Durante décadas, um dos cernes da produção e tecnologia no campo agrícola era acabar com a fome das pessoas, cujo o tema se pautava na necessidade de aumentar a produção no setor para acompanhar o crescimento populacional. Atualmente, acabar com a fome, ainda é um dos principais objetivos da Organização das Nações Unidas (ONU).
Segundo o Relatório Global de 2020 sobre Crises alimentares do Programa Mundial de Alimentos, como resultado da COVID-19, pelo menos, 130 milhões a mais de pessoas se encontram sob risco de fome. E que este problema estaria ligado a renda, caso alguma dessas pessoas fossem prejudicadas, desta forma um fundo de pelo menos 10 bilhões de dólares seria necessário para retardar o risco eminente da fome.
Entretanto, segundo a “Food and Agriculture Organization” (FAO), o crescimento da demanda mundial por produtos agrícolas que foi em média de 2,2% nos últimos 30 anos, deverá cair para 1,5% ao ano, para os próximos 30 anos. Isso se deve, em partes, pela redução do crescimento populacional que foi de 1,7%, em média, nos últimos 30 anos, passando para 1,1% até 2030.
Visto o risco eminente que enfrentamos, a “World Wild Fund for Nature” (WWF), destaca que a produção global de alimentos é suficiente para alimentar 1,5 da população mundial, entretanto 1 a cada 3 pessoas não tem o suficiente para comer, apontado o desperdício alimentar e a desigualdade social como um dos cernes do problema atualmente.
Recentemente, um artigo publicado na Nature Plants, intitulado “Feast and famine in agricultural research”, apontou algumas lacunas sobre o tema. Sendo assim, uma coleção ( https://www.nature.com/collections/dhiggjeagd ) de artigos publicados em vários periódicos da Nature Research ( Nature Food , Nature Machine Intelligence , Nature Plants e Nature Sustainability ) tenta resolver esse problema. O projeto CERES 2030, reuniu mais de 75 especialistas globais de 23 países, no qual, analisaram um conjunto diversificado de questões em sua avaliação de mais de 100.000 artigos em pesquisa agrícola. O resultado foi surpreendentemente, apenas cerca de 2% das pesquisas agrícolas e agronômicas publicadas têm dados originais e de alta qualidade sobre soluções para pequenos agricultores.
O artigo destaca, alguns efeitos robustos e significativos:
– “Os agricultores estão cada vez mais sob pressão para mudar para novas culturas resistentes ao clima devido aos padrões climáticos incertos e em constante mudança. As taxas mais altas de adoção de safras pelos agricultores estão vinculadas a serviços de treinamento e consultoria”.
– “Em países de renda baixa e média, 76,7% das fazendas de pequena escala estão localizadas em regiões com escassez de água e menos de 37,2% delas têm sistemas de irrigação. Essas necessidades de água devem ser atendidas, e o uso de gado e tecnologias digitais são alternativas subestimadas para a irrigação”.
– “As organizações de agricultores são particularmente úteis para os pequenos agricultores. A filiação foi associada a efeitos positivos sobre a renda em 57% dos casos revisados e sobre o rendimento da colheita, sobre a produção e o meio ambiente em 20–25% dos estudos”.
Ainda sobre o artigo, é importante destacar, que quando encontramos resultados tão variáveis e com baixo grau de confiabilidade, é importante repensar sobre as metodologias de pesquisa e de tomadas de decisão para a agricultura nos próximos anos. Ainda que o crescimento do agronegócio se dê para as grandes empresas, os pequenos agricultores são os que mais sofrem com a falta de tecnologia, pesquisa e com as mudanças climáticas.
No Brasil, por exemplo, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 70% dos alimentos consumidos no mercado interno, provém da agricultura familiar. Isso exemplifica, como nossa atenção de pesquisa e investimento, está longe de acabar com a fome.
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