A Obscena Senhora D – Hilda Hist
Hilda Hist, poeta, ficcionista, dramaturga e cronista, é uma das maiores escritoras brasileiras.
Esta novela é composta por uma densa prosa poética. Sua protagonista é Hillé, idosa enlutada cujo sentimento mobilizador é o de solidão. Uma vez assolada por lembranças e decidida a evitar novos laços, utiliza como subterfúgio o vão de sua escada, onde, inclusive, contata seu falecido companheiro.
Vale destacar, ademais, a forma com a qual a personagem fala sobre sexo, assim vivendo uma particular liberdade.
A Paixão Segundo G.H. – Clarice Lispector
Clarice Lispector é um dos maiores nomes da literatura brasileira. O conjunto de sua riquíssima obra é composto por oito romances, uma novela, cinco livros infantis, seis de contos, cinco de crônicas, dois de cartas, um de entrevistas e outro de imagens.
Este, um de seus principais livros, é um longo fluxo de consciência. Seu enredo é simples: uma mulher vai faxinar um quarto, encontra uma barata, e, com nojo, mata-a. Depois, decide provar a pasta branca que escorre de seu corpo escorre.
Estas ações por si já evocam diversos sentimentos. Porém, o monólogo introspectivo e epifânico da personagem as conferem imensa profundidade, inclusive aquela que não pode ser contemplada por palavras.
Becos da Memória – Conceição Evaristo
Há mais de 20 anos a gigante autora mineira, participante ativa dos movimentos de valorização da cultura negra em nosso país, contribui à cultura com ensaios, ficções e poesias.
Este livro é um dos mais importantes romances memorialistas da literatura contemporânea brasileira. O olhar predominante nele é o de Maria-Nova, mulher-símbolo de resistência em contexto social e econômico marcado por racismo e sexismo, a quem os personagens contam suas memórias. Assim, entrelaçando narrativas, é narrado o drama de uma comunidade favelada em processo de remoção.
Eu, Tituba: Bruxa Negra de Salém – Maryse Condé
Maryse Condé, escritora caribenha mundialmente aclamada, é professora, feminista e ativista do movimento negro. Em 2018, ano em que o Nobel foi suspenso, foi vencedora do prêmio literário alternativo, o New Academy Prize.
Tendo como pano de fundo da obra o horror do colonialismo e suas consequências facínoras, seu livro é uma impactante ficção histórica. Ele é narrado por Tituba, quem apresenta e protagoniza uma versão da história das Bruxas de Salém. Assim, expõe sua trajetória à defesa da liberdade e denúncia das injustiças, caminho marcado por diversas violências e intenso sofrimento.
Morra, Amor – Ariana Harwicz
É o romance estreante da autora argentina, que já foi adaptado para o teatro em diversos países.
Ele é narrado por uma mulher estrangeira que reside no interior da França com seu marido e filho bebê. Seu sentimento predominante é o de inadequação ao papel de esposa e mãe. Enquanto cumpre suas responsabilidades, é infiel, deseducada nos eventos familiares; pensa atrocidades, faz brincadeiras duvidosas e, principalmente, almeja o que entende como liberdade.
A obra é, enfim, um sincero relato sobre casamento, maternidade e solidão, temas cujo sofrer relacionado ainda é tabu.
Dias de Abandono – Elena Ferrante
Elena Ferrante, famosa por retratar universos femininos, é uma das mais aclamadas escritoras contemporâneas. A aura de mistério é um componente de sua identidade: a autora italiana persiste em publicizar somente seu um pseudônimo, sem nunca mostrar o rosto ou dar pistas sobre sua identidade.
Neste livro, há uma narrativa sobre devastação. A quadragenária narradora-personagem é Olga, mulher subitamente abandonada por um marido com quem viveu 15 anos, que alegou estar indo morar com uma outra namorada. Assim, enquanto elabora o acontecido, vê-se obrigada a cuidar, sozinha, das responsabilidades exaustivas que dividiam.
Acompanhar a rotina angustiante e o fluxo de consciência da personagem é vivenciar sua dor, que contém honestamente o que é de difícil admissão: raiva, ciúme, ambivalência materna e vontade de desistir.
A Mulher Trêmula – Siri Hustvedt
Siri Hustvedt é uma destacada ficcionista norte-americana contemporânea. Este livro, contudo, é baseado em fatos: combina confissão com escrita científica e ensaio.
Ele apresenta sua história relacionada a um sintoma que se manifestou em um momento de luto e persistiu em situações específicas, o tremor. Embasada em ampla pesquisa, nele a escritora registra suas possíveis bases neurológicas e psiquiátricas, além de expor o conhecimento psicanalítico sobre a histeria.
O mais precioso da leitura, porém, é acompanhar as vicissitudes sentimentais da autora quanto à investigação, que culminam em uma atribuição de significado ao fenômeno que, por vezes, a acomete.
A Redoma de Vidro – Sílvia Plath
É o único romance da poeta. Ele possui forte cunho autobiográfico, ainda que sob narração da fictícia estudante Esther Greenwood.
A história tem início com sua aquisição de uma concorrida bolsa de estágio em NYC, vitória que julga não receber com a felicidade devida. Desde então, em vez de viver o que esperava ser o melhor momento de sua vida, aprisiona-se em uma espiral de tristeza, tédio, ruminação do passado e desesperança quanto ao futuro.
A trama expõe honestamente a vivência depressiva da personagem, que externa a conduta preconceituosa e manicomial quanto a pacientes psiquiátricos. Seu pano de fundo, um contexto extremamente machista, escancara o meio ao qual os sujeitos estão inseridos como fator agravante de sofrimento.
Diário de uma boa Vizinha – Doris Lessing
É uma das obras que a escritora laureada com o Nobel publicou com seu pseudônimo, Jane Somers.
O livro relata a história (ficticiamente) autobiográfica da jornalista Jane, que se aproxima da solitária senhora Madie Fowler, com quem constrói uma relação de amizade e troca de experiências.
A narrativa, que tem a temática da velhice como a mais impactante, externa as delicadezas da escuta e do cuidado sob um olhar feminino ciente da finitude da vida.
A Mulher Desiludida – Simone de Beauvoir
Simone de Beauvoir, escritora, filósofa e ativista feminista, foi uma das maiores intelectuais do século XX.
A obra reúne três contos independentes cujas narradoras, mulheres de meia-idade inseridas no contexto europeu patriarcal, estão às voltas com questões do universo feminino e da vida familiar. Seus sentimentos são, majoritariamente, relacionados à solidão, à dor e ao abandono.
Apesar das três narrativas serem instigantes, convém destacar a primeira, A Idade da Discrição. Com teor autobiográfico, ela pressagia as reflexões da autora a respeito do ser-velho, que compõem seu cânone livro A Velhice.