Por Julio Cargnino*
O Brasil é a grande potência mundial da produção de alimentos. Atualmente, abastecemos mais de 20% da população mundial, segundo informações da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), e nossa missão é garantir o suprimento de comida para um mundo que vai crescer rapidamente até 2050. Para atingir esse feito, o setor agrícola vai precisar de uma grande transformação digital e foco nos setores de tecnologia, capacitação e comunicação.
E o que leva a essa constatação? Hoje, só 30% das propriedades rurais do País possuem banda larga e, apesar de as tecnologias digitais já estarem no campo há um bom tempo, sem conectividade e orientação adequadas elas não geram tantos benefícios. Um estudo do Ministério da Agricultura indica ganho de R$ 80 bilhões na produção agrícola, nos próximos três anos, se o Brasil conseguir levar banda larga para 75% das propriedades rurais.
Será que alcançamos essa meta? As chances são grandes, pois a aprovação do Projeto de Lei 172/2020, no final do ano passado, permite o uso do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (FUST) para financiar projetos de conectividade rural. Desta forma, teremos impulso extra na ampliação do acesso à internet que pode promover mudanças rapidamente já a partir deste ano.
Porém, os desafios vão além de ampliar a cobertura da internet. Vamos precisar também de grandes esforços para a difusão de conhecimento, informação e serviços digitais direcionados ao público rural. Além disso, o perfil do produtor mudou. Ele deseja mais e melhores conteúdos todos os dias e está se habituando a fazer compras por serviços de e-commerce, bem como já resolve muitas demandas técnicas com serviços remotos.
Empresas e entidades do agronegócio, como o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de São Paulo (Senar-SP), vêm investindo em capacitação digital para os produtores e criando ferramentas de comércio. Mais de 1,5 mil AgTechs, startups que democratizam acesso à tecnologia na produção rural, estão apostando em novos serviços e soluções para produzir mais e melhor.
Com relação à difusão de conhecimento e aos novos produtos, o grande desafio é estabelecer uma relação duradoura e de confiança com o público do campo, estando ao lado dele, em diversos momentos de sua jornada.
As perspectivas para 2021 são bastante otimistas. O setor agro estima acelerar sua transformação tecnológica e de comportamento, com crescimento de 12% no volume de produção, de acordo com estimativa do Governo Federal. Esse movimento fará o agronegócio brasileiro ganhar ainda mais relevância no cenário internacional, com boas oportunidades de negócio. Para ir ao encontro desse horizonte favorável é imprescindível vencer os desafios de capacitação e, nesse sentido, conectar as pessoas será cada vez mais fundamental para promover desenvolvimento e ajudar a alimentar o mundo. Quem deseja fazer parte da solução neste desafio precisa agir rápido e entender profundamente a dinâmica deste público.
* Julio Cargnino é presidente do Canal Rural
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