Que do Ego emanam justificativas absolutas quanto ao comportamento pessoal, bem como a demonização do “outro” como defesa, os compêndios de psicologia há tempo produzem material a respeito, mas o que o mundo espiritual revela sobre o tema?“Cuiusvis hominis est errare” (Errar é próprio de qualquer homem). Fazendo uma critica ao grande general Marco Antônio com esta frase, Cícero (Filípicas XII) reflete abertamente a questão de que a espécie humana está sujeita ao engano, ou ao equívoco. Não apenas em questões que envolvam o poder público, mas no comportamento geral frente às relações humanas. Muitos seguem a mesma linha de raciocínio, mas ponderam que foi através do erro que o homem foi gradativamente descobrindo e corrigindo a sua história, tal como muitas vezes ocorrido na ciência. Nas palavras de Thomas Edson: “eu não fracassei, só descobri 10 mil maneiras que não darão certo”.
A espiritualidade também avalia que durante a jornada de vida, muitos erros são cometidos devido à fragilidade em lidar com os desafios e a dificuldade em perdoar desafetos, levando os indivíduos a uma postura defensiva e acusadora. Uma frequência vibracional de distanciamento e competitividade que anula qualquer possibilidade de empatia e autocrítica. Dessa raiz nasce a ânsia de denegrir um modo de vida mesmo que semelhante, diminuindo sua importância para justificar e enaltecer necessidades pessoais. Da mesma forma a ética filosófica pondera como imaturidade a incapacidade de se ver e perceber como autor e ator da ruptura contra a razão.
Esta imatura sede pelo poder é o que levaria a busca de uma fundamentação segura e inquestionável, levando o discurso pessoal para uma esfera superior onde selaria o desfecho de uma discussão sobre valores. Mas estes valores representam realmente os ensinamentos da filosofia espiritual? Onde um discurso separatista, classista, homofóbico, misógino e racial encontra respaldo na espiritualidade? Um dos homens mais controversos, comentado e “seguido” nos últimos 1987 anos, Jesus de Nazareth através de sua comunidade, deixou uma gama de exemplos revelados em sua conduta e ação no qual condenava tais práticas.
“Quem não está comigo está contra mim; e quem não ajunta comigo, espalha. Por isso, eu vos digo: todo pecado e toda blasfêmia serão perdoados aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito não lhes será perdoada Todo o que tiver falado contra o Filho do Homem será perdoado. Se, porém, falar contra o Espírito Santo, não alcançará perdão nem neste século nem no século vindouro. Ou dizeis que a árvore é boa e seu fruto bom, ou dizeis que é má e seu fruto, mau; porque é pelo fruto que se conhece a árvore. Raça de víboras, maus como sois, como podeis dizer coisas boas? Porque a boca fala do que lhe transborda do coração. O homem de bem tira boas coisas de seu bom tesouro. O mau, porém, tira coisas más de seu mau tesouro Eu vos digo: no dia do juízo os homens prestarão contas de toda palavra vã que tiverem proferido. É por tuas palavras que serás justificado ou condenado” (Mateus 12, 30-37)
Palavras diretas que não necessitam interpretação, pois a espiritualidade é clara em alertar para o declínio pessoal ao qual o individuo esta sujeito ao se entregar a individualidade e indiferentismo. A derrocada interior esta no afastamento e na teimosia em reconhecer erros de raciocínio, conduta e sentimentos, levando ao completo isolamento no ego que se eleva acima do sagrado, colocando valores pessoais como orientações inquestionáveis do transcendente e interesses mundanos como desejo divino. Seduzem e induzem seu intimo na certeza de uma vitória, mesmo que factoide, represente a confirmação de uma superioridade inglória. Concluído o pensamento de Cícero: Cuiusvis hominis est errare: nullius nisi insipientis, perseverare in errore (“Errar é próprio de qualquer homem, mas apenas ao ignorante perseverar no erro“)