Por um longo recorte temporal o historiador foi visto como um sujeito que se dedicava a estudos acerca dum passado distante. Essa visão era compartilhada até entre seus pares, considerando que o afastamento temporal permitia um olhar crítico e imparcial das conjunturas. Essa perspectiva também privilegiava documentos oficiais como fontes primárias, buscando neles a “verdade da história”.
Sugerir que um historiador fizesse um balanço histórico do ano que estava inserido, por muito tempo, seria considerado um pecado da profissão. Na verdade, a lista de pecados no métier do historiador é vasta, o despertando sempre cuidado e atenção no exercer do seu ofício.
Nas últimas décadas observamos o fortalecimento de um campo nos estudos históricos, trata-se da História do Tempo Presente. Essa noção foi inaugurada na França, em 1978, a partir do Instituto de História do Tempo Presente (IHTP), cujo primeiro diretor foi François Bédarida.
Conforme o historiador François Dosse, desde a emergência desse campo, é constante a problematização sobre suas diretrizes.
“Enquanto em 1992 o fato que gerou polêmica foi a utilização de fontes orais, em 2011, o que está no cerne dos debates é o aumento das fontes imagéticas, dos recursos relativos a informática e a inflação arquivística que produz um excesso de documentos.”
Contudo, esses entraves são típicos problemas metodológicos, comuns ao ofício do historiador em variados contextos. Exige-se, portanto, criticidade e rigor no levantamento e construção do conhecimento histórico.
Observamos, no decorrer de 2020, variadas postagens em redes sociais, satirizando as dificuldades que encontrariam os professores de história ao elaborar conteúdos acerca desse ano. A sucessão de eventos marcantes exigiria um maior trabalho dos profissionais dessa área.
Entretanto, a verdadeira problemática docente observada em 2020 está na dificuldade de contato com os educandos. Muitos alunos não possuem aparelhos eletrônicos, como celulares e computadores; além disso, o modelo de ensino remoto, em caráter emergencial, desestabiliza as estruturas didáticas e exige uma reinvenção dos professores e dos alunos.
Nesse sentido, consideramos que o métier do historiador em 2020 foi muito afetado, sobretudo no que diz respeito à transmissão do conhecimento. Já no que se refere à produção, consideramos que as atuais diretrizes metodológicas são capazes de suprir e responder demasiadamente bem às problemáticas levantadas.