Em 2012, foi publicada na revista Science o artigo da descoberta do sistema Cripr-Cas9 como um aparato de defesa de bactérias contra vírus agindo no corte do material genético viral. Esse sistema funciona através do RNA (ácido ribonucleico) do tipo Crispr, na qual indica para a nuclease Cas9 – enzimas capazes de quebrar DNA ou RNA – a região em que o material genético invasor deve ser picotado. Fazendo uma analogia, o Crispr seria como uma receita que indica o local do corte para a “tesoura” Cas9. Durante as pesquisas, Charpentier e Doudna também conseguiram direcionar o sistema para um ponto que queriam no genoma permitindo que genes fossem corrigidos ou inativados. Isso mostra uma especificidade no corte dos genes envolvidos, o que fez dar a largada para a aplicação desse instrumento em outras áreas da ciência.
Uma das primeiras tentativas de aplicação foi em células de mamíferos, com o bioquímico Feng Zhang, obtendo sucesso em seus experimentos. Após esses resultados, a ciência espera que a Crispr-Cas9 possa atuar como tratamento de síndromes genéticas, tumores e até no ramo de transplantes, o que já tem mostrado resultados promissores. Uma equipe regida pelo cirurgião Silvano Raia e pela geneticista Mayana Zatz, do Centro de Pesquisas sobre o Genoma Humano e Células-Tronco (CEGH-CEL) utiliza o sistema para a edição de genes suínos que resultam na rejeição humana para permitir o transplante em humanos. Também estudam correção de genes de doenças genéticas, como a distrofia muscular de Duchenne.
Sua aplicabilidade só aumenta com o passar do tempo. Atualmente existem kits diagnósticos de Sars-CoV-2, virus causador da Covid-19, através da Crispr-Cas9. No ramo da agricultura, o sistema se tornou uma concorrente dos transgênicos devido a edição dos genes desejados.
Essa ferramenta rendeu a Charpentier e Doudna o Nobel de Química e, pela primeira vez, duas mulheres compartilharam juntas o prêmio sem algum homem. De todos os Nobels, apenas 7 mulheres já ganharam um. Charpentier afirma
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