Na segunda-feira, dia 12 de outubro, a rede social Facebook anunciou pela primeira vez a atualização das políticas de discurso de ódio na plataforma, banindo conteúdos que neguem ou distorçam o Holocausto.
Antes desse fato, o site já realizava um processo de remoção das postagens que incitassem violência, crimes de ódio ou assassinato em massa, incluindo o Holocausto.
Contudo, à luz de fatos perturbadores, a partir de agora, quaisquer materiais que neguem ou distorçam informações sobre o Holocausto serão removidos da plataforma digital.
Não apenas impedindo a disseminação dessas informações errôneas, o Facebook também irá direcionar os usuários que buscarem termos associados ao Holocausto para fontes confiáveis e com informações precisas sobre o assunto mediante a expansão dessas políticas.
Isso se dá pela crescente onda de conversas entre o Congresso Mundial Judaico e o Comitê Judaico Americano, com o apoio do resultado de recentes levantamentos de dados realizado pela Claims Conference (Conferência de Reivindicações), organização que presta medidas de suporte e representação às vítimas do Holocausto.
Com a pesquisa feita nos 50 estados dos EUA, entrevistando jovens americanos entre 18 e 39 anos de idade, foi analisado que:
- Cerca de 23% deles acreditam que o Holocausto foi um mito ou exagerado de alguma forma.
- 10% não estavam certos se ele realmente aconteceu.
- 12% admitiram nem sequer saber sobre o Holocausto.
Somando isso aos fatos de que quase dois terços dos entrevistados não sabiam que 6 milhões de judeus foram assassinados no Holocausto, e que uma em cada dez pessoas acreditam que os próprios judeus causaram esse crime, as medidas do Facebook são necessárias formas do combate à ignorância a respeito do Holocausto, a discursos e ações de ódio a que ela pode levar.
Negar o Holocausto é crime. Essa ação já é passível de punição em diversos países da União Europeia, como estabelecido pelo Painel de decisões a respeito do Racismo e Xenofobia, e até mesmo no Brasil pela Lei 7716/89.
Diferente do fato de simplesmente não se ter um conhecimento correto ou completo sobre um assunto, disseminar a negação desse evento histórico com algum propósito violento é uma atitude desassociada do direito de liberdade de expressão, pois viola a memória dos mortos e difama intencionalmente o povo judeu como exposto pela Corte Europeia de Direitos Humanos, em 2019, no caso Pastörs v. Germany (aplicação nº 55225/14).
Mas qual a importância do Facebook em relação a posts que neguem esses fatos?
O Facebook é a maior rede social do mundo em número de usuários ativos segundo a Statista. Por ter uma quantidade tão vasta de usuários, das informações que eles compartilham, a plataforma também é um dos gigantescos armazéns de desinformação e comunicação violenta.
Como podemos ver nos diversos desdobramentos sobre fake news, a gigante da tecnologia foi imposta pela sociedade do dever de identificar e garantir um melhor controle das distorções sobre política, a covid-19 e, agora, negações do crime que foi o Holocausto para impedir a disseminação de ideais vindos de pessoas perigosas para a própria sociedade.
Entretanto, diferentemente do combate às atuais e diversas fake news, em que o Facebook se diz comprometido a fazer, não só o processo, mas a necessidade de comprovar a autenticidade do genocídio mais documentado da história ocorrido há 75 anos, agora, pela maior rede social do mundo ultrapassa o limite do choque e passa a permear a angústia de nossas próprias irresponsabilidades.
Frear o compartilhamento do ódio, falsidade nas redes sociais, direcionar as pessoas para informações corretas, educativas, como o Facebook irá realizar, é um dos esforços úteis para impedir o alastro de desinformação e ideais considerados criminosos pelas próprias pessoas, mas não o mais importante.
Mais do que corrigir conhecimentos errados sobre história na mente de jovens adultos nas redes sociais, se faz necessário um importante reforço nos estágios iniciais da formação educacional e social das pessoas.
No que diz respeito à educação sobre o Holocausto, crimes de guerra, contra discursos de ódio, preconceito, é vital para a história e o futuro da sociedade incentivar o estudo desses fatos e suas terríveis consequências logo nos primeiros passos de aprendizado para pessoas com idade apropriada para essas informações.
Como levantado pela pesquisa da Claims Conference, 80% dos que responderam acreditam ser importante a continuação do ensino sobre o Holocausto, em parte, para que ele não ocorra novamente.
Conhecer e distinguir os ideais construtivos dos destrutivos é o julgamento necessário a sempre ser feito nos meios físicos e digitais.
No comunicado sobre a atualização das políticas do Facebook consta que levará um tempo para se ter uma aplicação eficiente do treinamento dos revisores e sistemas responsáveis por diferenciar esses conteúdos de ódio dos conteúdos com informações confiáveis na plataforma, mas como o próprio CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, comunicou: “Traçar as linhas certas entre o que é e o que não é discurso aceitável não é algo simples, mas com o estado atual do mundo, acredito que esse é o equilíbrio certo”.
Com uma infinidade de materiais que identificam os culpados, as vítimas, com os extensos relatos de sobreviventes, muitos ainda vivos, negações dessa barbárie e medidas de controle a elas só não são maiores que os conhecimentos que podemos ter por meio de livros, museus, documentários e páginas confiáveis na internet com ensinamentos e provas sobre esse crime.
Para conhecer algumas dessas fontes e instituições com conteúdo confiável, siga no Instagram: @museudoholocausto, @memorialdoholocausto e @worldjewishcongress.
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