Criolo é um dos artistas atuais mais ecléticos da música brasileira. Ele consegue fazer samba, rap e eletrônica com fortes críticas sociais, mostrando que suavidade não é sinônimo de fraqueza. “Não existe amor em SP” virou uma das músicas-tema da capital paulistana, principalmente em legendas de fotos nas redes sociais. Inclusive, uma versão dela com Milton Nascimento foi lançada neste ano. Para saber mais sobre isso e outras questões, confira a entrevista exclusiva abaixo:
Em “Esquiva de Esgrima”, de 2014, você canta que o “o anzol da direita fez a esquerda virar peixe”. Seis anos depois, a esquerda política ainda morre pela boca, enquanto a família Bolsonaro e seus aliados continuam pescando eleitores e aliados políticos. Como você enxerga o possível cenário para as eleições de 2022?
O afastamento da quebrada enfraqueceu a empatia. A fé frágil ficou e o distanciamento se encarregou do resto , quando se percebeu, se tentou um movimento de resgate, mas aí já era tarde. 2022 novas embalagens ‘pra’ antigos interesses, dentro desse tempo algo novo se desenha, mas tudo leva tempo, tempo que não temos.
No Coala Festival de 2018, você se apresentou ao lado de Milton Nascimento e cantaram juntos “Não existe amor em SP”. E neste ano, em abril, foi lançado a versão de “Não existe amor em SP” com o Milton no YouTube em prol do movimento #ExisteAmor, campanha para arrecadar fundos para população em vulnerabilidade social durante a pandemia. Como é o processo de revisitar essa música, seja fazendo parcerias ou novas versões em diferentes situações?
Momento da vida que vou levar no coração eternamente, oportunidade de conviver, e ainda mais, o milagre de poder cantar com Milton é sublimação, é alegria e muito ensinamento, que só foi possível por todos que me estenderam a mão nessa breve caminhada. Com esse projeto de arrecadação conseguindo 250 mil reais e tudo foi direcionado para o fortalecimento de ações que já acontecem e que dão apoio à população de rua. Aproveito aqui ‘pra’, mais uma vez, agradecer a todos que doaram e a todos que ajudaram a divulgar essa e tantas outras ações de cunho humanitário. Reviver esse canção tem sido alvo mágico, a força da música esses músicos maravilhosos se encarregam de dar a força necessária para que cada coisa aconteça.
Você canta em “Meninos Mimados” que eles “não podem reger a nação”. Na sua opinião, qual é o tipo mais perigoso de homens mimados? E como se contrapor a esse tipo de pessoa?
A arte de encurtar os caminhos, mas não só a arte, todo gesto que fortalece a luta contra as desigualdades. Acredito que acesso à educação e valorização dos professores e também um ambiente saudável, alimentação correta e tantos outros pontos que devem ser levados a sério possam ser um início de contraponto, pois nossas crianças nunca chegam de igual e isso cria uma nação completamente excluída da possiblidade de tentativa para mudança .
“Etérea” foi uma faixa bem surpreendente, seja pela letra, estilo mais eletrônico ou pelo clipe com foco em performances de artistas LGBTQIA+. O que foi mais inusitado no processo da criação da obra?
Esse momento nos trouxe muito aprendizado que se entende pra vida toda, acho que entender e silenciar para aprender e fortalecer o protagonismo foi fundamental pra todo projeto se tornar realidade. Aprendi muito e sou eternamente grato pela oportunidade.
O que você anda vendo, lendo e ouvindo desde o começo da pandemia? O isolamento social alterou o tipo de conteúdo consumido ou não?
Ouvindo os discos coletâneas da Studio One, do selo Jazz Records , que ainda não tinha tido tempo interior para ouvir e lendo poesias diversas.
Como tem sido fazer a CrioloTV? O que mais te surpreendeu neste processo? E por qual(is) motivo(s) escolheu fazer o programa na TwitchTV?
Uma tentativa de comunicar e dividir pequenas coisas criando um ambiente de afeto e aprendizagem através de documentários, livros de poesia, discos, encontros de pessoa e coletivos que tem feito a diferença em seu entorno. Um pensamento que começou em 2017 através de um magazine que foi construído junto ao disco Espiral de Ilusão e que tinha outros braços. E agora, a convite da TWITCH, tivemos a oportunidade de revisitar a ideia de 2017 e trazer possiblidades para 2020. Obrigado a todos pelo tempo a entrevista e a entrega.