Escrever é uma arte. Uma arte que começou quando alguém decidiu que era tempo de tirar as histórias das cavernas e coloca-las num papel para que mais pessoas pudessem apreciar aquilo que o autor queria dizer quando desenhou pessoas caçando um gnu. O mundo da escrita evoluiu da pena, para o lápis, para a caneta tinteiro, até a esferográfica e suas variantes. Mas o que fez a grande mudança foi a máquina de escrever, que foi concebida no século 18 e foi aperfeiçoada nas décadas seguintes até chegar no século 20, com a Remington, Olivetti, Olímpia e as gigantescas IBM.
Para uma geração de jornalistas como a minha, escrever com máquina de escrever era um ato tão trivial como tomar água ou falar de futebol. Com o tempo, as máquinas foram substituídas por outras máquinas mais modernas chamadas computadores. O teclado pesado mas preciso das máquinas de escrever como a Olivetti, por exemplo, começaram a ser substituídas por teclados incorporados nos computadores ou nos modelos portáteis, chamados notebooks. Aqui, não interessa quem veio primeiro, se o ovo ou a galinha, mas como o usuário poderia fazer um bom ovo frito ou um frango assado.
Curiosamente, o fato do teclado do PC ser mais fácil de ser utilizado pela leveza do toque, criou uma geração inteira de digitadores que não usam os dez dedos para, claro, digitar. Explico: muito antes da facilidade do computador pessoal, para trabalhar numa redação ou num escritório de advocacia, por exemplo, era importante você ter feito um curso de datilografia para aprender como usar todo o potencial da máquina de escrever. Usar o tabulador para fazer colunas, fazer cópias usando um papel carbono, era parte fundamental de qualquer bom curso de datilografia. Em tempo: se você não sabe o que é um tabulador ou papel carbono, use o Google, hehe.
Mas o mais importante do curso era aprender como digitar sem olhar no teclado, para criar uma memória prática que dará velocidade na criação do texto. E não era nada fácil. Primeiro, as máquinas de escrever usadas nas escolas de datilografia não tinha as letras no teclado. O primeiro exercício do iniciante era digitar várias colunas com ASDF JKLÇ. Pelo Método Remington, você digitava ASDF depois o G e voltava para o F, fazendo o mesmo com o lado direito do teclado, JKLÇ depois o H e voltava para o J.
Foi por esse método que aprendi a escrever olhando no papel e hoje na tela, sem me preocupar com o que tem debaixo dos meus dedos. Escrever é pra mim, algo instintivo. O que descobri com o passar do tempo é que aquele teclado ajudou também uma nova geração a aprender a digitar com os dez dedos, pressionados com a necessidade de escrever rápido em chat online. É claro que existe uma pequena vantagem de quem aprendeu com uma máquina de escrever: fortalecimento da musculatura dos dedos.
Por isso, fiquei surpreso há alguns anos quando participei da Brasil Game Show, ao ver vários estandes de grandes companhias de informática, apresentando novos e potentes teclados para serem usados, não para escrever, mas para jogar videogame. Mas num primeiro toque, percebi que estava diante de um teclado muito semelhante à minha antiga e conservada Lettera 46 da Olivetti. Teclado com pressão forte.
O mercado de vídeo game mundial é assustadoramente gigante e fatura mais do quer o do cinema. Os jogos de celulares somente no Brasil, em milhões de dólares, cerca de $ 324 contra $ 314 para PC e $ 211 em consoles. A previsão dos especialistas é que no próximo ano, todos esses números dobrem, no mínimo. Por isso, o que para mim era uma surpresa apenas faz parte de um milionário negócio onde não se pode perder nenhuma oportunidade para aumentar sua fatia de mercado.
Os teclados para games são fascinantes para quem escreve como eu. Eles reúnem o melhor de dois mundos, a tecnologia de resposta rápida, resistência e suavidade. Você pode se emocionar criando um texto onde sente cada batida forte da tecla digitada, sabendo que qualquer erro poderá ser reparado com outro simples toque. Algo, claro, superior à máquina de escrever, que obrigava a começar o texto novamente ou corrigi-lo usando tinta branca ou um adesivo branco para redigitar sobre ele.
É claro que usar esses teclados requer um investimento relativamente alto. Qualquer teclado normal hoje você pode comprar em torno de 60 a 80 reais, enquanto que um teclado de game de qualidade começa na casa dos 300 reais. Por isso, antes de optar pelo teclado que irá me acompanhar nos próximos anos, decidi fazer uma série de testes antes de bater o martelo. O primeiro deles está sendo com o GK500, da AOC.
Esses teclados têm algo interessante que é sua luminosidade. As teclas têm centenas de cores revezando continuamente enquanto você escreve ou joga. Para um redator, isso não é o fator determinante, mas a resposta da tecla quando digita. E nesse quesito, o GK500 é bom, enquanto que suas cores mudança sem atrapalhar. Ele já vem homologado com as letras usadas no Brasil como o Cedilha e as acentuações, fundamental para redigir sem precisar fazer contorcionismo quando se usa o Word, por exemplo, num Mac.
O fato é que esse tipo de teclado vai muito mais além do que simplesmente usar as teclas W,A,S,F,X para direcionar o jogador na sua missão de destruir o inimigo e conquistar o Universo. Ele é importante para levar uma mensagem que pode ser de paz e tolerância, mesmo que você tenha que destruir seus inimigos com um golpe rápido e fulminante. Afinal, como citaria o professor Marcus Brodi numa cena crucial de Indiana Jones e a Ultima Cruzada, “ a pena é mais forte que a espada”.