O Prêmio Nobel é considerado o mais prestigiado galardão nas áreas de literatura, medicina, física, química e ativismo pela paz.
Sua história origina-se após da morte do cientista sueco Alfred Nobel (1833-1896), que em seu testamento deixou a maior parte de sua fortuna à fundação homônima que recompensaria aqueles que servirem à humanidade. Cinco anos depois, a premiação teve início. Posteriormente, em 1969, o Banco Nacional Sueco instituiu o Nobel de Economia.
As entidades que concebem o prêmio recebem indicações de professores, cientistas e políticos de diversos países, daí formulando a lista de indicados, que permanece secreta por 50 anos. Ela é discutida entre membros da Academia Sueca, Academia Real Sueca de Ciências, do Instituto Karolinska e do Comitê Norueguês do Nobel.
A premiação atualmente consiste em oito milhões de coroas suecas (1,260 milhão de dólares), uma medalha de outro e um diploma. Os vencedores são anunciados em dias diferentes do mês de outubro. A entrega ocorre no dia 10 de dezembro, data de nascimento de Nobel. O da Paz é entregue pelo rei da Suécia e os demais pelo rei da Noruegua.
A seguir, falamos do Prêmio de Literatura. Apesar de ser politicamente criticável, segue relevante para, além de promover o reconhecimento da área, estimular os escritores a darem continuidade a suas atividades.
A premiação foi concedida a 117 autores e recusado por um, Jean-Paul Sartre, em 1964. A primeira foi ao francês Sully Prudhomme, a mais recente à estadounidense Louise Glück, em 2020.
Enfim, para conhecer uma parte das obras dos laureados, seguem indicações de 10 livros de diferentes gêneros:
As Intermitências da Morte – José Saramago
Citação: “Com parábolas portadoras de imaginação, compaixão e ironia torna constantemente compreensível uma realidade fugidia.”
O autor português, laureado em 1998, é o representante da língua portuguesa no Nobel.
A obra tem início com após um dia em que, em um país fictício, as pessoas deixaram de falecer. As repercussões da suspensão do trabalho da morte foram diversas aos indivíduos e às Instituições, assim como as expectativas sobre seu retorno.
Fiel ao sarcasmo, o autor promove reflexões existenciais, expandindo-as com um pensar sobre a organização da sociedade moderna e suas relações com o Governo, a Igreja e a subjetividade de cada sujeito.
O Diário de uma Boa Vizinha – Doris Lessing
Citação: epicista da experiência feminina que, com ceticismo, ardor e poder visionário sujeitou uma civilização dividia ao escrutínio.”
A escritora laureada em 2007 publicou alguns livros com seu pseudônimo, Jane Somers.
É o caso deste. Ele relata a história (ficticiamente) autobiográfica da jornalista Jane, que se aproxima da solitária senhora Madie Fowler e com ela constrói uma relação de amizade e troca de experiências. É interessante contatar o que o relacionamento mobiliza em cada personagem.
A narrativa, que tem a temática da velhice como a mais impactante, externa as delicadezas da escuta e do cuidado.
A Casa das Belas Adormecidas – Yasunari Kawabata
Citação: “por sua maestria narrativa, que com grande sensibilidade expressa a essência da mente japonesa.”
O gigante escritor japonês, laureado em 1968, foi o primeiro nome da literatura nipônica a receber o prêmio.
Na obra ambientada no Japão pós segunda guerra, o autor dá vida ao velho Eguchi, um senhor de 67 anos que, por indicação de um amigo, começa a frequentar uma casa em que os clientes dormem ao lado de moças sedadas. Confrontado com a juventude das mulheres, o protagonista lembra de seu passado e reflete sobre memória, nostalgia e proximidade do fim de sua vida.
No mais, o erotismo é um tema persistente na narrativa, de forma que são circunscritas considerações sobre a sexualidade e suas dinâmicas de poder e a sensualidade e sua (não) suposição na terceira idade.
O Olho mais Azul – Toni Morrison
Citação: “que em romances caracterizados por força visionária e lastro poético, oferece vida a um aspecto essencial da realidade dos Estados Unidos.”
A escritora, professora e editora estadunidense, laureada em 1993, foi a primeira mulher negra a receber o prêmio.
Este, considerado um de seus livros mais impactantes, foi seu romance de estreia. Ele narra a história de Pecola Breedlove, uma garota que era maltratada pelas pessoas com quem convivia devido ao fato de sua pele ser negra retinta e seu cabelo mais crespo que o dos demais. Nesse contexto, desenvolveu um sentimento que se tornou manifesto na forma de desejar ter olhos azuis como o das mulheres brancas que considerava belas.
Assim, tocando em temas como machismo, padrões de beleza e vulnerabilidade social, a obra possui imensa potência antirracista.
O Lobo da Estepe – Hermann Hesse
Citação: “por seus escritos inspirados que, enquanto crescem em audácia e penetração, exemplificam os ideais humanitários clássicos e as altas qualidades de estilo.”
O autor suíço, que escreveu na língua alemã, foi laureado em 1946.
Trata-se de sua obra mais pessoal. Ela retrata a história de Harry Haller, homem angustiado, deslocado do mundo burguês que o rodeia. Ele se intitula um lobo da estepe, animal extraviado, desabrigado.
A triste e encantadora narrativa é repleta de filosofias e simbolismos, revelando-se sincera quanto aos mistérios e sofrimentos da vida.
Um, Nenhum e cem mil – Luigi Pirandello
Citação: “por sua revitalização arrojada e engenhosa da arte dramática e cênica.”.
O dramaturgo, romancista e poeta italiano foi laureado em 1934, dois anos antes de falecer.
O livro trata da jornada de Moscarda, narrador-personagem, em busca de seu eu. Seus dilemas identitários são apresentados de maneira filosófica e um tanto cômica.
Malone Morre – Samuel Beckett
Citação: “pela sua escrita, que — em novas formas para o romance e drama — na destituição do homem moderno adquire sua elevação.”
O escritor e dramaturgo irlandês escreveu em inglês e francês. Fundador do teatro do absurdo e considerado um dos últimos modernistas, foi laureado em 1969.
A obra é um fluxo de consciência do inválido Malone, institucionalizado em um asilo ou hospital. Enquanto descreve seu cotidiano difícil e solitário, no qual mal vê a janela, conta histórias que não revela serem biográficas ou fictícias.
Depressões – Herta Müller
Citação: “com a densidade da sua poesia e franqueza da prosa, retrata o universo dos desapossados.”
A escritora romena de língua alemã, hoje radicada em Berlim, foi laureada em 2009.
O livro reúne contos ambientados em uma aldeia no Banat, região limítrofe da Romênia com Hungria e Sérvia. A atmosfera das narrativas é caracterizada por luto, violência e desesperança – assim trazendo uma ambiguidade entre o título, que se refere à geografia e ao humor do local descrito.
A guerra não tem rosto de mulher – Svetlana Alexijevich
Citação: “pelos seus escritos polifônicos,um monumento ao sofrimento e à coragem em nosso tempo”
A escritora e jornalista, nascida na Belarus, foi laureada em 2015.
O livro dá voz a mulheres que gritavam sobre um assunto majoritariamente entendido sob o ponto de vista masculino: a Segunda Guerra Mundial. Assim, narra histórias daquelas que lutaram no Exército Vermelho, tanto na retaguarda quanto na linha de frente. É, portanto, um testemunho de narrativas que abordam diversas violências e muitos medos, principalmente relacionados à morte.
Poemas – Wislawa Szymborska
Citação: “pela poesia que, com precisão irônica, permite que contextos históricos e biológicos venham à tona, em fragmentos de realidade humana”
A escritora polaca, conhecida como “poeta da consciência do ser”, foi laureada em 1996.
O livro, a primeira coletânea de suas poesias em português, é uma bela apresentação à obra da artista, cuja função, segundo ela, é perguntar o sentido das coisas.