O homem (Sapiens) se reconhece e define como espécie empreendedora e dominante sobre os demais seres vivos, expondo esse sentimento claramente nos diversos textos que modelam a fé entre os povos, bem como naqueles que surgiram da reflexão e do debate agnóstico, impactando decisivamente na preservação e manutenção da existência no planeta. Perceber o humano como responsável pelo equilíbrio da ordem natural emprega e dá a cada indivíduo o direito, a missão da participação consciente e integral na elaboração e realização dessa meta.
Com capacidade de perceber e diferenciar as características do objetivo e o subjetivo, a realidade interior e exterior, mas mantendo um forte vinculo comunitário aliado à sensação de pertença a uma possibilidade transcendente, o gênero humano povoou a terra com a determinação de suprir as necessidades de seu grupo. A expansão pela sobrevivência e posteriormente, pelo conforto, revela um ser que compartilha não apenas pelo lucro ou o poder, mas pelo impulso interior que se manifesta na alegria da realização do próximo.
E a concorrência que sempre acompanhou o homem degenerando em violência? Sim, um dos aspetos do ego é gerar uma cisão, uma separação da realidade objetiva e a subjetiva, inibindo a percepção do outro como igual e atribuindo ao mesmo a imagem de “inimigo”. Assim, as guerras nunca cessaram ao longo dos anos e apenas são ampliadas ou diminuídas em seu volume geográfico. E onde se encontra a Empatia nessa caótica jornada? As dificuldades são o exato terreno fértil para visualizar o outro, perceber sua fragilidade e através dela, a pessoal.
Dessa forma, muitos que buscam manter essa essência, esse impulso interior intacto, perceberam a importância de reafirmar vínculos, reaproximar entes humanos para um retorno aos propósitos originais da espécie: o bem comum. Para os espiritualistas ou espiritualizados, dessa reflexão derivou o intento de religar o homem com os demais entes humanos, a natureza e o transcendente, este ultimo fonte de toda a sabedoria que mantém essa unidade na pluralidade.
Sim, religião significa religar, trazer de volta o homem a sua essência, uma palavra muito significativa e mal interpretada. Se um encontro de homens não realiza esse vínculo de cooperação e paz, não religa e, portanto, não é uma religião, mas apenas uma ideologia pessoal ou um modo de vida. Nas palavras de Bertolt Brecht:
Primeiro levaram os negros. Mas não me importei com isso. Eu não era negro. Em seguida levaram alguns operários. Mas não me importei com isso. Eu também não era operário. Depois prenderam os miseráveis. Mas não me importei com isso. Porque eu não sou miserável. Depois agarraram uns desempregados. Mas como tenho meu emprego. Também não me importei. Agora estão me levando Mas já é tarde. Como eu não me importei com ninguém. Ninguém se importa comigo.
Empatia e o Religar, no âmago do ser dividir as alegrias são tão comuns que muitas vezes passa despercebido no cotidiano: no contar para os amigos uma situação de euforia; em cumprimentar desconhecidos simplesmente pelo prazer do ato; em frear o carro para que um pedestre qualquer atravesse a rua; ou simplesmente dar bom dia para família na mesa do café da manhã. Não estamos tão distantes, apenas carentes do desarmamento interior. Aqui começa a paz e a felicidade, quando não se almeja ou deseja agressividade, mas apenas compartilhar vitórias e benefícios.
Diferente de artigos anteriores este se finda com uma pequena, mas significativa citação de um poema que versa sobre a experiência da confluência entre o objetivo e o subjetivo, o imanente e o transcendente, a empatia que leva a tentativa de religar:
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