Valter Hugo Mãe é um dos principais nomes da literatura lusófona contemporânea.
VHM nasceu Valter Hugo Lemos, em 1971, na Vila de Henrique Carvalho, Angola. Em 1980 mudou-se para Vila do Conde, Portugal. Na Universidade do Porto formou-se em Direito e fez pós-graduação em Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea. Em sua trajetória, além de romancista, foi poeta, editor, artista plástico, cantor e apresentador de televisão.
A obra literária do autor, laureado com um Prêmio Saramago, é extensa e diversa: reúne 14 publicações em prosa e 22 em versos. A característica mais marcante delas é a força poética com a qual aborda temas demasiadamente humanos, como infância, tristeza, amor, luto e morte. Por vezes apresentam, ademais, desafios à língua portuguesa, como dispensa de travessões, letras maiúsculas ou do termo “não”.
Para divulgar e enaltecer a escrita e o pensamento do artista, separei 10 dos meus trechos favoritos de seus escritos:
“Repeti: a morte é um exagero. Leva demasiado. Deixa muito pouco.” – A desumanização.
“Os poemas são instintivos, eu disse. Uma natureza instintiva que quase nos redime. Às vezes, um poema acende-se como um candeeiro dentro da cabeça. Fica-se a ver muito bem o que até então nunca se vira. Pendurar um poema e atravessar com ele a noite inteira sem sequer nos darmos conta de que se fez noite”. – A desumanização.
“o amor, para mim, mesmo que inventado, ainda vinha de algo terrível que queria nos enganar para melhor abater.” – a máquina de fazer espanhóis
“preparem-se, sofredores do mundo. o tempo não é linear. o tempo vicia-se em ciclos que obedecem a lógicas distintas e que vão sucedendo uns aos outros repondo o sofredor, e qualquer outro indivíduo, novamente num certo ponto da partida.” – a máquina de fazer espanhóis
“Ser o que se pode é a felicidade. Pensou nisto a Isaura. Não adianta sonhar com o que é feito apenas de fantasia e querer aspirar ao impossível. A felicidade é a aceitação do que se é e se pode ser.” – O Filho de mil Homens
“Via-se metade ao espelho porque se via sem mais ninguém, carregado de ausências e de silêncios como os precipícios ou poços fundos. Para dentro do homem era um sem fim, e pouco ou nada do que continha lhe servia de felicidade. Para dentro do homem o homem caía.” – O Filho de mil Homens
“A menina, habitante sobretudo dos sonhos, disse: havíamos de ter um jardim seco. Um de pedras que fizesse o ondulado do mar. Tão bem alinhado que fosse um desenho perfeito por onde poderíamos percorrer os dedos. A criada perguntou: seco. A cega respondeu: teríamos sempre lágrimas para o molhar. E sorriu.” – Homens imprudentemente poéticos
“a maria da graça chorou depois a noite inteira, muito calada, com uma certa felicidade que já ninguém lhe podia roubar. que felicidade tão inusitada a faria chorar horas a fio. a vida tão simplificada naquela percepção clara do que afinal importava. ela não perderia de mão o sentido das coisas. achava que se abriria diante de si uma estrada por onde caberia corpo inteiro para chegar ao lugar onde precisava de estar.” – O apocalipse dos trabalhadores
“A liberdade também era isso, não voltar.” – Contos de cães e maus lobos
“a morte não me
assusta haverei de voar-lhe
no céu da boca
assim que se prepare para
me engolir” – Publicação da mortalidade