Há quase dois anos eu decidi empreender e seguir outros caminhos. Uma necessidade pela liberdade de escolhas e um CNPJ para chamar de meu.
Com 25 anos de carteira assinada, sendo 18 dedicados a ser secretária executiva, o que amo ser, dei o meu grito de liberdade.
Percebi que, o que eu fazia dentro do ambiente corporativo, era plenamente possível executá-lo em home office. Quando a pandemia chegou, minha realidade era remota e já estava adaptada, pronta para ajudar quem precisasse.
Entretanto, com o tempo fui observando um dilema, que está presente em nossas vidas, incômodo, mas necessário, a angústia entre a segurança e a liberdade.
Para essa reflexão recorri ao Zygmunt Bauman que define esse dilema como o problema da fórmula de ouro, a procura da mistura perfeita:
“Segurança sem liberdade é escravidão. Liberdade sem segurança é o completo caos. Precisamos dos dois.”
Temos um apego às pessoas, instituições e situações que idealizamos ser a opção mais segura, estável, durável, porque temos medo do que não podemos prever. Por outro lado, como conquistar a liberdade de escolher novos caminhos, inovar, com autorresponsabilidade, em tempos liquefeitos?
O pêndulo que balança
Como um pêndulo, ao nos aproximarmos de nossa liberdade, abrimos um pouco a mão da segurança, e vice-versa. Não é apenas sobre achar o centro de equilíbrio entre esses dois pontos, mas também o que cada condição consegue atender às nossas necessidades existenciais. Não há ganhos sem perdas.
Quando nascemos, iniciamos nossa jornada pelo mundo, um ser primitivo, dotado apenas do instinto de sobrevivência. Ao ganharmos entendimento de que pertencemos a uma comunidade que nos precede, esbarramos no limite da convivência conosco e com os outros.
Encontramos na demanda por segurança uma estratégia para atender a nossa necessidade por identidade e pertencimento. O cuidado que o ninho nos oferece, proporciona o tempo para amadurecer nossas asas. Uns ganham o mundo, outros uma gaiola.
Penso que a liberdade requer consciência, conhecimento de si, o poder das escolhas e suas consequências. A vivência, o acúmulo de experiências, estimula nossa resistência, maturidade e a conquista pela autonomia. Assim, nos afastamos um pouco da segurança para vivenciarmos as maravilhas e angústias da liberdade.
De acordo com Leandro Karnal, no livro escrito com a participação da Monja Coen: O inferno somos nós: Do ódio à cultura de paz:
“É curioso como para algumas correntes de pensamento, como a agostiniana, a liberdade também é fazer o que não se quer. Fazer o que se quer é o conceito hedonista ou infantil de liberdade. Fazer o que não se quer é o exercício maior de dizer a nossa vontade que ela tem um desejo, mas que não vamos atendê-lo.”
Protagonista ou coadjuvante?
Medo e coragem são sentimentos que acompanham a trajetória humana em todas as suas esferas. Quanto mais medo temos, mais desejamos estar seguros. Controlados pelo medo, muitas vezes permanecemos passivos, alienados de nossa verdadeira potência.
Enquanto a coragem seria como o ar que alimenta a chama da liberdade, sentimos o peso da solidão, caminhando por lugares desconhecidos, entraríamos em becos escuros, encontrando novos caminhos, labirintos de emoções, protagonistas de nossa história, escrevendo o nosso próprio roteiro com erros e acertos.
A justa medida
Nossas necessidades mudam a todo momento. Podemos querer a segurança de uma gaiola, desejando o céu, ou voarmos como as águias, planando com as correntes de ar, nas incertezas da direção.
No movimento desse pêndulo, que nos afasta e aproxima, o que mais se alinha com a sua realidade mutável?
Como nada é fixo ou permanente, nunca vamos parar de procurar o que melhor atende nossa experiência de vida: no conforto da segurança e nos desafios pela nossa liberdade, ainda que tardia.