Uma pesquisa realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) entre os anos 2017 e 2018 nos mostrou que atualmente no Brasil há 10,3 milhões de pessoas vivendo em situação de insegurança alimentar grave, quadro que estava retrocedendo mais da metade na última década e meia.
Os dados foram divulgados nesta última quinta-feira (17) e somente levam em consideração pessoas com domicílios permanentes, desconsiderando pessoas em situação de rua por exemplo, o que elevaria ainda mais essa situação, já que somente em São Paulo capital temos cerca de 24 mil pessoas em situação de rua de acordo com o último censo apurado em janeiro deste ano.
A pesquisa também evidenciou algumas particularidades como:
- A fome predomina em áreas rurais
- Quase metade das pessoas em insegurança alimentar está concentrada no Nordeste
- Quanto mais o número de moradores na residência, menor é a alimentação plena
- Mais da metade dos lares famintos são chefiados por mulheres
- Metade das crianças de até 5 anos vive em restrição ao acesso de alimentação de qualidade
A segurança alimentar de acordo com o IBGE é o acesso pleno e regular a alimentos de qualidade, em todas as refeições, e sem comprometer acesso a outras necessidades essenciais.
Em 2004 eram cerca de quase 15 milhões de brasileiros em situação de insegurança alimentar grave, o número caiu pela metade em 2013, cerca de 7 milhões, e em cinco anos volta a subir.
A alta do arroz e itens essenciais da cesta básica pesa sobre famílias em situação de insegurança alimentar
Nunca se falou tanto do arroz como nas últimas semanas, isso porque o alimento mais consumido dos brasileiros teve uma alta de 100% no acumulado do ano (Cepea), outros itens da cesta básica também tiveram relevante aumento, como o óleo de soja (18,6%).
O aumento dos preços se deu pela valorização do dólar que incentivou as exportações e deixou fragilizado o mercado interno e que também prejudica ainda mais as famílias em situação de insegurança alimentar, já que o IBGE também mostrou que quanto mais restrito é o acesso a alimentos, maior é o aumento da necessidade pelo grão.
Num geral, nos domicílios com insegurança alimentar o consumo maior é com os itens básicos de alimentação.
COVID-19 deixa metas de erradicação da fome cada vez mais distantes e promete empurrar 3,8 milhões de brasileiros para as classes D e E até o final de 2020
A crise econômica agravada pela pandemia fez com que o Brasil perdesse 8,9 milhões de empregos no segundo trimestre deste ano segundo o IBGE, e desse número 6 milhões eram de empregos informais.
Ao todo, serão 15 milhões de brasileiros que terão uma piora econômica e além disso, uma grande parte da população será impedida de progredir socialmente. Antes da crise sanitária já eram esperados resultados econômicos ruins, devido ao baixo crescimento do país, no entanto a pandemia empurrará 3,2 milhões de domicílios brasileiros para a base da pirâmide social.
As chances de erradicação da fome neste cenário são cada vez mais remotas, pois a recuperação pré-pandemia só é prevista para 2022, fatores estruturais do Brasil e uma agenda econômica equivocada do governo promete também perdurar a crise aqui por mais tempo que em outros países.