Olá caros leitores e leitoras, espero que esse artigo os encontre bem e com disposição para mais um ano que se inicia.
No artigo anterior, eu comentei com vocês que havia feito alguns cursos online e gratuitos. Eu sou muito apaixonada pela escrita, pela comunicação. Para quem está me conhecendo agora, com esse texto, eu sou tradutora por formação e empreendedora por vocação.
Esse tema é dos meus objetos de estudo contínuo. Me conhecer melhor, entender meus sentimentos, meu lugar de fala, cultura e privilégios também ajudam e desafiam a estabelecer diálogos mais construtivos comigo e com o mundo.
A inteligência emocional, ou soft skills caso prefira, é a habilidade que dificilmente poderemos delegar a uma máquina. Esse é um recurso humano que nos aproxima, mas também nos afasta no entendimento com o outro.
Em um mundo de permanente apelo visual, estético, de poluição sonora, não me surpreende que estejamos perdendo nossa capacidade de ouvir. Tornar o processo de escuta e fala conscientes aumentam a potência do afeto.
A empatia como uma construção intelectual, tão defendida pela filósofa e mestre Djamila Ribeiro, trouxe-me a oportunidade de estudar realidades diferentes da minha. Entender que o mundo é plural, pensamos diferentes e o diálogo é um produto do meio onde estamos, nossa bagagem, presente na vivência individual e coletiva, por isso toda ideia tem de ser testada com a observação, sem pressupostos.
O ruído entre o que eu falo e como sou interpretada passa for filtros, “ pre-conceitos” que cavam muitos abismos, desconexão e conflitos.
Quando ouvimos, alguns filtros funcionam como programações pré-definidas inconscientemente. Fragmentamos e selecionamos somente o que nos interessa, omitindo algumas informações essenciais para a eficiência do entendimento.
A distorção também dificulta muito o diálogo. Somos influenciados a todo instante, um exemplo são as famosas fake news. Isso me lembra aquela brincadeira: telefone sem fio. Temos muitas vezes preguiça de pensar e nos tornamos presas muito fáceis para pulverizar ideias sem averiguar a fonte.
A generalização, o senso comum ou o efeito manada. Um controle poderoso da massa humana, posições que são adotadas como verdades absolutas, sem espaço para questionamento, um terreno perigoso onde a única coisa que cresce são as cresças que nos limitam e desconectam.
David Bohm em seu livro “Diálogo – Comunicação e Redes de Convivência” nos convida a pensar e estruturar o diálogo na melhor gestão a fim de minimizar os conflitos:
“É claro que, se pretendemos viver em harmonia com nós mesmos e com a natureza, devemos ser capazes de nos comunicar livremente num movimento criativo, no qual ninguém adere em definitivo às suas ideias nem as defende de maneira radical. Por que é tão difícil, na prática, comunicar-se dessa maneira?”
A comunicação não é algo obvio e culpar a si ou o outro no diálogo como: “você não me entendeu”, “desculpe, eu não fui clara” ou “eu falei errado” não resolve. Quando há um ruído, entendo que a responsabilidade é dos dois lados. Falantes e ouvintes são os guardiões desse corpo que se forma ao estabelecer essa conversa.
Eu vejo o conflito não como um problema, mas uma oportunidade para chegar ao entendimento, aumentando o afeto e a minha experiência de vida. Não estamos totalmente certos nem errados. Aprendo que meu ponto de vista é apenas um ponto, um recorte da minha realidade atual.
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