Há quem seja especialista em uma determinada área e quem conheça “de tudo um pouco”.
Porém, mais do que ser um especialista ou uma das chamadas pessoas multitarefa, uma pessoa polímata é aquela que circula entre diferentes áreas do conhecimento, possuindo altos níveis de perícia em cada uma delas, não se limitando a um único assunto.
Segundo o dicionário Michaelis, polímata é uma pessoa que “conhece muitas ciências”, e isso não é nenhuma condição genética.
Uma pessoa polímata pode ser alguém comum que, ao longo da vida, se interessa e acumula, por meio de pesquisas, prática, treinamentos e afinidades, o conhecimento abrangente de vários assuntos e a profundidade exemplar em cada um deles, simultaneamente.
Tanto meio profissional quanto no pessoal, essa característica pode trazer diversos benefícios para a pessoa que a possuir e até para a sociedade atual ou futuramente presenteada com suas realizações.
Isaac Newton, renomado cientista inglês nascido durante o século XVII, é um exemplo de um polímata mundialmente renomado por suas realizações. Newton é considerado o pai de diferentes contribuições para os ramos da física, óptica, astronomia, matemática e filosofia.
Ele nos apresentou estudos sobre a Lei da Gravidade, famosa pela controversa inspiração causada pela queda de uma maçã, e os princípios físicos e matemáticos posteriormente chamados de Três Leis de Newton. Essa mesma figura inventou o primeiro telescópio refletor e é o desenvolvedor dos estudos sobre a teoria das cores e os fenômenos ópticos de reflexão, refração e difração da luz.
Durante o Renascentismo, no século XV, um dos exemplos mais famosos de figuras polímatas surgiu com o nome do italiano Leonardo da Vinci. Sua fama na atualidade se deve aos inúmeros trabalhos de arte, engenharia, anatomia, matemática, botânica e aos seus complexos inventos que se tornaram, oficialmente ou como fonte de inspiração, mecanismos usados até hoje.
Da Vinci pintou quadros notáveis, como a Mona Lisa e A Última Ceia, prototipou máquinas voadoras e o que hoje chamamos de helicóptero, e além de diversas outras realizações, contribuiu com estudos e publicações sobre os ossos, músculos, as composições dos sistemas fisiológico, reprodutivo e cardiovascular do corpo humano.
Não só se empenhando em várias formações e atuações, Leonardo da Vinci também era um exemplo de contradição. Era um vegetariano que dissecava corpos para estudar a anatomia, um pacifista que montou máquinas de guerra como o tanque, e um humanista que produziu exímias obras de arte sacra.
A contradição, como a de Leonardo da Vinci, não é regra para a produtividade e os benefícios da capacidade de ser polímata, mas exemplifica a diversidade e até a divergência entre as ciências que podem ser aprendidas e desenvolvidas por uma mesma pessoa.
A pluralidade de interesses e trabalhos é o que pode complementar os diferentes assuntos estudados para um mesmo objetivo ou, então, acrescentar especialidade individual em cada um deles para suas aplicações em determinados momentos e em determinadas obras.
A diversidade de conhecimentos adquiríveis e o crescimento da especialização em cada um deles só pode ser obtida por meio do interesse, da pesquisa e da experimentação.
Praticamente todas as pessoas têm vontades ou afinidades por assuntos distintos ao longo da vida. Alguns podem ser mais práticos, já outros de característica mais conceitual e abstrata. Com alguns deles podemos ter certa facilidade, gostando ou não, e com outros podemos sentir grande dificuldade de dar prosseguimento.
Uma forma de validar a capacidade de se aprofundar e desenvolver cada um dos variados conhecimentos pode ser o não julgamento logo de cara e, na medida do possível, sua experimentação.
Pesquisar assuntos diferentes, sermos curiosos, abertos às opiniões diferentes e, principalmente, àquelas opiniões que não concordarmos ou não gostamos de início, são alguns dos passos para adquirimos conhecimento de vários tópicos de forma suficiente e íntegra antes de qualquer crítica ou limitação prévia por nossa própria crença no momento.
Buscar novas informações e descobrir o que mais pode gerar interesse, imediato ou no futuro, são os princípios para explorar e exercitar cada vez mais os nossos talentos e o intelecto.
Livros, filmes, palestras, documentários, videoaulas, grupos de pessoas com características diferentes das nossas, novos idiomas e até linguagens de programação de softwares e aplicativos, todos esses são fatores pelos quais podemos nos aventurar e experimentar novos assuntos fora de nossa zona de conforto, variando os estudos e afinidades que podemos conquistar.
Com maiores níveis de detalhe em áreas distintas, podemos nos instigar a investigar mais sobre temas que nunca sequer ouvimos falar ou que, então, não tínhamos informação suficiente para poder ter qualquer opinião decisiva ou justificável.
Claro que gostar da área ou do tema é fundamental para poder dedicar tempo a eles. Afinal, ser alguém polímata não é um trabalho obrigatório exigido de nós, mas sim uma característica positiva que vincula a vasta gama de afinidade com expertise em nossa própria vida, seja ela pessoal ou profissional.
Atuar com qualidade em mais de uma área do conhecimento no ambiente de trabalho pode nos proporcionar a chance de ajudar os diferentes setores do mercado e até a nossa própria carreira como profissionais “multitarefas”, reduzindo muito a chance de faltar algum talento necessário para determinada atuação.
Da mesma maneira, em nossa vida pessoal, os círculos sociais, as habilidades que podemos investir para inovações e até mesmo o puro prazer de ter e participar de mais uma única área de interesse, aumentam significativamente. Assim, praticamente, nunca deixamos vaga a chance de nos envolvermos e nos sentirmos realizados em mais de um ambiente.
Isso não é um valor que se adquire instantaneamente. Ninguém nasce com a característica de ser polímata e nem mesmo a cria de um dia para o outro. Isaac Newton, por exemplo, viveu longos 84 anos, e Leonardo da Vinci, 67. Nem todo esse tempo foi de curiosidades frenéticas, mas sim do equilíbrio, disponibilidade para se concentrar na vida e poder perceber, adequadamente, cada uma delas.
Com um ritmo aberto e estável a ponto de haver sinergia, foco e, então, a possibilidade de perceber o timing para as chances de buscar novos aprendizados, pode ser propício o consistente desenvolvimento de cada um, assim e só quando os anteriores estivessem efetivamente bem explorados.
Do mesmo modo que essa característica pode ser um benefício despretensioso, é também uma habilidade forjada pelo interesse ou pelos momentos de necessidade que podem surgir ao longo da vida.
O auto incentivo e a confiança em si mesmo são tão importantes quanto a avaliação da dosagem de cada assunto e uma aberta, porém sensata e monitorada, curadoria para selecioná-los.
A escolha de como seguir com a priorização de cada um ou com quais decidir não aplicar tantos esforços pode ser refletida, após a experimentação, com a percepção de quais são realmente desnecessários para si ou definitivamente desinteressantes considerando o próprio bem-estar e os ambientes em que o sujeito pode estar inserido.
Seja no ambiente profissional ou nos interesses e habilidades pessoais, há muitos meios em que a profundidade em certo conhecimento pode ser mais necessária do que a abrangência de vários assuntos. Da mesma forma, o contrário é igualmente verdadeiro e não há nenhum problema nisso.
Contudo, quando é desejada a combinação equilibrada desses dois fatores, vários e distintos gostos e conhecimentos podem gerar grandes benefícios para aqueles que se incentivarem a estudá-los. Algo que também pode contribuir muito para os grupos e ambientes que podem receber algum usufruto deles.