As eleições brasileiras municipais acabaram de ocorrer no último domingo 15 de novembro. Para muitos a situação foi apenas: elegemos vereadores e prefeitos. Mas na verdade, tivemos dificeis e complicados cenários políticos acontecendo de forma sorrateira e refletindo nos resultados das eleições. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 45 milhões de brasileiros não escolheram seus candidatos, sendo 4 milhões que votaram em branco, 7 milhões anularam seus votos e 34 milhões de abstenções, para deixar mais abrangente e compreensível, 34 milhões de pessoas não foram votar.
Claro, logo de primeira o que nos vem à cabeça, que uma das principais razões foi a pandemia do coronavírus que assola nosso país. Mas na verdade, ela foi contribuinte e não protagonista desse cenário.
Primeira eleição sem coligações partidárias. Qual o reflexo?
Em uma entrevista feita com o presidente municipal da cidade de São Paulo do partido Cidadania, Carlos Fernandes, ele nos conta que além desse cenário de abstenções, votos brancos e nulos, temos também o fato de que nessas eleições pela primeira vez os candidatos a vereança do Brasil inteiro, não usufruíram de coligações partidárias, o que acaba por fazer com que os partidos concorram pelas suas chapas, aumentando assim o número de candidatos a vereança. A votação de todos os candidatos reduziram, por exemplo: o vereador recorde de votações Eduardo Suplicy (PT), na eleição de 2016 fez 300 mil votos, nessa eleição 2020 reduzindo drasticamente para 100 mil votos.
Com mais candidatos concorrendo, temos uma dispersão dos votos e aqueles partidos os quais são pequenos, têm mais chance de não baterem o quociente eleitoral para eleger se quer uma cadeira. Assim, conseguimos entender aqui na cidade de São Paulo, como a união de cenários não reelegeu o principal nome da assistência social, direitos humanos, ativista pela população em situação de rua, a Soninha Francine (CID). Foi uma grande e infeliz surpresa.
Nenhuma eleição é igual, diz Carlos, não podemos afirmar que as eleições de 2022 serão semelhantes às de 2020 quando pensamos em coligações partidárias. Um cenário melhor seria fundir partidos políticos, que hoje somam-se 33. Além de enxugar a dispersão de votos, os partidos têm uma força maior para eleger/reeleger seus candidatos.
Caminhamos a passos largos para uma não obrigatoriedade de votação.
O cenário de abstenções, brancos e nulos a cada ano vem crescendo e nunca tivemos um número tão alto em 20 anos. Caminhamos a passos largos para uma não obrigatoriedade de votação. Isso significa que as pessoas estão deixando de lado seu direito de escolherem seus governantes, quer seja por uma desilusão política ou pela falta de interesse. Dos 236 países em que se há eleições, 31 fazem uso do voto obrigatório.
Há quem diga que voto facultativo é a resposta para criar-se uma consciência política e real motivação que leve as pessoas às urnas. Mas o questionamento que fica é: se até hoje não tivemos uma consciência e educação política, será que o Brasil está preparado para este passo cultural profundo após vivenciar uma extrema polarização política e conservadorismo que por diversas vezes atacou nossa democracia?
** É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita. O Jornal 140 não se responsabiliza pela opinião dos autores deste coletivo.