em 1935, foi interpretado pelo norte-americano Kurt Russel na produção homônima sobre sua vida. Curiosamente, Russell já havia feito uma participação em um filme protagonizado pelo próprio Elvis anos antes, a obra “Loiras, Morenas e Ruivas” de 1963.
Na produção de 1979, idealizada para exibição na televisão, não são apresentados todos os momentos da vida de Elvis, o filme retrata o início de sua ascensão até, apenas, o ano de 1970, fase em que Elvis estrelava grandes shows de sucesso em Las Vegas com seus famosos figurinos e coreografias inspiradas em trajes e movimentos de karatê. Ainda assim, seus dramas internos até aquele momento são muito bem explorados por Russel que chegou a ser indicado ao Globo de Ouro pelo papel.
Já na produção de 2005, também projetada para exibição na televisão, quem interpreta Elvis é o irlandês Jonathan Rhys Meyers, com uma fisionomia incrivelmente semelhante à do rei em sua juventude.
Assim como a produção de 1979, a obra de 2005 não retrata tudo, ela vai da ascensão do rei quando jovem, retratando seu enorme apego a família, até um de seus mais ilustres shows no ano de 1968, considerado o primeiro show acústico transmitido pela TV. Contudo, diferentemente do primeiro projeto, nessa obra ficam mais evidentes as relações de Elvis com remédios e estimulantes para fins diversos em sua agitada rotina.
Acima de algumas críticas por momentos negativos de Elvis retratados na tela de forma ficcional ou exagerada, Jonathan foi indicado ao Globo de Ouro pelo papel, e a produção foi indicada ao prêmio Emmy de melhor minissérie.
Previsto para 2021, o próximo filme que retratará a vida de Elvis Presley, e promete ser a cinebiografia mais impactante e digna do legado do rei, tem a direção de Baz Luhrmann e contará com Austin Butler e Tom Hanks como parte principal do elenco.
Como obra ainda a ser lançada também em 2021, teremos a cinebiografia da ativista social, cantora e compositora de soul, gospel e rhythm and blues norte-americana, Aretha Franklin, coroada como “a rainha do soul”, em uma produção intitulada Respect, um dos maiores sucessos musicais da artista que será interpretada pela atriz Jennifer Hudson.
Como ainda não foi lançado, podemos apenas vislumbrar e especular as grandes atuações e o sucesso do filme com base em seu trailer divulgado até o momento.
Mesmo com uma certa dose de ficção e dramas relativamente duvidosos, como não pode faltar nas obras de Hollywood, a ascensão e as emoções pessoais das várias estrelas da música são uma fonte de roteiros e receita para a indústria do cinema. Entretanto, maior do que um simples produto, essas obras são uma ampliação da divulgação dos astros musicais para novos públicos, e uma homenagem imprescindível a seus feitos e a todos que já os acompanharam.
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