Embora ainda estejamos longe de uma representatividade em equidade ocupando cargos políticos, estamos cada vez próximos de alcançar câmaras mais diversas. É um caminho sem volta e imparável. Mas por que isso é tão importante? Porque quando trazemos um negro, ele sabe exatamente os problemas vivenciados por ele todos os dias, sendo assim apto a criar políticas públicas com base em evidencias e experiencias pessoais. Um branco por mais empático que ele seja, nunca viverá o que um negro vive, nunca sofrerá o que um negro sofre, portanto, as políticas públicas em algum nível não serão iguais e extremamente relevantes. Além deste fato sobre representatividade, um dos ônus mais importantes, são as pessoas se enxergarem, sentirem-se acolhidas, pertencentes.
É um grito de autoestima e de relevância para a sociedade. Todos tem esse direito. Vejamos abaixo exemplos de algumas composições da diversidade nas câmaras municipais do Brasil:
Vai ter antirracismo, sim!
Na cidade de Vitória, mulheres negras foram eleitas entre as 10 candidaturas mais votadas na cidade: Camila Valadão (PSOL), com 5.625 votos, e Karla Coser (PT), com 1.961 votos. Em Porto Alegre, Karen Santos (PSOL) foi a mais votada da capital com 15.702 votos. Junto com ela, outras personalidades negras também foram eleitas: Laura Sito (PT), Bruna Rodrigues (PCdoB) e Daiana Santos (PCdoB) e o Matheus Gomes (PSOL). Em Belém, a candidata negra Vivi Reis (PSOL) foi eleita com 9.654 votos. No Rio de Janeiro, Tainá de Paula (PT) foi eleita com 24.881 votos. Em Cuiabá, tivemos eleita a Edna Sampaio, a oitava candidata mais votada, com 2.902 votos. Em Recife, Dani Portela com 14.114 votos e foi a mais votada. Benny Briolly é mulher negra e também transsexual do Rio de Janeiro e alcançou 4.458 votos. Em Curitiba, a professora Carol Dartora foi a primeira vereadora mulher negra eleita na história da cidade, a câmara da cidade reelegeu o Renato Freitas.
Comunidade LGBTQIA+
Temos candidaturas eleitas que compõem a letra T da sigla LGBTQIA+, transexuais, travestis e transgêneros: em São Paulo a Erika Hilton (PSOL), com 50.508 e o Thammy Miranda (PL), com 43.321 votos; Em Aracaju, a Linda Brasil (PSOL) com 5.773 votos; a professora Duda Salabert (PDT) com mais de 37 mil votos em Belo Horizonte. Em Niterói, Benny Briolly (PSOL) foi eleita a primeira vereadora travesti do município, com mais de 4 mil votos. Em Carnaúba do Norte, Thabatta Pimenta (PROS) também foi a primeira mulher trans eleita no cargo de vereadora, com 267 votos. Ao todo, 25 candidaturas trans foram eleitas no dia 15 de novembro, um aumento de mais de 200% na comparação com as eleições de 2016, de acordo com dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). Uma verdadeira vitória, sem sombra de dúvidas.
Quilombolas e indígenas, nossas raízes brasileiras
Surpreendentemente tivemos também eleitos nas eleições municipais populações tradicionais, nossas raízes brasileiras, como as comunidades quilombolas. Em Cavalcante (GO), município que abriga a maior área quilombola do Brasil, o Território Kalunga, Vilmar Kalunga foi eleito prefeito. Em Alcântara, Nivaldo Araújo, outro quilombola, foi como vice-prefeito. Em Roraima, dois candidatos a prefeito indígenas o Tuxaua Benisio (Rede) e Professor Jeremias (PROS) foram eleitos como prefeito e vice-prefeito. Em Normandia, Dr. Raposo, indígena Macuxi de 42 anos, foi eleito prefeito pelo PSD. Segundo a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), 56 quilombolas foram eleitos em diversos estados do Brasil para cargos de vereador. Isso é histórico!
Devemos de fato comemorar essa ascensão da diversidade no maior centro decisório da sociedade, mas a jornalista Ligia Taddeo que está se especializando em comunicação política, nos atenta “Não basta ter representatividade, temos que ver qual papel que os candidatos irão desempenhar. Não é nada efetivo termos um negro, homossexual, que luta na direção contrária a tudo que representa, caso do Fernando Holiday (PATRIOTA) aqui em São Paulo”. Holiday foi eleito com mais de 50 mil votos e é contra cotas raciais.
O futuro “is female”, e o presente também!
É cada vez mais notório o número de candidatas, eleitas, reeleitas nas câmaras municipais do Brasil inteiro. A cada ano subimos mais o número da participação feminina, de acordo com dados do TSE. São nessas capitais onde temos o maior número de mulheres vereadoras eleitas e reeleitas: São Paulo (SP) 13 mulheres; Belo Horizonte (MG) 11 mulheres; Porto Alegre (RS) 11 mulheres; Rio de Janeiro (RJ) 10 mulheres; Fortaleza (CE) 9 mulheres. Reelegemos a Cinthia Ribeiro (PSDB-TO) à prefeitura da capital de Palmas (TO). Tivemos mais 8 mulheres eleitas a prefeitura: Bauru (SP), Praia Grande (SP), Contagem (MG), Juiz de Fora (MG), Ponta Grossa (PR), Uberaba (SD), Pelotas (RS) e Caruaru (PE). Claro que, estamos apenas olhando para o cenário positivo da história.
Sabemos que esses números são extremamente baixos perto do que consideramos equidade 50/50, assim como as outras diversidades que citei anteriormente que vemos presente em nosso vasto país. Mas agora mais do que nunca, é a hora (num Brasil que estabelece o conservadorismo como ponto de partida) de comemorar cada vitória, cada passo, independente do seu tamanho! Isso nos dá FORÇA para seguir e vendo que é possível transformar as culturas da nossa sociedade. O eleitor decide quem quer ver resolvendo os problemas de suas cidades, desigualdade social, econômica, racismo, pobreza extrema. A população que quer se ver representada, com coragem se candidata aos cargos decisórios na política. Apenas assim iremos mudar o rumo da história de milhões de vidas, principalmente daquelas que estão a mercê em nossa sociedade.
Não iremos desistir!
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