“O ser humano é egoísta e individualista por natureza!”. Você já deve ter escutado essa frase alguma vez na vida. Pode ter vivido alguma experiência ou assistido filmes que mostram o pior lado das pessoas e reforçam essa crença. Aliás, muitos pensadores influentes como Thomas Hobbes e Freud diziam que somos criaturas voltadas para nossos próprios interesses, autoproteção e egoístas por definição. Porém, no decorrer dos anos, muitas pesquisas de diversas áreas comprovaram o oposto. Mais do que seres individualistas, somos Homo Empathicus, fisicamente equipados para sentir empatia.
Neurocientistas identificaram em nosso cérebro um conjunto de circuitos da empatia. Biólogos evolucionistas mostraram que somos animais sociais e que evoluímos naturalmente para sermos empáticos e cooperativos. Já psicólogos revelaram que até mesmo crianças de três anos são capazes de enxergar a partir da perspectiva de outros. Com exceção de pessoas que o psicólogo Simon Baron-Cohen chama de “zero grau de empatia”, entre elas os psicopatas – que têm a capacidade cognitiva de influenciar e manipular, mas não de estabelecer conexão emocional – e pessoas com certos distúrbios, que representam 2% da população, os outros 98% da humanidade nasceram para serem empáticos.
Empatia é uma construção intelectual
Como diz o historiador e filósofo Roman Krznaric, ao contrário do que muitos pensam, a regra de ouro: “faça para os outros o que gostaria que eles fizessem para você” não se aplica ao conceito, pois dizer isso supõe que seus próprios gostos, interesses e necessidades coincidem com os deles. Empatia é a arte de se colocar no lugar do outro por meio da imaginação, compreendendo seus sentimentos e perspectivas e usando essa compreensão para guiar suas ações.
Por exemplo, eu não tenho filhos, mas por meio de conversas com mulheres que são mães, observação, leitura sobre os desafios das mulheres, mães em especial, no mercado de trabalho, consigo ter uma noção de algumas necessidades e dificuldades que elas enfrentam. E volto a citar Djamila Ribeiro, filósofa, feminista negra, escritora e acadêmica brasileira, que diz que empatia é uma construção intelectual. “Se eu não conheço uma realidade, eu posso ler sobre e ouvir pessoas de um grupo. Porque aí eu entenderei a realidade de outros grupos e a partir daí, me responsabilizo pela mudança”.
Poderosa ferramenta para a liderança
Dessa forma, mudando a percepção de seres egoístas para seres empáticos por natureza, ficamos mais abertos para um novo olhar sobre como nos relacionamos e gerirmos nossas equipes. Para os líderes de hoje, uma das maiores dificuldades é fazer a gestão de pessoas diversas em todos os aspectos, com características peculiares e únicas. Existe um ser mais complexo do que o ser humano? Desconheço. E entender a “forma de funcionar”, necessidades, motivações, aspirações e crenças de cada integrante da equipe é essencial para a posição.
Algumas pessoas podem discordar, mas também por isso, treinamentos de perfil comportamental surtem efeito e melhoram o relacionamento da equipe, pois entender a forma de funcionar do outro facilita a convivência. Deixo de olhar apenas para mim e passo a entender os porquês de algumas atitudes e a enxergar por outras perspectivas. Também deixo de tratar o outro como gostaria de ser tratado e passo a me adequar melhor ao outro.
Um exercício interessante e prático, que compartilho abaixo e detalho no post [Ferramenta] Mapa da Empatia, onde você também pode fazer download do template, é fazer o mapa da empatia. Geralmente essa ferramenta é mais utilizada para detalhar a personalidade do cliente, traçar o perfil dos consumidores, mas pode ser útil em diversas situações. O mapa contribui para adentrar no mundo do outro e compreender melhor seus interesses, sentimentos, dores e necessidades, ajudando na abordagem e proximidade.
E ainda, sendo uma construção intelectual, outras dicas para desenvolver a empatia são:
Seja uma pessoa aberta para entrar no mundo de outras pessoas totalmente diferentes de você. Desapegue das suas próprias crenças, pensamentos, sentimentos para tentar entender e acolher, sem julgamento, a bagagem do outro. Para isso, é necessário se questionar e estar aberto para o novo. Treine a sua empatia. Faça um esforço consciente para se colocar especialmente no lugar daquela pessoa que você tem menos proximidade ou não se dá muito bem, para reconhecer a humanidade e individualidade dela. Sempre se pergunte: como posso aprender mais sobre uma perspectiva que não conheço? Quando conseguimos desenvolver um alto grau de empatia, percebemos que, talvez, vivendo as mesmas experiências, crenças e modelo de mundo da pessoa, poderíamos ter as mesmas atitudes ou piores. Explore realidades diferentes da sua. Busque conhecer outras culturas, fazer atividades sociais, viajar na mente de outras pessoas por meio da arte, literatura, cinema e redes sociais. Pratique a arte da conversação, desenvolva a curiosidade por estranhos e a escuta ativa. Saia um pouco do seu mundo individual.
A empatia tem o poder de transformar relações. Além disso, incluir a prática no nosso cotidiano transforma a nossa forma de ver, pensar, sentir e fazer. Você ficará fascinada, fascinado, ao entrar no mundo das pessoas e tentar descobrir por que elas pensam como pensam, seus motivos, crenças e aspirações.
“Poderia haver maior milagre do que olharmos com os olhos do outro por um instante?”
Henry David Thoreau