Presentemente podemos nos considerar sujeitos de sorte? Chegamos em 2021 com a esperança que esse novo ano realinhe os trajetos embaralhados em 2020. Conforme cantara Belchior, ainda em 1976, a transição para um ano novo denota que “já não podemos mais sofrer no ano passado”. Entretanto, a virada que desejamos em nossas vidas não deve depender apenas do calendário.
A celebração do Ano Novo aponta para uma feição bastante ritualística da nossa sociedade, incidindo naquilo que os historiadores analisam como história das crenças, religiões e mitos. Apontando que, apesar de todos os avanços tecnológicos, alguns matizes do nosso pensamento permanecem quase imutáveis.
Nesse sentido, é importante salientar que a análise dos estudos históricos pode incidir em três tipos de abordagens: acontecimento; conjuntura; estrutura. Onde as estruturas representam elementos inseridos na longa duração da história, muitas vezes contemplando centenas de anos.
Sendo assim, é compreensível observarmos, ano após ano, as expectativas depositadas em torno de um novo ciclo. Esse tipo de percepção baseia-se num “mito póstero”, almejando no futuro o tempo da realização e do sucesso.
É importante problematizar o efeito discursivo presente nesse tipo de narrativa que, em sua feição otimista, desloca nossos olhos dos problemas do presente. Dessa forma, qualquer sujeito que desacredita dessa linha de raciocínio acaba por ser visto como rancoroso ou pessimista.
Basicamente esperamos repetidamente um Ano Novo. Traçamos nossas promessas, nossas metas e expectativas. Certamente é importante planejar, entretanto precisamos sair desse estágio e agir algumas vezes . Pois como cantaria o próprio Belchior: “viver é melhor que sonhar”.