Em janeiro assistimos a dois atentados contra a vida: a invasão ao Congresso Nacional dos Estados Unidos; e o colapso na saúde de Manaus – AM, onde acabou o oxigênio hospitalar e houve a necessidade de transferência de bebês prematuros para outros estados brasileiros. O primeiro atentado contra a vida das democracias representativas, e o segundo contra a própria vida das pessoas.
Como pano de fundo, um sistema em declínio. O neoliberalismo, que atingiu sua máxima expressão com a globalização no século XX, apostou no mercado como o solucionador dos problemas sociais, nos planos econômicos de austeridade fiscal, na diminuição do estado, nas privatizações e no endividamento externo, vê-se em fragmentação.
Os sinais de colapso se expressam nas atuais crises e nos impactos gerados por elas. Não é novidade dizer que vivemos um tempo de crises. Os dados e fatos demonstram isso. No Brasil, são 14 milhões de pessoas desempregadas, 10 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar grave, projeção de queda no PIB de 5%, mais de 8 milhões de contaminados e de 207 mil mortos pela covid 19, ausência de um plano nacional de vacinação e incertezas na ciência sobre mutações do vírus. Somam-se às crises sanitária e econômica, uma crise ambiental e outra política. Do lado ambiental, o aumento das temperaturas, desflorestamentos, queimadas e outros desastres causados pela ação desenfreada e predatória humana. Do lado político, uma crise representativa que, por meio de grupos radicais ultraconservadores, ameaça nossa democracia e instituições.
Os instrumentos utilizados pelo neoliberalismo para oferecer um horizonte social próspero – o mercado, a globalização, e a ciência – passam por uma série de questionamentos. As atuais crises demonstram que o mercado é incapaz de oferecer uma resposta à sociedade, e o Estado mostra sua importância no âmbito da proteção social e da saúde coletiva. A globalização que se colocava como ideário de modernização, de concretização de sonhos transnacionais e de expansão das oportunidades, já não é capaz de organizar o medo coletivo. A ciência, retratada como força irrefreável, encontra seus limites perante aos desafios de lidar com uma pandemia mundial, ao mesmo tempo em que a desinformação utiliza a linguagem científica.
A conjunção das crises sinaliza um tempo sem perspectiva. Nem a direita, nem a esquerda são capazes de oferecer um norte claro, um horizonte de tempos melhores.
Na medida em que os paradigmas do neoliberalismo são questionados e não se mostram suficientes à sociedade, a população tende a se abrir para novas ideias, discursos e escolhas. Essa abertura receptiva ao novo se encontra no centro da disputa entre grupos progressistas e grupos conservadores radicais.
Ao mesmo tempo que se pode fortalecer discursos conservadores, retrógrados e de cunho fascista – mobilizando a emoção, o medo e a raiva coletiva – grupos progressistas podem encontrar uma janela de oportunidade para oferecer um horizonte preditivo de conservação e aprofundamento dos direitos sociais e das democracias, ao revitalizar o protagonismo do Estado e ressignificar a representação política. No Brasil, a eleição de 2022 responderá sobre qual horizonte a esperança social estará depositada. E você, qual a sua aposta?
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