Na medicina, política, no marketing e em vários setores do mercado e da sociedade, todas as estratégias dependem de dados.
Dados são a matéria bruta das informações e, por sua vez, de conhecimentos. São com esses valores cognitivos que pessoas e instituições inteiras podem ser levadas à consciência da necessidade de certas atitudes e à tomada de decisão para resolvê-las adequadamente.
Neste ano de 2020, tivemos uma grande variedade de situações em que os dados foram muito importantes para detalhar fatos e problemas, assim como para descobrir suas soluções.
Saúde
No ano marcado pelo início da pandemia da covid-19, os dados foram vitais para as instituições e governos poderem descobrir, entender e oficializar publicamente essa situação pelo mundo, permitindo o aviso à população e as medidas de segurança para protegê-la.
Com base na associação do aumento de óbitos e seus perigosos sintomas identificados, distribuídos geográfica e temporalmente, a correlação de diferentes casos médicos permitiu a identificação e a presença desse novo vírus na população e todos os fatores relacionados ao tempo de incubação, meios de transmissão e formas de se proteger conforme mais análises históricas eram realizadas.
Usando diversos aparatos tecnológicos de monitoramento de cada indivíduo e das regiões onde os casos de contaminação com essa doença surgiam, a análise dos dados permitiu a montagem de modelos históricos e de previsões em forma de mapas quase perfeitos. Nesses mapas podemos visualizar em que locais do mundo os casos de covid-19 começaram, por onde passaram e até mesmo onde eles poderiam vir a ocorrer nos menores bairros das cidades, como no mapa interativo LabCidade desenvolvido pela USP.
Laboratórios, empresas de tecnologia e institutos de pesquisa dos governos e de redes privadas, além de identificar a presença desse vírus com base nos dados capturados das amostras nos casos em que se observou sua presença, conseguiram sequenciar o genoma do novo coronavírus em tempo recorde, menos de dois dias.
Com essa identificação da composição do vírus, se iniciou o feroz, porém, cuidadoso processo de pesquisa e desenvolvimento de uma vacina eficaz contra essa doença com o uso de cientistas, supercomputadores e diversas análises.
Enquanto esse processo se realiza, os dados continuam a auxiliar à população e seus governos, monitorando e divulgando o aumento, estabilidade ou queda do número de casos, assim como suas localidades e consequências, seja em superações pela cura da doença ou pela triste perda das vidas contaminadas por ela.
Comunicação
Ainda relacionado à pandemia, é trágico e, ao mesmo tempo, extremamente útil a existência do consórcio de veículos de imprensa, organização de diversos veículos de mídias que informa à população sobre a situação do Brasil inteiro quanto a evolução do novo coronavírus.
Trágico que seja necessária esta união, visto à ausência desse trabalho pela própria instituição pública que deveria realizá-lo, o Ministério da Saúde, e útil por haver a divulgação tão importante dessas informações por meio de instituições privadas que se mobilizam para garantir, em algum nível, a segurança pública.
Após inconsistências, atrasos e até paralisações nas divulgações de dados estatísticos referentes à covid-19 pelo Ministério da Saúde, o consórcio de veículos de imprensa se uniu para fornecer transparência e conhecimento ao público quanto aos necessários dados sobre as taxas de infecção, morte e cura de pacientes com o novo coronavírus no país.
Formado por O GLOBO, Extra, G1, Folha de S.Paulo, UOL e O Estado de S. Paulo, essa organização reúne de forma simultânea, massiva e ágil as informações registradas por cada secretaria estadual de Saúde sobre as atualizações diárias referentes ao novo coronavírus.
Distante de órgãos governamentais, o ano de 2020, até o momento, também foi marcado pelo aumento da comunicação digital entre pessoas e empresas.
Apenas no Brasil, a infraestrutura de internet registrou um fluxo de tráfego de 11 Terabytes por segundo no dia 23 de março desse ano, segundo o projeto IX.br do Comitê Gestor da Internet no Brasil. Um aumento de 25% em relação aos últimos três meses, período em que a pandemia não havia sido oficializada.
Com o distanciamento social e a adoção das práticas de trabalho remoto, a interação entre amigos, familiares, alunos, colegas de trabalho, empresas, clientes e fornecedores de produtos e serviços, a internet se fez mais presente na vida de cada um na busca por alguma forma de continuar a interação com o mundo.
Redes sociais
Em um mar de dados, verdadeiros e falsos, as redes sociais tiveram papéis mais fortes no ano de 2020.
Segundo a consultoria Kantar, o Facebook, Whatsapp e Instagram tiveram um crescimento de 40% em seu uso só no período de março de 2020.
Artistas, músicos, influenciadores, lojas online e grupos montados como redes de apoio aumentaram seu impacto durante o ano para atender às novas e diferentes necessidades do público, pesquisadas e identificadas por interações nas redes sociais e nos hábitos de consumo dos diversos usuários com os dados levantados por esses players.
Em contrapartida, o documentário lançado na Netflix, O Dilema das Redes, fez crescer a busca pela exclusão das contas dessas diferentes redes sociais, como se é possível conferir na plataforma Google Trends.
Disponibilizado na plataforma de streaming em setembro de 2020, a produção, que vincula um documentário real com algumas cenas ficcionais para reforço dramático, reuniu grandes executivos, cofundadores e pesquisadores de redes sociais alertando ao público que não somos os clientes.
Com as polêmicas ferramentas psicológicas apresentadas no documentário por importantes figuras da área de tecnologia, a obra nos explica como podemos e, de fato, somos manipulados a pensar, agir, comprar, votar, usar e nos viciarmos por produtos e serviços vinculados às redes que nem sequer imaginaríamos encontrar, tudo devido aos nossos próprios dados livremente entregues por nós para essas plataformas.
Legislação
No Brasil, seguindo modelos internacionais, para a proteção desses dados e da segurança de quem os possuiu, em 18 de agosto de 2020, entrou em vigor a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), oficialmente Lei nº 13.709/2018.
Com a atuação dessa lei, as responsabilidades, fiscalizações e formas de gestão se fazem mais claras e até transparentes quanto ao consentimento, finalidade, necessidade e abrangência do uso dos dados, agora, opcionalmente cedidos para as empresas por parte de seus usuários com maior poder de seleção e respeito a sua privacidade.
Essa lei contribui, resumidamente, para definir os usos que as empresas podem ou não fazer com os dados dos usuários, assim como esclarece que eles próprios podem permitir ou não determinadas liberações e usos deles, sob pena de multa para casos de vazamentos, falhas de segurança ou mesmo descumprimento dessa sanção.
Eleições
No ano das eleições presidenciais norte-americanas e das eleições municipais no Brasil, 2020 foi mais um ano em que os dados das intenções de votos dos eleitores foram usados com o mesmo impacto que as estratégias das campanhas políticas para convencê-los e alterá-los.
Sabendo de onde vinha a maior parte dos apoiadores e pessoas contrárias, suas necessidades, idades, classes sociais, seus perfis na sociedade e até nas mídias, os textos, discursos, carreatas e projetos de campanha foram se adequando para atender melhor aos requisitos do público, influenciando positivamente na aquisição de eleitores e seus votos.
No Facebook, no dia das eleições, uma opção de compartilhamento surgia na tela do usuário perguntando se ele já havia votado naquele dia e se queria divulgar isso, contabilizando, informalmente, como uma forma de pesquisa eleitoral.
Nos EUA, onde a disputa presidencial ficou acirrada entre Joe Biden e o até então presidente, Donald Trump, por conta das fake news, diversas ferramentas e avisos para tentar impedi-las surgiram nas mídias e nas redes sociais informando a veracidade das postagens compartilhadas de acordo com órgãos de pesquisa confiáveis no país.
Antes mesmo das eleições se concluírem, painéis informativos sobre o andamento do processo eleitoral com números de votos, partidos políticos e estados que estavam sendo contabilizados eram divulgados nas redes Facebook e Instagram permitindo maior conhecimento ao público antes de disseminar determinada informação sem saber sua precisão no momento.
Da mesma forma, antes das eleições se iniciarem, pesquisas de índices de aprovação surtiam efeito nas mudanças dos discursos, locais de atuação e nos debates televisivos dos candidatos à presidência.
Ainda que suscetível à pequenas ou grandes variações, tais campanhas e estratégias só foram possíveis com o impacto que geraram pelo conhecimento do público e da sua atual situação ao redor das diferentes regiões, gêneros, idades e classes sociais espalhadas pelo país.
Os dados são os registros e provas do que nos compõem como indivíduos, instituições e até países. Com eles, as empresas e governos podem saber quem nós somos, pelo que nos interessamos e pelo que poderíamos estar propensos a nos interessarmos, comprarmos e até em quem votarmos.
Em 2020, assim como deveria ter sido feito em muitos anos anteriores e como deverá ser feito nos próximos, o cuidado com os dados é primordial para nosso próprio cuidado como pessoas e organizações.
Da mesma maneira, a curadoria de que dados compartilharemos e quais dados vamos estar abertos a receber e, é claro, verificar, é extremamente importante para que as mudanças e estratégias implementadas nos mercados e na sociedade sejam baseadas no conhecimento correto, completo e verdadeiro sobre toda a situação analisada.
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