Assim que dirigiu Amnésia, o jovem diretor britânico Christopher Nolan queria desenvolver seu próximo projeto, muito mais diferente. Mas aconselhado pelo seu agente, que era cedo demais para um filme da complexidade dramática e financeira de A Origem. Não só os produtores teriam dificuldade de entender o conceito da ideia do sonho dentro do sonho, como o custo de produção e de seus efeitos visuais, não eram atrativos para a faminta indústria de blockbusters de Hollywood. Sabia decisão.
Nolan passou sua credibilidade ao emplacar sucessos como os dois primeiros novos filmes Batman estrelados por Christian Bale, abrindo os bolsos da Warner para o projeto de A Origem (2010), e outros conceitos diferentes como, Interstelar (2014), Dunkirk (2017) e agora, Tenet, que infelizmente chegou aos cinemas durante a pandemia de coronavírus, atrapalhando seu desempenho nas bilheterias. Ainda assim um filme que chega com a esperança de ser o primeiro passo para a volta à “normalidade” das sessões de cinema no Brasil.
Conceitualmente, Tenet é um filme de ação e ficção-científica, que aborda o projeto de um bilionário russo (Kenneth Branagh, de Dunkirk) de iniciar o fim do mundo, a luta de sua esposa de recuperar a guardo do filho, enquanto correndo contra o relógio para recuperar uma carga de plutônio está um agente especial do governo americano feito por John David Washington (Infiltrado na Klan). Pode parecer meio confuso, mas aqui vai um conselho importante: vá ao banheiro antes da sessão. Não perca nenhum detalhe do que está acontecendo para não conseguir chegar até o final do filme.
Assim como acontece em A Origem ou Dunkirk, Tenet é uma soma de pequenos detalhes que fazem o filme uma obra única. Começando com um atentado terrorista durante um concerto, onde conhecemos o agente feito por John David (aliás, filho de Denzel Washigton), habilidoso em situações tensas. Mesmo tendo um resultado positivo, ele acaba caindo no final da missão, e acordando milagrosamente num centro de treinamento do governo.
É lá que ele descobre que agora faz parte de um grupo especial de agentes chamado Tenet, que tem, entre outras funções, a habilidade de lidar com viagens no tempo. Sua primeira missão na busca do plutônio roubado é com outro agente Tenet, feito pelo futuro Batman, Robert Pattinson. Ele, inclusive, é parte essencial para que o plano para chegar próximo ao bilionário russo dê certo. A química entre os dois atores é algo para destacar entre as grandes duplas raciais do cinema como Mel Gibson e Danny Glover, de Máquina Mortífera, por exemplo.
Não vá se precipitar e imaginando que o filme é sobre evitar uma catástrofe alterando a linha do tempo, muito comum dentro desse gênero de filme. Pelo contrário, a ideia é como usar o que acontece no futuro para tentar corrigir detalhes cruciais do presente. Parece confuso, mas a cada passo que o Tenet dá na busca do plutônio desaparecido, uma janela se abre para entender o que está acontecendo.
Nolan, com Tenet, define seu universo criativo que começou com O Grande Truque (2006), sobre a bizarra disputa para quem é o melhor mágico da Inglaterra Vitoriana; passa pelos caminhos tortuosos da mente humana com A Origem; mergulha em conceitos científicos sobre a relação tempo e espaço de Interstelar, e resvala sobre o ponto de vista diferente sobre o mesmo evento histórico de Dunkirk.
Por isso, quando tiver assistido ao filme, não pense que o resultado dessa mistura de conceitos dramáticos e científicos, será de fácil assimilação. Nolan não quer isso, não quer que o público sai dizendo que entendeu o filme. Há sempre margem para dúvida sobre algo dentro da histórica que vai fazer você pensar se o que viu é a história verdadeira ou algo criado dentro da mente do protagonista, também conhecido como Tenet. Lembre-se do final ambíguo de A Origem com o pião de Leonardo Di Caprio.
É claro que, mesmo com toda a atenção dispensada para não perder nenhum detalhe, Tenet é um espetáculo visual e conceitual. A sequência clássica onde o herói e seus companheiros tem que impedir o apocalipse é digno de um bom filme de 007. A diferença é que você não sabe para que lado o relógio anda, tornando Tenat um filme desafiador para o mais cinéfilo dos fãs do realizador Chris Nolan. Sim, ele criou algo novo e vai mexer com nossas cabeças a cada novo projeto pessoal e que pode fazer o que quiser por que, agora, dinheiro não é o problema.
Tenet
Direção e Roteiro: Christopher Nolan
Elenco: John David Washington, Robert Pattinson, Elizabeth Debicki e Kenneth Brannagh.
Estúdio: Warner Bros.
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