Entramos no mês de outubro e já se vão pelo menos 7 meses de isolamento social. Embora tenhamos um pouco mais de conhecimento acerca da contaminação pelo covid-19, algumas atividades como ir à escola, ainda permanecem suspensas aqui na cidade de São Paulo.
Eu sou mãe de dois adolescentes e foi uma importante oportunidade de convivência, além é claro, dessa nova dinâmica de aprendizagem para todos.
Confesso que me senti tão perdida quanto os professores e próprios alunos. Links para compartilhar, recursos da plataforma, tempo de aula, deveres de casa, provas, dificuldades de conexão, conversas paralelas.
Importante reconhecer o papel dos professores nessa verdadeira transformação digital. Escolas públicas e particulares, de norte a sul do país tiveram o desafio de se adaptar à nova realidade em pouquíssimo tempo.
Mais uma vez, pudemos constatar que a falta de investimento e compromisso dos nossos representantes aprofundou ainda mais um abismo de diferenças entre o ensino privado e o público. Contudo, o que faltou em infraestrutura sobrou em empenho, dedicação e responsabilidade de nossos professores para dar conta dessa demanda tão urgente.
O EAD no Brasil
Com a chegada da internet, na década de 90, pudemos participar do início de uma revolução tecnológica no ensino. Várias universidades passaram a oferecer cursos profissionalizantes no formato EAD (Ensino à Distância).
Em 1996 o MEC (Ministério de Educação e Cultura) criou uma secretaria específica a SEED (Secretaria de Educação e Ensino a Distância) com uma legislação para regulamentar, por exemplo, a validade dos diplomas, emitidos para esses cursos virtuais, com o mesmo peso dos presenciais.
Contudo, o que antes era um recurso de uma pequena parcela dos estudantes, sobretudo com maior maturidade e autonomia, se espalhou a todos os alunos.
Metodologia de ensino
A adaptação das metodologias de ensino para o ambiente virtual também contribuiu para o avanço dos conteúdos digitais. Do início do EAD até hoje, os profissionais da educação também se adaptaram para desenvolver materiais online que garantissem a qualidade do ensino e da experiência dos estudantes fora da sala de aula convencional.
O que antes era um privilégio de alguns, agora é uma necessidade de todos. Os profissionais de educação dos anos iniciais, que não tinham essa expertise, tiveram de encontrar uma solução que recriasse seus recursos de sala de aula presencial para o remoto.
Por sua vez, os estudantes também tiveram que adaptar sua experiência de aprendizagem e convivência, que tinham com todo ambiente escolar antes da pandemia.
Evasão escolar
Não posso deixar de destacar que no Brasil a evasão escolar é uma ferida antiga, sobretudo entre os mais pobres. O fechamento das escolas por conta da pandemia, a falta de recursos como internet e equipamentos estão fazendo com que muitos estudantes não consigam acompanhar as aulas e se sintam desassistidos.
Difícil mantê-los motivados quando há um sentimento generalizado que o ano foi perdido.
Em reportagem à BBC News Brasil a estudante do 3° ano do ensino médio na rede estadual de São Paulo, Sabrina Oliveira Lopes, 17, relata a dificuldade de acompanhar as aulas.
Os professores também nos alertam da queda na participação online dos alunos. Acompanhei algumas reportagens nas quais diversos profissionais de ensino se deslocam até seus alunos mais carentes, com um esforço sobre-humano, na tentativa de evitar o abandono escolar.
Ações para o presente
Muitas cidades já estudam de que forma as aulas serão retomadas. A maioria dos pais, inclusive eu, ainda sentimos muita insegurança no ambiente e no comportamento nessa volta ao convívio social.
Essa é uma situação inédita para pais, responsáveis, professores, alunos e dirigentes. Tão importante quanto ao retorno do ensino é criar estratégias de acolhimento humanizadas quando estamos tão vulneráveis.
Sentiremos os ecos dessa intensa vivência coletiva, a começar pelo reconhecimento aos nossos resilientes professores, que há muito tempo desempenham um importante papel de agentes de transformação em nossa sociedade, muitas vezes em situação precária.
A responsabilidade de construirmos uma sociedade mais justa e plural é de todos nós, fazendo cumprir o que a nossa Constituição Federal de 1988, no artigo 205 determina:
A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Fora da educação não há progresso. O nosso presente às futuras gerações somente estará garantido com as sementes do conhecimento, cultivadas pela resistência e dedicação dos nossos mestres do saber.
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