O que Malcolm X, Sam Cooke, Jim Brown e Muhammad Ali tem em comum? Os quatro eram negros durante a década de 50 e 60 nos EUA e, apesar das adversidades da época, se destacaram cada um em suas áreas de atuação – política e religião, música, esporte e indústria cinematográfica –.
Conectados por suas origens, esses homens protagonizam o filme Uma Noite em Miami, baseado na peça homônima escrita pelo roteirista Kemp Powers (Soul), mostrando o que poderia ter sido tratado no encontro secreto entre o músico Sam Cooke (Leslie Odom Jr), o astro da NFL Jim Brown (Aldis Hodge), o ativista político Malcolm X (Kingsley Ben-Adir) e o boxeador Cassius Clay/Muhammad Ali (Eli Goree) em 25 de fevereiro de 1964, dia em que Clay conquistou o título dos pesos-pesados e estava prestes a se converter para o Islã, enquanto Malcolm entrava em atrito com o líder Elijah Muhammad e na mira do FBI de J. Edgar Hoover e Brown explorava a possibilidade de se tornar ator em Hollywood – o que acabou acontecendo –.
No recém lançamento do Amazon Prime Video, o imaginário de Powers, sob a direção da principiante no papel, Regina King (Watchmen e Se a Rua Beale Falasse) explora a discussão sobre o estado do país nos anos 60 e o futuro da luta pelos direitos civis através das diversas plataformas em que as personagens estavam inseridas.
No longa é basicamente um grande diálogo bem escrito, destacando o conteúdo das falas sem dar importância ao cenário em que estão inseridos. Trazendo um pouco da teatralidade para a tela, King não se dá o trabalho de introduzir a história de cada um, constatando que o público já conhece o quarteto, focando no evento em questão. Para os não americanos, isso pode ser prejudicial.
É interessante pensar no contexto em que o filme foi produzido. Feito durante o governo de Donald Trump, ele vem com um caráter de resistência, ainda mais depois das diversas manifestações ocorridas em 2020 devido a morte de George Floyd por policiais brancos. Com a derrota do republicano nas urnas, Uma Noite em Miami também poderia ecoar como uma celebração de um possível fim de uma era de retrocessos, em paralelo em que a invasão ao Capitólio por apoiadores de Trump acendeu um alerta do que pode estar por vir ainda.
No quesito interpretação nenhum deles realmente se destaca, mas é impossível não ser impactado com o embate entre X e Cooke a respeito de duas formas da luta contra o racismo. Mesmo que não compondo músicas ligadas a causa, o cantor consegue, como aponta Brown, ser o único entre os quatro, a ter liberdade financeira através dos royalties das canções vindo dos brancos.
Enquanto isso, Malcolm, conhecido por suas ações mais incisivas, defende uma abordagem em que a música seja usada como meio de difusão de ideias.
Cotado entre os favoritos para o Oscar 2021, podendo render a King a primeira indicação a uma mulher negra na categoria de melhor direção em 93 anos da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, Uma Noite em Miami é uma obra intimista, elegantemente produzida, reflexiva e necessária no momento em que vivemos.
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Uma Noite em Miami
Relato fictício de uma noite em que Muhammad Ali, Malcolm X, Sam Cooke e Jim Brown se reuniram para discutir seus papéis no movimento pelos direitos civis e na revolução cultural dos anos 60.
PROS
- Premissa interessante
- Diálogos reflexivos
CONS
- Atuações sem destaque
Análise da Avaliação
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Roteiro
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Atuação
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Elenco
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Direção e Equipe
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Som e Trilha Sonora
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Figurino
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Cenários